CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS LITERÁRIOS

PREMIAÇÕES LITERÁRIAS

2007 - 1ª colocada no Concurso de poesia "Osmair Zanardi", promovido pela Academia Araçatubense de Letras, com a poesia O FILME;

2010 - Menção Honrosa no Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto A CARTA;

2012 - 2ª classificada no Concurso Internacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto O BEIJO DA SERPENTE;

2012 - 7ª colocado no concurso de blogs promovido pela Cia dos Blogueiros - Araçatuba-SP;

2014 - tEXTO selecionado pela UBE para ser publicado no Jornal O Escritor- edição 136 - 08/2014- A FLOR DE BRONZE //; 2014 – Menção honrosa Concurso Internacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto LEITE QUENTE COM AÇÚCAR;

2015 – Menção honrosa no V Concurso Nacional de Contos cidade de Lins, com o conto MARCAS INDELÉVEIS;

2015 - PRIMEIRA CLASSIFICADA no 26º Concurso Nacional de Contos Paulo Leminski, Toledo-PR, com o conto SOB A TERRA SECA DOS TEUS OLHOS;

2015 - Recebeu voto de aplausos pela Câmara Municipal de Araçatuba;

2016 – 2ª classificada no Concurso Nacional de contos Cidade de Araçatuba com o conto A ANTAGONISTA DO SUJEITO INDETERMINADO;

2016 - classificada no X CLIPP - concurso literário de Presidente Prudente Ruth Campos, categoria poesia, com o poema AS TUAS MÃOS.

2016 - 3ª classificada na AFEMIL- Concurso Nacional de crônicas da Academia Feminina Mineira de Letras, com a crônica PLANETA MULHER;

2012 - Recebeu o troféu Odete Costa na categoria Literatura

2017 - Recebeu o troféu Odete Costa na categoria Literatura

2017 - 13ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de abril de microconto Escambau;

2017 - Classificada no 7º Concurso de microconto de humor de Piracicaba.

2017 - 24ª classificada no TOP 35, na 2ª semana de outubro de microconto Escambau;

2017 - 15ª classificada no TOP 35, na 3ª semana de outubro de microconto Escambau;

2017 - 1ª classificada no concurso de Poesia "Osmair Zanardi", promovido pela Academia Araçatubense de Letras, com a poesia PERMITA-SE;

2017 - 11ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de outubro de microconto Escambau;

2018 - 24ª classificada no TOP 35, na 3ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - Menção honrosa na 4ª edição da Revista Inversos, maio/ com o tema Crianças da África - Poesia classificada BORBOLETAS AFRICANAS ;

2018 - 31ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - 32ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - 5ª classificada no TOP 7, na 1ª semana de junho de microconto Escambau;

2018 - 32ª classificada no TOP 35, na 3ª semana - VII de junho de microconto Escambau;

2019 - Classificada para antologia de suspense -segundo semestre - da Editora Jogo de Palavras, com o texto OLHO PARA O GATO ;

2019 - Menção honrosa no 32º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba-SP, com o conto REFLEXOS DO SILÊNCIO;

2020 - 29ª classificada no TOP 35, na 4ª semana - VIII de Prêmio Microconto Escambau;

2020 - Menção honrosa no 1º Concurso Internacional de Literatura Infantil da Revista Inversos, com o poema sobre bullying: SUPERE-SE;

2020 - Classificada no Concurso de Poesias Revista Tremembé, com o poema: QUANDO A SENHORA VELHICE VIER ME VISITAR;

2020 - 3ª Classificada no III Concurso de Contos de Lins-SP, com o conto DIÁLOGO ENTRE DUAS RAZÕES;

2020 - 2ª Classificada no Concurso de crônicas da Academia Mogicruzense de História Artes e Letras (AMHAL), com a crônica COZINHA DE MEMÓRIA

CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS

  • 2021 - Selecionada para a 6ª edição da revista SerEsta - A VIDA E OBRA DE MANUEL BANDEIRA , com o texto INILUDÍVEL ;
  • 2021 Selecionada para a 7ª edição da revista SerEsta - A VIDA E A OBRA DE CECÍLIA MEIRELES com o texto MEU ROSTO, MINHA CARA;
  • 2021 - Classificada no 56º FEMUP - com a poesia PREPARO A POESIA;
  • 2021 - Classificada na 7ª ed. da Revista Ecos da Palavra, com o poema CUEIROS ;
  • 2021 - Classificada na 8ª ed. da Revista Ecos da palavra, cujo tema foi "O tempo e a saudade são na verdade um relógio". Poema classificado LIBERTE O TEMPO;
  • 2022 - Classificada no 1º Concurso Nacional de Marchinhas de Carnaval de Araçatuba, com as Marchinhas EU LEIO e PÉ DE PITOMBA;
  • 2022 - Menção honrosa na 8ª edição da Revista SerEsta, a vida e obra de Carlos Drummond de Andrade , com o texto DIABO DE SETE FACES;
  • 2022 - Classificada na 10ª ed. Revista Ecos da Palavra, tema mulher e mãe, com o texto PLANETA MULHER;
  • 2022 - Classificada na 20ª ed. Revista Inversos, tema: A situação do afrodescendente no Brasil, com o texto PARA PAGAR O QUE NÃO DEVO;
  • 2022 - Classificada na 12ª ed. Revista Ecos da Palavra, tema Café, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2022 - selecionada para 1ª antologia de Prosa Poética, pela Editora Persona, com o texto A FLOR DE BRONZE;
  • 2022 - Selecionada para 13ª edição da Revista Ecos da Palavra, tema MAR, com o poema MAR EM BRAILLE;
  • 2022 - Classificada para 2ª edição da Revista Mar de Lá, com o tema Mar, com o poema MAR EM BRAILLE;
  • 2022 - Classificada para 3ª Ed. da Revista Mar de Lá com o microconto UM HOMEM BEM RESOLVIDO;
  • 2022- Classificada com menção honrosa no 34º Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto O CORTEJO DA MARIA ROSA;
  • 2022- Classificada pela Editora Persona com o conto policial QUEM É A LETRA L;
  • 2022 - Classificada no Concurso da E-33 Editora, Série Verso e Prosa, Vol.2 Tema Vozes da Esperança, com o poema POR ONDE ANDAS, ESPERANÇA? ;
  • 2023 - Classificada na 15ª edição da Revista Literária ECOS da Palavra, com o poema VENTO;
  • 2023 - Classificada para coletânea de poetas brasileiros pela Editora Persona, com o poema CUEIROS;
  • 2023- Selecionada na 23ª ed. da revista Literária Inversos com tema "Valores Femininos e a relevância do empoderamento e do respeito da mulher na sociedade contemporânea", com o poema ISSO É MULHER;
  • 2023 - Classificada no Concurso de Contos de Humor, Editora Persona, com o conto O PÃO QUE O QUINZIM AMASSOU;
  • 2023 - Classificada no Concurso de Poesias Metafísica do Eu, Editora Persona, com o poema QUERO OLHOS ;
  • 2023 - Selecionada pra a 11ª Edição da Revista SerEsta, A vida e obra de Paulo Leminsk, com o poema EL BIGODON DE CURITIBA ;
  • 2023 - Classificada no 1º concurso de poesia do Jornal Maria Quitéria- BA, com o tema " Mãe, um verso de amor", com o poema UM MINUTO DE SILÊNCIO À ESSAS MULHERES MÃES;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol. 4, tema Vozes da Solidão, editora E-33, com a crônica A MÃE;
  • 2023 - Selecionada para a 9ª ed. da Revista Mar de Lá, como poema O POETA E A AGULHA;
  • 2023 - Classificada no concurso de Prosa Poética , Editora Persona, com o texto QUERO DANÇAR UMA MÚSICA CONTIGO;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.5, tema Vozes do Sertão, editora E-33, com o poema IMAGEM DE OUTRORA;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.6, tema FÉ, Editora E-33, com o poema OUSADIA POÉTICA;
  • 2023 - CLASSIFICADA para a Antologia Embalos Literários, Editora Persona, com o conto SEM AVISAR;
