Hoje, você acordou linda, fique na berlinda; continue assim até que nada se finde.
Hoje, rasque sua roupa, hoje ria bem alto, pise na grama, chupe a areia. Hoje, seja uma dama, uma camélia, uma Amélia, seja sereia. Seja mulher e exale teu cheiro. Seja mulher e gaste dinheiro. Você não o tem? Então faça de conta, não pague as contas, pegue a camisola e rasgue-a inteira, pendure o chinelo, saia do castelo de vidro em que está. Saia daí, corra na rua. Passe perfume, você é tão bela, você é mulher.
Que coisa! Não fique assim. Tão triste, amuada. Seja a patroa, ou a empregada, enfim sorria pra mim. Você é mulher, quer coisa melhor do que ser mulher?
Ah?! Queria ser homem, então tá!
Vá trabalhar, pegue na graxa, conserte sapatos, carpe o quintal. Suba na laje, lave a caixa d’agua. Ande sobre o muro como uma gata borralheira. Mas salte com classe! Não vá cair do lado de lá, você é mais bela do lado de cá.
Mulher! Cheirosa e gostosa, você é o estopim da bomba com creme. Você é mulher, goste de ser. Coma um brigadeiro, um padeiro ou um leiteiro, mas coma os com todo o prazer. Depois vá malhar pra ficar mais sarada e, já toda suada, faça serenata de pernas pro ar. Mulher, fogosa e esperta, todos os meses teu relógio a desperta dizendo: Eu sou o teu ciclo, sou menstruação.
Massageie os teus peitos diariamente e não deixe de fazer o Papanicolau. O teu útero é sagrado, é a fonte da vida e o exame a previne contra um vírus fatal. Tire o sutiã, deixe os seios de encontro ao vento. A idade que tem é você quem registra. Pra se ter emoção não requer certidão.
Ah, mulher! No seu balanguandã ninguém mete a colher. Se é adotiva ou , então, se adotou, agora não importa de onde saiu ou para aonde entrou. Sempre viva, assim deve estar. Você é o alicerce, a parede e o pilar, mas abra o telhado, precisa pensar.
Mulher, amiga de classe, de profissão ou virtual. Regozije-se em tua doutrina de mulher fatal que a vida só agradece. Seja herege aos itens contrários que o mundo fará, pra você, uma prece.
Lave, passe, cozinhe e varra o chão. Que mal há fazer essas coisas, você é mulher ofereça o ‘bom’ a quem você ama, tenha coragem de fugir aos padrões que exigem que vá trabalhar na rua. Mas o que é isso? A vida é tua, ser dona-de-casa é uma honra, ser dona dela, melhor ainda. Tenha coragem de ser você. Faça como eu que lavo, passo e cozinho, leciono, escrevo e leio porque tenho um nome a zelar. O meu nome é Rita Lavoyer.
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