Coluna "Mulheres" Jornal Folha da Região 18/03/2009
Olhando-te de frente, estremece o meu ser. No alto da cabeça, a grinalda. Cachos refletindo ouro adornam a testa que aparenta pele recém-nascida. O róseo da tua face orna com o carmim dos lábios que oferece sorriso farto deixando à mostra a perfeição da arcada dentária.
Teu semblante traduz uma calma olímpica e majestosa que impressiona quem, despreparado, à fita. Duas esmeraldas. Assim são os teus olhos. Deles posso extrair o brilho que falta em muitas. Quantas de nós, pobres mortais, gostaríamos de igualar ao teu perfil sutil e esguio.
O pescoço, ornado em pérolas, traz abaixo um colo em viço de mocidade. Os teus seios, muito bem desenhados, revelam uma virgem que ainda não despiu a égide. Teus braços perfeitos e firmes são inspiração escultural a profissionais da arte reflexiva. Deus, que mulher é esta?
És fina, logo vejo. A delicadeza dos teus dedos entrelaçados ao buquê não me deixa enganar.
As curvas do teu corpo revelam uma riqueza policroma. És, pois, uma matéria preciosa que traz conservada uma tradição idólatra primeva, ostentando-nos.
Nada em ti a deprecia, és a perfeição da arte.
Afeita que fiquei, consegui vê-la nua e, na transgressão das minhas vistas descobri coxas cobre com o púbis todo fios em ouro. Descendo o meu pudor, decalquei-me em teus joelhos roliços. As tuas variedades e radiações decoram o ambiente, já, todo templo, com a tua presença. Deus, que deusa é esta?
Na beleza que transmites faço-te inteira santa na dormência dos meus olhos.
Por quê não falas ? Queria ouvir a tua voz. Certamente és de veludo a soar-me aos tímpanos.
Não te fora dado um trono, oh mulher! Estas ereta e sobre os pés sustentas a tua beleza. Então? Não trazes nenhum epigrama consignado do teu poeta, ou ele te fora roubado? Com os meus olhos bem ao chão e já cansados de beleza, vomitei a tua imagem a quem me mantinha presa. Já que Deus não me deu resposta eu a busquei dentro de mim. Se somos eu e Ele tão afins: corpo, alma e semelhança, como Ele, também me crio.
Descobri quem és tu, pois me achei no meu espelho e você não me reflete.
Não és nada, oh estátua! Não passas de um esboço talhado em ateliê por instrumentos de um profissional. A tua plástica é a inconformação geral de muitas humanas. Na passagem por tua revista me vi quase iludida. A fotografia que me mostras é a realidade que te cabes? Pois digo-te que sim. Da maquiagem que te engloba não darias boa esposa. És noiva a seduzir o frívolo em castelo de areia. Se fosses de verdade trarias outra expressão.
Mulher de corpo frio em casca de pedra, és a imagem projetada de um homem que assim a quer para poder expô-la. És tola. Se caíres e rachares ficarás somente em pó. Produto que é muito fino não há cola que o conserte. Melhor juntar os cacos e jogá-los fora.
Em suma: Tua beleza desenhada não serve pra coisa alguma.
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