  • 2023 - Classificada na 18ª edição da Revista Literária ECOS da Palavra, com o poema FLORES, com o poema O PODER DA ROSINHA;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.7, tema AMIZADE, Editora E-33, com o poema AMIZADE SINCERA;
  • 2023 - Classificada em 8ª posição no Prêmio Castro Alves, na 33ª ed. Concurso de Poesia com temática Espírita, com o poema SOLIDARIEDADE;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.8, Vozes da Liberdade, tema , Editora E-33, com o poema REVOADA;
  • 2023 - Classificada para a Antologia Desejos profundos - coletânea de textos eróticos , Editora Persona, com o poema AGASALHA-ME;
  • 2023 - Classificada para antologia Roteiros Adaptados 2023 - coletânea de textos baseados em filmes, Editora Persona, com o texto BARBIE, UMA BONECA UTILITÁRIA;
  • 2023 - PRIMEIRO LUGAR no Concurso , edital 003/2023 - Literatura - seleção de projetos inéditos, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba, com o livro infantojuvenil DENGOSO, O MOSQUITINHO ANTI-HERÓI;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea Cronistas Contemporâneo, pela Editora Persona, com o texto A CONSTRUÇÃO DE UMA PERSONAGEM;
  • 2024 - Classificada para 19ª edição da Revista Literária Ecos da Palavra, com o poema A PASSARINHA;
  • 2024 - Classificada para a 13ª edição da Revista Mar de Lá, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea "Um samba no pé, uma caneta na mão", tema carnaval, pela Editora Persona, com o poema DEIXA A VIDA TE LEVAR;
  • 2024 - Selecionada para compor a coletânea "Revisitando o Passado", promovido pelo Projeto Apparere, com a crônica COZINHA DE MEMÓRIA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea de Poetas Brasileiros,2024, Editora Persona, com o poema IMAGEM DE OUTRORA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Antologia JOGOS DO AMOR, promovida pela Revista Conexão Literária, com o tema O jogo do amor, poema classificado: TENHO MEDO;
  • 2024- Selecionada para 20ª ed. da Revista Literária Ecos da Palavra, com o tema INFÂNCIA, com o poema DEBAIXO DE UMA LARANJEIRA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea SOB OSSOS E SERPENTES, da Tribus Editorial, com o conto, com 9.999 caracteres, O BEIJO DA SERPENTE,
  • 2024 - Selecionada para a 21ª Edição da Revista Literária Ecos da Palavra, com o poema REVOADAS;
  • 2024 - Selecionada para a Coletânea de poemas Intimistas Existencialistas, com o tema A Arte do Eu, promovido pela Editor Persona, com o poema GOTAS DA CHUVA ;
  • 2024 - Selecionada para compor a antologia NÓS , textos de autoria feminina pela SELO OFF FLIP, com a crônica MULHER, FONTE DA ÁGUA;
  • 2024 - Classificada na 27ª Edição do Concurso da Revista Literária Inversos, com o tema "Culinária Típica da Festa de São João", promovido pela Academia de Letras e Artes de Feira de Santana (ALAFS) e Academia Metropolitana de Letras e Artes, com o poema SEU ZEQUINHA NO SÃO JOÃO DO NORDESTE;
  • 2024 - Classificada no concurso Literário MEMÓRIAS DE AFETO, promovido pela Lítero Editorial, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2024 - Selecionada para compor a 22ª edição da Revista Ecos da Palavra , temática Animais, com o texto ORAÇÃO DOS BICHINHOS ;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea de Microconto-2024, promovido pela Editora Persona, com o microconto ROSTO;
  • 2024 - Selecionada para compor a coletânea A POESIA SUBIU O MORRO, promovido pela Editora A Arte da Palavra, com o poema PERMITA-SE;
  • 2024 - Classificada para compor a Edição 23 da Revista Ecos da Palavra, com o poema QUANDO EU SENTIR;

