Poema classificado no concurso promovido pela Editora E-33. Série Verso e Prosa - Volume 6 - Vozes da Fé.
OUSADIA
POÉTICA - Rita de Cássia Zuim Lavoyer
Aos pés de uma Figueira
seca e condenada,
alguém lhe declamou
palavras benditas.
Renasceu. Em florada
frutos saudáveis ela prometeu,
desfazendo-se, assim,
de sua sorte maldita.
Adiante passou o Cuidador
das plantações,
trazendo consigo alguns
semeadores.
À vista da Figueira
florida bradaram:
Blasfêmia promovida ao
Senhor dos plantadores!
- Adianta-te quem esta
Figueira salvou.
Pronuncia-te quem
reverteu o processo qu’EU fiz!
Não serás por Nós acusado.
Quero saber quem ousou
contrariar-Me e o que
usou, mudando-lhe o cariz.
- Ensinaste-me,
Cuidador, o Teu dom. Feria-me ver esta
Figueira sozinha. Intuí
que pudesse salvá-la.
Aprendi que nas
palavras há beleza que acalma, que cura...
Lapidei as embrutecidas
qu’eu tinha. Economizei minha fala.
Quando as vi em minha
lavra, brilhando, qual joia rara,
confiei que as luzes
delas pudessem ser, para a vida, abertura.
Semeei nesta árvore,
com minha voz, as melhores palavras
que tinha,
arrebatando-a de sua morte, de sua amargura.
Se a vês vistosa, com
flores caindo em cachos
e seus frutos a
forrarem o chão, confesso-Te: Isto eu queria!
Salvemos outras
igualmente secas com as palavras que
soubermos usar.
Valorizei as minhas! Brotou em mim poesia.
Sabe, Cuidador das
Plantações, a Poesia revive, sem alarme,
corpos em letargia.
Abranda desassossegos das senzalas...
Qual recurso usei
aqui? Extraí das palavras as essências.
Se há as que
ressuscitam, Senhor, as minhas vou semeá-las.
Aprendi: posso ser
poeta! Não vou, nesta feita, calar-me.
O que fora retrato de
morte hoje é vida, é sonho e é sombreira!
Queres apresentação
melhor? Esta imagem não é uma?
Vê! Inflama alegria o
que seria matéria para fogueira.
Para esta Figueira,
outrora seca, há tantas comparações...
Palavras me habitam e
cogitam, sem castigos, outras formas de amar.
Há milagres nelas, se
as lapidarmos com fé melhorarão feições!
Descobri, Senhor, que as
que matam, o Poeta usa-as para salvar!
Se compreenderes que há
salvação na Poesia,
chamar-me-ás, por
antonomásia, Poeta:
aquele que na desordem
do tempo põe harmonia,
evitando com beleza a eutanásia do Planeta.
Contrariei-Te? Usei da
Palavra a alma, não quis à Figueira o mal.
Ousei! Mas, na
qualidade de Teu discípulo, Mestre,
se argumentos tiveres
contra o meu excesso de fé,
submeter-me-ei a Ti,
condenado pela Tua palavra final!
- Não penses, Poeta,
que a Mim contrariaste, semeando esperança.
Com tuas palavras
torna-te, pois, do Poema do mundo um verso.
Provas, nesta feita,
que és do Criador Imagem e Semelhança.
Foi Ele que, com Palavras,
construiu a Maior Poesia: o Universo.