CYBERPLATÔNICO
Neste computador que escreves
Está a essência que almejaste.
Nele também roubo-me o tempo, às vezes,
Para ganhar deste internauta a amizade.
Esta máquina tão fria
Esquenta-me o peito com tanta emoção.
Não te conheço também, mesmo
Sem saber quem és te salvei no meu coração.
Já possuis minha senha e em mim fazes logon.
Invades-me com teus vírus sagrados
E consomes dos meus arquivos
Os desejos armazenados.
Quando tuas tecladas percorrem meus cabos
Meu PC entra em ebulição.
E duas almas tornam-se uma
Nesta prazerosa conexão.
Navegamos em assuntos de dupla intimidade
Com posturas bastante comedidas,
Querendo tocar naquele “papo”
Dizemos “até logo” chorando a nossa partida.
Na tela já deixei o meu batom
Saboreando várias vezes a foto tua
E sonhei, um dia, acordada,
Praticando o que o fato insinua.
Eu clico todos os teus ícones
Acionando um programa só meu
Faço-me toda ferramenta
Esboçando um layout para os desejos teus.
Abri uma pasta secreta
Para os teus recados, mensagens e afins.
Nada do que é teu será deletado,
Seria um ESC dentro de mim.
Para ti estou sempre logada
E por ti arrasto uma @.com
Quando durmo, fico online contigo,
Porque ter amor cyberplatônico
Não passa de sonho, de ilusão.
No meu painel formatei
Uma folha de rosto
Para tornar isto tudo real.
No encontro, apenas referência cruzada.
O fato corre na web, investigado
Pela Polícia Federal.
“É do sexo feminino quem espera F1
Na gaveta do IML.
No rosto, uma página em branco,
De uma navegadora totalmente Explorer
Sem verso, sem nenhuma estrofe,
Encerra-se o poema da design em off.
RITA LAVOYER