sábado, 21 de novembro de 2020

DIÁLOGO ENTRE DUAS RAZÕES

 CONTO CLASSIFICADO EM 3º LUGAR , NO III         CONCURSO DE CONTOS DE LINS-SP, 2020

DIÁLOGO ENTRE DUAS RAZÕES

João, como tantos Joões, foi para cidade grande. Lá viveria suas razões –  como dizia seu finado avô – quando o rapazinho deixou a roça. O moço passou por experiências que jamais conheceria se não tivesse saído de lá, de Lins.  Morador de república, colchão fino, cobertor ralo, sopa fraca, dores, frustrações e saudade foram a base do seu desenvolvimento. Também conheceu a farra, a bebedeira, as moças fogosas e decepcionou-se com amigos traidores. Suportou a solidão. Muitas vezes pensou em desistir. Mas não podia!  Estudou com afinco para honrar o suor que a família produzia nas lavouras de café, para estudá-lo. Não andarilhou sobre seus resultados.

Com diploma e consultório formado, João entende de tudo um pouco. Mas sua especialidade é tratar os corações, dos outros. E por mais que se tente resumir a história de um homem ela acaba sempre mal narrada, porque é só mesmo o dono da história que sabe da sua verdade. E nessas histórias de coração é bom que se tome tento, porque há uns que mais apanham por fora do que batem por dentro.

 Hoje, um paciente – um molecote –  sem pedir licença, adentrou o consultório do João, querendo ser consultado.  Num misto de sensações e o coração acelerado, sem saber se ria ou chorava, o doutor levou o dedo indicador sobre o nariz e empurrou seus óculos, sempre caídos, para perto de seus olhos. Podendo enxergar melhor, de repente viu-se saindo de si, parindo um tempo cheirando à placenta da lembrança.

 Olhou num gesto sonhado aquele menino que há muito acomodou no esquecimento e o garoto, olhando nos olhos do médico, mostrou um sorriso meio banguelo, meio cariado, até ranho de nariz o ressurgido inventou de trazer daquele pedaço de tempo e adiantou-se, num tom que ele nunca ouvira, que a razão de ele estar ali era grave. Que doutor tomasse providência, porque o menino, que saiu lá da roça para ter um dedo de prosa com o homem, ali mesmo enfartaria se não dissesse a que veio. Mas que se acomodasse bem, porque, corrigiu-se: não era prosa miúda, não!

O homem apoiou os cotovelos sobre a mesa, depois as mãos, deixando cair sua cabeça sobre elas e um silêncio perturbador rompeu-se com a voz que lhe chegava ao coração.

“ Seu doutor! Seu doutor! ”  E o homem se arrepiou.  Nunca aquela voz o havia tocado com tanta bondade nas nervuras do seu tempo. Pensou: Veio me buscar!

O assombro espetava a um mais do que ao outro e um misto de emoções fez aqueles ambientes internos buscarem entendimentos para as razões necessárias de um período entre o passado e o presente que ambos experimentaram.  Era ilusão de febre, daquela que arde os olhos e faz cegar as verdades explícitas. Era! Não era!

Quanto mais se negava, mais concordava e vice-versa.  Com a razão compactada, achou por bem extraviar a visão de perto e poder enxergar mais longe, bem lá atrás, de onde o menino ressurgiu, para poder se equilibrar.

– Pois não, menino, em que lhe posso ser útil? Diga-me, porque aqui, neste consultório, sou-lhe um serviçal. 

“Seu doutor, eu venho aqui pra contar sobre minha moléstia.  Dá remédio pr’aquietá meu peito. Bota a danada quietinha no seu lugar”

– Farei de tudo para ajudá-lo. Conte-me sobre ela e por que me procurou? 

“ Doutor, quero viver minh’meninice. Eu era filho do campo, mas dizia pros pais que da vila eu tinha qui ser. Oh, saudade!  Agora descobri: tenho sangue caipira e não consigo iscondê!”

– Deixe-me ver se o entendi:  há algo que você tentou esconder? É essa a “moléstia” que o está matando?

