Coluna "Mulheres" Jornal Folha da Região - 10/03/2009
Diz uma lenda que a pessoa que joga no bicho e ganha naquela jogada tem tudo a ver com a espécie em que apostou. Eu nunca ouvi nada mais verdadeiro.
Todos os dias essa mulher jogava na ‘anta’ e acertava. Mas o prêmio era pouco e ela só veio a enriquecer quando acertou com a perereca. Aí o negócio começou a render, mas a coisa vai ficando gasta e precisa investir na renovação do bicho.
Ela aprendeu, depois do Kama, que as horas não são mais importantes e, sim, os momentos delas. Este livro a fez urrar de forma diferente. Por quê? Sabe aquelas dúvidas que não se atrevem a chegar perto do pensamento da gente por conta disso ou daquilo? Sempre foi assim com essa mulher em relação ao Kama Sutra. A gente, às vezes, se acha suficiente, mas quando um assunto, como o nome desse livro, por exemplo, invadiu-a, notou que já estava na hora de amadurecer e partir pra cima do problema. Fugir até quando? Aquela pererequinha já não estava lhe rendendo muita coisa, se muitos jogam no mesmo bicho, quando ganham têm que rachar e o prêmio acaba sendo melhor do que o valor da aposta.
Encarou-o de frente. Foi atrás para saber a razão dessa tal Kama é escrita com “K”, se todas as camas que conhece são escritas com “c”. Comprou o livro. Pensou: “vou descobrir o significado, dentro deve haver uma explicação”.
_ Barbaridade! – ela disse. Que livro caro.
Tudo bem. Foi abri-lo somente quando chegou em casa. No quarto, olhando cada página ( e o marido na cama), não achava uma explicação para o “K”, Está certo que ela é meio lesa e ceguinha, mas estava com os óculos na ocasião da leitura. . Com o livro aberto, foi caminhando ao encontro da cama ( e o marido) e investiu de boca.
Obs: Há escritores que possuem os seus leitores, como eu escrevo só de quando em quando, vou chamar Leitinho com ‘L’ quem ler o meu texto. Você, agora, é meu Leitinho.
Havia se esquecido que a cama, com “c” tem pés. Leitinho! Foi ali mesmo que ela ficou. Boca no chão e a unha do dedão do pé quebrada. Urrou! Urrou como nunca havia urrado antes. Não tinha marido que a segurava e folhas do tal Kama voavam pra todo canto.
Oh, momento triste! Seus óculos, ela os achou, no dia seguinte, debaixo da cama com “c”. Leitinho, do dedão escorria o que ela nem tinha vontade de ver.
De dedão pro ar, foi como ela dormiu durante muitas noites, travesseiros sob o pé para acalentar o inchaço. A unha, até hoje, está em ponto de misericórdia. Rachou até o talo. Não pode nem calçar os seus sapatinhos de anta. Eles não acolhem o seu dedãozinho machucado. Tudo por causa desse tal de Kama, que ela nem quer mais saber por qual razão se escreve com 'K' .
Também, não vamos tentar explicar porque, uma anta que compra um livro pra dar valor à perereca não merece Leitinho.
Quando ela melhorar, aposto que vai começar a investir no sapo.
imagem: espelhomeuuemohlepse.blogspot.com
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