Há anos acordei com o galo cantando. Lembremo-nos de que os galos de antigamente
cantavam bem antes das 5h. Há algum
tempo acordo com o despertador e confesso: o barulho infernal que ele faz compromete
meu relógio biológico. Um dia acordarei mais tarde do que acordo hoje mas...
como ainda não posso, vou aproveitar
este espaço para expor um problema que me incomoda muito.
Desde quando a minha mãe ia à escola, o sino, pelas mãos
de uma servente – era assim que a chamavam- era badalado rigorosamente às 7h,
ela diz. Naquela época dormia-se bem mais cedo que hoje, havia algumas razões -
não muitas- de as crianças acordarem
junto com os pais que iam retirar o leite.
Com a modernidade os galos dormem mais tarde, porque além da televisão, que não
havia no início do século passado, eles têm
celular e no galinheiro também tem WiFi, por isso os galos não têm
cantado antes das 5h, porque eles dormem tão tarde quanto nós e nossas
crianças. Responda “presente” quem vai dormir às 21, 22h todos os dias? Sei
que não, tornamos os dias atuais mais longos
e ,com isso, adultos e crianças
vêm perdendo quase duas horas, ou mais, de sono por noite se levarmos em conta
que temos que acordar às 6h da manhã, porque professores e alunos devem entrar em
aula às 7h.
Há séculos submetem as crianças e professores a esse
horário escolar. Acontecem tantas mudanças nas grades curriculares, que julgam necessárias para melhorar a
educação, e não mudam o horário de entrada das crianças e professores que
estudam e lecionam no período da manhã.
Mandar as crianças às 7h para a escola tem melhorado em
quê a educação do Brasil? Acho que esse
horário torna-se ilógico para a atualidade. Como tenho filha em idade escolar e
cobro-lhe produtividade, não levantaria essa polêmica para incentivar-lhe a
preguiça. Jamais!
Se aquela realidade do passado escolar já não se enquadra
à nossa -
porque o mundo mudou e os alunos também -, por que continuar acordando pais e filhos às
6h? Às 6h59 professores e alunos chegam exausto nas salas de aula. Salvo aqueles que
são hiper-humanos. No horário de verão a situação piora. Com esse impacto, desde
a primeira aula que se inicia às 7h10, o rendimento já fica comprometido às 11h30,
quanto mais às 12h40.
Se nesta contemporaneidade tentamos nos adequar a toda
transformação, por que os dirigentes escolares e envolvidos com a Educação ainda não abriram discussões com
professores, pais e alunos para conversarem e entenderem as necessidades de se
alterar o horário de entrada de alunos, professores e funcionários nas escolas,
no matutino?
Há décadas pesquisas comprovam que sono de qualidade é fundamental para a
aprendizagem, porque consolida memórias e estimula nossa cognição, como também
há outras pesquisas, com entrevistas de especialistas, sobre a ineficácia de se
iniciar as aulas às 7h da manhã. Tendo interesse, pesquise que encontrará materiais excelentes abordando o assunto.
E
questiono novamente: por que as escolas continuam ignorando essas pesquisas e
insistem em iniciar as aulas às 7h? Qual
vantagem a escola leva, ou repassa aos professores e alunos com isso? Quais
desvantagens escolas, professores, pais
e alunos acumulariam diminuindo uma hora de aula por dia?
Sei que muitos dirão que as minhas
questões não passam de manobra política para acabar com a educação no Brasil. Pasmem!
Até respeito essa opinião se ela surgir,
mas como não trabalho para políticos e assino sozinha este texto, sei que não é
o horário de entrada nas escolas, às 7h,
que vai
melhorar a imagem do Brasil no ranking mundial de educação.
Sabemos que “acordar cedo” atribui a
quem acorda cedo um valor moral na sociedade e de que o adolescente já deva se
preparar para o horário de quando estiver no mercado de trabalhador. Porém o
assunto aqui é a vida do estudante, do professor e a produtividade escolar. Por
que a maioria dos trabalhadores entram às 8, 9h nos empregos e professores e
alunos devem entrar às 7h?
Quem pensa educação deveria estudar as
possibilidades de as aulas começarem às 8h, porque não se dorme antes das 23h
hoje em dia e essa reorganização de tempo será fundamental para melhorar o
aprendizado dos nossos alunos.
Como o assunto é extenso e deve ser
discutido à exaustão, registro que jamais daria minha opinião para prejudicar o
trabalho dos professores, tampouco para diminuir o ordenado deles. Jamais. Se a
carga horária escolar diminuir em uma hora, creio, sem prejuízo ao ensino-aprendizagem,
que dos professores não lhes sejam retirados nenhum benefício, nem na folha de
pagamento, nem na sua contagem para
aposentadoria.
O assunto está em aberto. Estou
disposta a aprendizagem. Que neurologistas, pedagogos, psicopedagogos,
psicólogos, professores, pais, alunos e profissionais envolvidos no saudável
desenvolvimento humano me corrijam, para que eu entenda de vez as razões pelas
quais essa mudança de horário não seja possível.
Acham que acarretaria prejuízo à educação
brasileira que, há anos, nos quesitos que medem o desenvolvimento dos alunos,
vem ocupando as últimas classificações?
Se concordarem, pelo menos em parte
comigo, que juntemos nossas opiniões, para que novas discussões surjam a
respeito, em benefício dos nossos professores, alunos, sem prejuízo para o
aprendizado dos nossos filhos.
E que fique bem claro que se um dia
essa proposta for aceita e passar a vigorar, que uma hora a menos de aula não
seja diminuída no salário dos professores que, sei na pele, utilizam-se de suas
noites, varando madrugadas para prepararem suas aulas, corrigirem suas provas e
depois, quem sabe, pegarem no sono para acordarem às 6h da manhã e voltarem
para a labuta.