“Isso mesmo, doutor!  Nasci pra sê do mato, mas precisava aprendê  lê e iscrevê.   Botei as traia  na mala, peguei o trem na estação, deixei lá minha mãe aos prantos e vim pra cidade grande  istudá e arranjá trabalho ...

– Mas, amigo, quem lhe disse que você nasceu para ser do mato? Quando veio para a cidade isso não lhe alegrava o coração? 

“Ô, doutor, eu simplesmente aconteci no mato. Vir pra cidade grande alegrava sim, senhor! Tratei de arrumá a vida, enfrentei a faculdade e a solidão brotou em mim.  Virei gente com condição e senti qu’era mais eu.”

– Mas, amigo, quando diz que “ senti qu’era mais eu”, não acha que foi um encontro que o amigo teve consigo diante dos percalços pelos quais passou para chegar onde chegou?

“Doutor, aquele poder qu’eu tinha de dizer ‘qu’era mais eu’, um dia foi se acabando. Olha dentro de mim, doutor, enxergue a saudade aqui nesse meu peito, qu’é um abismo! ”

– Amigo, acho que a sua “moléstia” chama-se nostalgia.

“ Num sei se é ou se num é. Mas se for, o doutor tem razão. Onde nasci tinha vida pra criança, diferente dessa cidade pra gente grande. Tinha um corguim manso, sereno e de águas cristalinas que meu avô chamava de Brumadinho, as águas dele usaram pro meu batismo, lá na Igreja de São João Bosco. “João Bosco”. Nome que minha mãe adorava e com ele me registrou.   Meu avô desviô o curso d’água pra regá sua plantação. Dali, ela escorria farta e movia o minjolo que beirava a porta da nossa casinha - mei de talba, mei de tijolo -, qu’o meu painho fez. ”

Ecoaram-lhe os sons das gotas d’água que escapavam do monjolo e bailavam no ar, respingando em seus olhos, escorrendo-lhe na face...

– O que o amigo me descreve é uma cena bonita de uma infância saudável, aquela que nos enche o peito de saudade...

“ E num é, doutor! Naquela engenhoca eu via pilá o milho, descascá o café. Era uma alegria danada. De madrugadinha nóis tava tudo de pé. Comia pão assado na lenha, com mantêga batida na garrafa, rapadura... O leite saía mornim das tetas das vacas. Oh, quanta doçura...”

– Ai, que delícia! Lembro-me desses dias. Você tem razão! Aquela manteiga batida na garrafa, passada na fatia de pão quentinho, com chá de erva-doce que a vovó fazia...

Os olhos do doutor pareciam que iam verter lágrimas. Se afligiu. No íntimo perguntava-se como se permitiu romper esses elos. Sentiu que pegaria atalho contrário, obrigando-o a adiamentos. Foi forte, regressou à consulta para não assustar seu paciente naquela ocasião.

“ Ah, o doutor sabe qui dá vontade de chorá. Mas escuta minha história: Meu pai ordenhava na minha caneca... Eita, diacho! Fazia um monte de espuma! ”

– Eu sei! Às vezes, ele punha conhaque, não é mesmo?  

 “ Isso mesmo! Às veiz ele ponhava conhaque pra miorá aquela delícia! Pra me sentir um home feito, fazia da espuma do leite meu bigode. Hum... e o aroma das pururucas de porco que minha mãe fazia no tacho perfuma até hoje a minha lembrança. ”

– Nossa, e como perfuma!  Comer aquele torresminho espremido, com arroz feito na banha não tinha preço. O dinheiro que tenho hoje não paga aquele carinho da minha mãe, tão preocupada com as unhas dos meus pés que viviam inflamadas de tanto eu andar nos brejos.

“Ah, doutor! Tá vendo só! Tem remédio pra gente vivê algo mió? ”

– No nosso caso não tem não, menino! Não tem, não!

“Então, agora, doutor, o senhor vai ouvi a minha história sem me interrompê. ”

Doutor João Bosco abaixou a cabeça e sabia que ia chorar. Mas inverteu a conversa, porque era o menino consultado que precisava escutar.

