Coluna "Mulheres" Jornal Folha da Região 24/03/2009
Se o meu marido fosse um advogado, eu o faria meu processo e defenderia todas as suas causas. Se ele fosse um agrônomo, me faria inteira terra para germinar todos os seus sonhos. Digitador põe os dedos nas teclinhas de uma máquina que computa, esse caso não pede rima, mas seria uma esposa de boa conduta.
O meu marido, se fosse eletricista, receberia minhas energias dia e noite, noite e dia. Com fazendeiro eu faria um belo par. Multiplicaria seus hectares só para eu poder cuidar.
O garçom estaria bem servido comigo em bandeja, mas veja se fosse um hagiógrafo eu seria a única santa de toda a sua historia. De um industrial eu seria a matéria esposa da sua linha de produção. Se eu fosse mulher de jornalista, arrancaria o couro dele e viveria sendo notícia. Do jardineiro eu seria sua flor, ele me daria o seu adubo, eu, a ele, o meu amor.
Leiteiro é ofício sério, com ele não podemos brincar, por isso lhe tenho respeito. Trabalha com as mãos no lugar certo para o amor amamentar. Com um médico, assumiria o compromisso de estar sempre sarada para quando chegar cansado, encontrar nos meus braços a sua morada.
Com professor seria bem divertido aprendermos, juntos, as lições da vida. Do pedreiro, eu seria os seus tijolos edificando-lhe a construção. Se eu fosse mulher de policial, treinaríamos todos os dias para ele nunca errar o alvo e o nosso amor estaria a salvo.
Radialista ou repórter os dois também convêm, eu seria seus microfones para, de mim, só falarem bem. Sorveteiro? Nossa! Seria uma graça porque eu gosto mesmo é de sorvete de massa. Tesoureiro, tintureiro até do vaqueiro eu seria boa esposa, mas, por Deus, Nossa Senhora, cruz em credo e Virgem Maria não me castigue nem um dia ser mulher de pescador. Pegar em minhoca fina, mole e muito suja não faz parte do meu pudor. Se a coisa está molhada fica ainda bem pior. Não se sabe se é roxa ou rosa e ainda mais, ter que matar o bicho enfiando-o em um anzol? Deus, de pescador, não! Não me deixe, não me deixe ver minhoca mole morrendo na boca de peixe.
Mas fico mesmo é com o meu marido que não me dá trabalho, mas trabalha sem parar. Por causa disso, compus este bolero para, com ele, poder dançar.
O BOLERO DA MULHER AMADA
Eu sei que tu me amas, eu sei que tu me queres
Eu sei também o quanto tu me chamas de mulheres
Mulheres que não sei...
Mulheres que não vi...
Mulheres que com você a nossa cama dividi...
Me tomas em teus braços,
minhas pernas em tuas pernas
Um pequeno rodopio...
Um pra lá, outro pra cá...
Nossos rostos bem juntinhos...
Ai... que vontade de abraçar.
Você é o meu pronome tu e ele
Nós também, me conjugue
Te conjugo da forma que nos convêm
Me aperta e transforma esta aqui em qualquer outra...
E se eu falar demais cale-te em minha boca.
Pegues este corpo e o leve ao nosso ninho
E para me revelar ofereças belo vinho
Que desvenda a verdade e também me ensina ver
Mulheres maravilhosas que te enchem de prazer.
Essas mulheres tão amadas que eu fiz por merecer
Tu e ele me ensinaste a ser para você.
Te expresso tão errado, mas eu sei que você gosta
É você e tudo teu que me faz mulher composta.
Tires de mim a preferida, aquela mais prazenteira,
Pra dançar, beber e amar com ela a noite inteira.
As mulheres que eu sou, vocês as compuseram
Com talentos tão reais. O meu marido, o meu amante
ou genro da minha mãe , no termo que lhes compete
vocês são profissionais.
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Mulher, lustre mais o teu coroa. Nele, ainda há muito brilho capaz de te fazer rainha.
Um comentário:
Adoramos o jogo de palavras neste texto, é de uma criatividade exuberante.
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