Maria tinha por João um amor que o envaidecia. João tinha por Maria, repulsa. Mas precisava do amor que ela lhe tinha pra manter viva a chama da sua vaidade.
E agora, Maria? Você esteve na fila do João. Chegou a sua vez. Você entrou na roda, Maria. Agora rodopie.
Para a Maria, era o João na terra e o João no céu. Não havia meio termo entre as duas divindades. Ou lhe era o João, ou lhe era o João.
A ginástica desumana que a Maria fazia, no palco do João, a fez equilibrista. Aí, a Maria, de um trampolim ao outro, rodopiava para elevá-lo às alturas.
João a olhava, mas não a via. Não havia uma forma de a Maria penetrar-lhe a armadura.
Hei, João! Por que teve que se tornar assim?
Maria rodopiava, rodopiava e num dos seus gestos, foi o seu equilíbrio quem rodopiou e , no chão, Maria ficou.
E agora, Maria? O seu equilíbrio findou-se.
Perdeu a razão e ao João ela gritou.
Por que teve que gritar, Maria? Ficasse calada. Mas quis entrar na roda. E agora, Maria? Por falta de pena, caiu feito bigorna.
Deitava no chão, a Maria se viu.
E agora, mulher? Seus pulos acabaram. O que fará sem a luz do João?
Você tem nome, Maria. Não deixe que dele zombem. Você é os meu versos, Maria. Se ame, proteste, agora, Maria! É mulher com discurso e carinho pra dar.
Que bebam, que fumem, que cuspam, Maria, mas no João e não em você.
Você lhe foi noite e foi dia, Maria. Mas o bonde dele já passou. Não corra atrás, é utopia.
Ele acabou, ele fugiu, ele mofou, o João!
E agora, Maria? Está sem palavras? Não fale agora, espere a febre do jejum acabar. Existe outra porta, Maria. A chave está com você. Abra a sua biblioteca, leia-se. Se na leitura encontrar-se com o João em terno de vidro, arme-se com o seu ouro e quebre-o. O João é pura incoerência.
E depois?
Erga os seus joelhos desconjuntados, Maria!
Abra a sua porta, corra para o mar e grite, e gema, e toque uma valsa para dançar em sintonia com a nova realidade, sem o João.
E agora, Maria? Ação! Porque amor não se conjuga, ele é a culpa do pecado, é nome errado da certidão do mundo.
Você não, Maria!
Você tem nome, Maria. Honre-o.
O João? Não é nada, Maria! Por isso, não lhe daremos nome algum, Maria. Deixe-o a mercê da própria roda, Maria. A fila dele, Maria, ainda está grande, Maria, e cheia de gente sem nome, Maria, para servi-lo, Maria.
Autora – Rita Lavoyer
3 comentários:
Olá Rita. Navegando pela blogosfera, encontrei o seu blog. Ainda não o conhecia. Parabéns! Visite a minha página, espero suas idéias e opiniões. Um grande abraço!
Intertextualidade magnífica. Parabéns!
Paulo
Esse João é realmente muito bom! Merece mesmo uma Maria. Na primeira leitura eu o achei mau! Quando li a continuação do texto acho mesmo que ele merece a Maria.
A senhora é cruel, eim.
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