– Menino, escuta como foi: trabalhei muito para ser o que sou. Trilhei caminhos cansados.  Casei-me com a mulher que eu amava, esposa formada, bonita que me ajudou a crescer na vida. Minha missão foi traçada, não inventada. Hoje, estou aqui, neste tempo veterano, falando das minhas agonias. Dei de encostar meus pensamentos na aurora da minha infância e dizer-lhe bom dia. Mas ela não me responde!

“Eu compreendo, doutor. Nesses anos todo, senti a nossa distância. ”

– Sentiu a nossa distância? Será qu’aurora envelheceu como eu? Será que perdeu a identidade também?  Oh, verdade doída, menino! Pensa que é só você que tem coração?

“Não, doutor. Sei que o seu coração dói um pouco mais que o meu, porque o senhor estudou, conhece coração por dentro. Mas qué sabê?  Quando eu olho pra mim vejo aquelas formiguinhas ligeiras carregando as foias pros seus formigueros, nas raízes das nossas mangueras. Era um vaivém de formigas que deixava meus zóios zonzos. Eu sei que ocê matava um punhado delas quando deitava embaixo dos pés de frutas que sombreavam o quintal e, oiando o sol vazando entre as foias, ouvia o equilíbrio dos cantos dos pássaros. Mas dava um sono danado de bom, sô! ”

– Você tem razão, moleque danado!  Depois de almoçar aquela fartura que mamãe preparava, ia brincar debaixo das mangueiras e ali mesmo eu adormecia. Esse tipo de árvore não vejo em cidades grandes... que fartura de vida que eu tive! Ali, eu tirava uma pestana até mamãe me chamar para o café da tarde. De novo a gente comia. Batata doce e milho assados. Queijo com doce de leite, broa de fubá com café coado na hora... E a gente comia o dia inteiro sem medo “dingordá” – rindo muito – porque a fartura era grande demais, num “pudia disperdiçá”.

 E continuou rindo. Doutor divertia-se e divagava enquanto conversava com o menino.

“É… mas agora o senhor é doutor. Tem que mandá seus pacientes manerá na comida, fazê  exercícios em academia, porque a vida estressante da cidade grande é mesmo de matá.”

– Verdade. Lá na nossa infância, era fartura de gente dentro da gente, de alegria dentro de casa, de natureza rodeando a vida, de bichos que meu avô e meu pai criavam e eu via crescer. Era fartura demais e hoje me pergunto o que fiz para merecer toda aquela natureza e, depois, numas estações longas da minha vida não quis me lembrar daquilo!  Rompi o elo com essa parte da minha história.

E o menino foi chegando, acomodando-se no homem.

“Pois é, Joãozinho! O senhor tá entendendo qual é minha moléstia? ”

– Sim, meu amigo. Eu compreendo as suas razões, sentindo a sua moléstia. Para consolo aprendi que ficar lembrando da infância não dava para sustentar a minha família que também precisava viver. E fui me esquecendo de mim, menino... Esqueci-me da minha história e dos meus pais que nem tempo de falar sobre eles aos meus filhos eu tive. Esqueci-me de que nem chorei quando meu melhor amigo, o Tição, morreu picado de cobra sem dar nenhum latido.

“É, doutor!  Era o Tição, seu cachorro, que protegia o terreno enquanto você armava as arapucas. ”

– Ele não recebeu de mim uma lágrima, uma oração... Ai que dor!! Ai que saudade!! Ai que vontade de reviver aquelas rodas de violas que meu avô juntava com os amigos no terreiro em noite de luar, pra mostrar o quanto ele era bom repentista e que ninguém consegui ganhar dele. Dos causos que contavam noite adentro, enquanto vovó fritava bolinhos e servia bules e bules de café, das famílias que pisaram aquela terra virgem e abriram matas fechadas e da riqueza da fauna e da flora que a natureza oferecia, das mudanças dos nomes da vila, de Douradinho para Campestre, de Campestre para Santo Antônio do Campestre,  para Albuquerque Lins e, finalmente Lins. Falavam dos índios e da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e de suas gentes.  Lembro-me das procissões na Matriz de Santo Antônio, o padroeiro da cidade, e de quando eu chorava vendo o Cristo morto pregado na cruz... Lembro-me da dona Iracema Paccola, amiga da mamãe, que doou a imagem de Nossa Senhora de Fátima, como cumprimento de uma promessa. Que história mais bonita! Mamãe sempre contava que no momento da coroação da imagem, um menino soltou uma pombinha, ela pousou na mão do bispo e depois foi pousar na cabeça da Eunice Zagretti, a menina que coroava a imagem. Emocionado, o pai dela doou um terreno de sua propriedade para construção do Santuário.  Padre Kondó era só agradecimentos! Ah, reviver as lembranças acaba que um padre puxa outro e me veio à memória o padre Eduardo Rebouças.  Baixinho e combativo, fanático pelo time Linense de Futebol, orgulhava-se do pai que era rábula, nos velhos tempos. Muito culto, dono de uma vasta biblioteca, professor de filosofia. Excelente pregador, devoto de Maria. Sofreu um acidente de carro, que teve perda total e os amigos fizeram rifa para que conseguisse comprar outro. E não é que o danado comprou um carro zerinho e ainda ficou com dinheiro no bolso?  Hei! Vai me deixar falando sozinho, moleque?

“ Não, senhor! Ouvindo essas histórias, parece que vejo o professor José Pereira Calças – a fonte do saber linense.  Pelo amor de Deus, doutor, ajuda esse menino que morre com o peso da saudade que emborca dos meus imborná. Lembra daquele imborná cheinho de mamona,  que usava no seu estilingue feito com gaio da goiabeira, para acertar passarim?” 

  – Menino, não me lembre desse crime!

  “Que crime? Alguém te ensinou que matá passarim era crime? E tentá matá o menino que um dia você foi, escondendo ele lá no passado, é crime? ”

  – Amigo, formei-me doutor. Com tantos estudos e aprendizados tenho o dever de refutar violências de todos os tipos. Hoje tenho muito dinheiro. Posso pagá-lo, você aceita me ouvir?

“Carece pagar nada pra mim, não, senhor! ”

– Vou confessar-lhe a minha “moléstia”.  Agora, nesta minha velhice, um passarinho daquela minha infância linense deu de azucrinar meus ouvidos e canta em mim iguarzim   cantava lá, no quintal da minha meninice.

“Iguarzim a mim também. ”

– Escuta, amigo. Outro dia, peguei meu carro e voltei àquele lugar, prometendo-me matar a saudade que explodia em meu peito. Mais morto voltei de lá, quando vi que as terras do meu avô e do meu pai viraram uma vila toda murada com casas de luxo, sobrados e a porteira fechada para estranho não poder entrar. Um lado virou condomínio fechado, outra plantação de cana. Aquela Lins de outrora cresceu, virou cidade grande.  Acho que por isso um pássaro de lá, querendo achar seu ninho, veio pousar em mim.  Ai, menino, acho que aqui quem precisa de consulta sou eu. Lembrei-me do meu pai, que me botava no colo e dizia qu’aquilo tudo era pr’eu   continuar tocando...  Eu, seu único herdeiro, depois da morte dos velhos, passei aquela fartura adiante. Não me havia tempo para o passado...  Confesso, sobrevivi, não tenho do que me queixar.

“ Doutor, como viver sua meninice se pra chegar onde chegou, aquela história precisou abandoná?”

  Ah, João Bosco, tome um remédio que cure esta saudade que o senhor sente de você. Meus filhos botaram motor nas asas e minha companheira faleceu. Vou pegar minhas traia de volta, fechar esse consultório, deixar o receituário, me aposentar. Reviver em Lins, num cantinho onde eu possa fazer meu ninho e o meu pássaro poder viver.  Comprar um pedacinho de terra onde tenha boa aguada e fazer ali meu santuário. Sob uma árvore que exista, dizer bom dia à aurora e, se ela quiser me responder, digo-lhe: voltei e quem está aqui é um filho linense, trazendo no colo o meu menino, com botina e calção de fundilho puído, para brincar no quintal de terra batida e, juntos, continuarmos felizes o tempo que me restar nesta vida.

“ E o menino encontrou o remédio pra sua moléstia, doutor?!”

– Encontrou, menino. Acho bom você vir comigo, porque não posso abandoná-lo.  Mas já vou lhe dizendo: se um dia este doutor sentir dor, vai ter que aprender a agir, porque, agora, é você que tem que aprender a curar.  

“Doutor, não sou menino precipitado, esperei você se fazer o que é.  Não renegarei seus estudos, seu status de doutor, seu prestígio, suas teses defendidas, suas culturas adquiridas e sua fama no campo da medicina. ”

– Tá bom. Vou me dar a oportunidade de reviver meu menino outra vez. Doutor João, acho que encontrei a cura da minha moléstia: menino, caipira e doutor eu uni.  Tô satisfeito!  Que a minha decisão este novo homem consagre. E é com tudo que eu sou que eu saberei viver.  Isso não é remédio, doutor.  Consegui salvar meu menino, isso é milagre!  Que meus filhos possam, na Cidade das Escolas, me visitar e, se um dia me trouxerem netos, tomara, eles possam experimentar um pouco da natureza de lá.  Vou cultivar pequena lavoura, molhar meus pés no riacho, plantar uma mangueira para me sentar debaixo dela e tirar uma pestana depois do almoço. Quando for necessário, pegar meu carrinho e vir pra capital passear. Foi lá que nasci e lá pretendo continuar vivendo. Não deixarei de ser doutor. Serei eu e meu menino no momento em que um do outro precisar. 

E depois desta consulta entre suas razões, doutor João Bosco reestabeleceu o elo com sua história.  Curou-se no menino que ele consultou, para reviver em sua companhia, no futuro que ele escolheu: lá, num cantinho de Lins, onde um pássaro recanta outrora.

 

 

 

Rita de Cássia Zuim Lavoyer

terça-feira, 10 de novembro de 2020

QUANDO A SENHORA VELHICE VIER ME VISITAR

 Poema com o qual me classifiquei no Concurso de Poesias Revista Tremembé, Outubro/2020

Quando a Senhora Velhice vier me visitar


* Rita Lavoyer

Estou preparando meu terreno

para quando a senhora Velhice vier me visitar.

Caso eu esteja viva, vindo ela bater-me

à porta, permitirei que  entre.

Quem sabe formaremos par...

Eu a conduzirei por todos os recantos dos meus tempos:

(nos amplos que ela encontre minhas histórias,

nos estreitos que ela reconheça minhas faces),

permitindo a esta Senhora que os tempos sinta,

e queira com minhas fases conviver.

Colocarei tapetes em minha sala de estar

para lhe dar a melhor acolhida.

Sorvendo um café passado naquele agora,

conversaremos, enlevadas, por horas...

Nesta minha sala, deixarei que ela reconheça 

nos porta-retratos,  sobre os móveis,

e nos quadros pendurados nas paredes,

as pessoas de outrora, com expressões imóveis.

Acho que a senhora Velhice reconhecerá

todos os meus queridos:

meus pais, meus sogros, meu esposo, meus filhos,

meus netos e, nosso xodó de hoje: meu bisnetinho.

Estou preparando o meu terreno para quando

a senhora Velhice chegar para uma visita.

Não quero ser pega de surpresa.

Por isso, preparo minha sala...

Amacio meus estofados e...

Se eu estiver viva até lá,

(a senhora Velhice chegará, certamente!)

 serei gentil com ela, tão juntas, tão imersas,

seremos como irmãs siamesas.

Se ela quiser eu a levarei comigo aos encontros

que já agendei para... enquanto estiver viva.

Porém, se ela não quiser me acompanhar,

coloco-a para dormir, com carinho,

porque lhe tenho respeito.

Mas não ficarei para lhe fazer companhia,

pois tenho muito que aproveitar

antes que a senhora Velhice, ao partir, queira me levar ...