“Prestígio de pai”, seria esse o título deste texto, mas quando cheguei ao final resolvi mudá-lo. Há sempre tempo de voltar atrás.
Quando eu era criança, o chocolate prestígio vinha embrulhado em forma de bala. Ter aquele doce em minhas mãos e poder levá-lo à boca, conseguindo tirar o primeiro pedaço dele, seria a glória àquela Rita criança. Mas só vinha um.
Quando a minha irmã via o meu pai chegando, corria até ele e ganhava uma barra desse chocolate. À minha mãe ele trazia um pacote com barras de doce-de-leite e paçoquinha. Se eu lhe pedisse, ela me daria um pedaço, mas não gosto desses doces. Eu queria aquele. Eu o via sendo desembalado nas mãos da minha irmã, ela tirava uma pontinha e me dava. Eu não entendia por que ele trazia doces à minha mãe se já eram separados. Talvez quisesse voltar...
Acho que alguma vez eu comprei uma barra desse chocolate, não me recordo. Num dia de muita fome, disso eu me lembro, eu desejei demais alguma coisa para comer acompanhada desse doce.
Quando o meu filho já tinha idade de pedir ao pai saírem para comprar “alguma coisa”, chega a ser cômico dizer isso, mas eu agradeço sempre e o ensino a agradecer também, acabei contando ao meu marido essa minha passagem. A partir de então eu passei, quase todos os dias, a comer um prestígio. Eles sempre vêm correndo me entregar (agora são dois filhos). Mas o de hoje não tem a mesma embalagem daquele que eu queria que o meu pai me entregasse.
Um dia, observei que aquelas bolinhas douradas no papel, que me fascinavam, são cocos divididos ao meio. Como demorei a ver isso...
O meu marido dá aos filhos e a mim todos os prestígios que ele alcança, pena minha mãe não ter tido a mesma graça. Os doces dela encerram-se muito cedo, por muito tempo experimentou o amargo fardo deixado por meu pai, que nunca voltou atrás para perguntar se os filhos ou ela precisavam de algo.
Escrevendo este texto, compreendi que o meu pai só dava o doce à minha irmã, porque era ela quem corria aos braços dele, eu não. Não gostava do cheiro ardente que ele trazia. E concluí que, trazia apenas um porque o pouco dinheiro que ele tinha, investia mais em doces para a minha mãe. Tenho certeza que ele sempre pensou que o doce era igualmente repartido entre as filhas. Ele nunca soube da desigualdade.
Vivi pouco com ele para poder reclamar. Não atribuo a ele nenhuma culpa, afinal de contas, minha mãe soube muito bem cumprir o papel que cabia a ele e a ela. E olhe que naquela época mulher separada do marido não ganhava bom nome. Tinha que permanecer com ele, ainda que o fdp dormisse o dia inteiro sobre um sofá e a cobrança batendo à porta. Os cocos dourados ela carregou sozinha. Esse prestígio ela não dividiu com ninguém afinal, ninguém queria um pedaço, ainda que fosse uma pontinha.
Hoje, sei que ele é um anjo porque se arrependeu, nos pediu perdão e partiu sabendo que nós o amávamos, ainda que ausente.
Obrigada mãe, por manter viva a figura do meu pai, cujo prestígio maior foi ver os filhos criados sem ter feito nenhum esforço.
Como o todo do meu coco é composto da fortaleza da minha mãe e das galhofas do meu pai, tento tirar proveito do que há de melhor desse interior. Como diz o ditado: “Espremendo, sai caldinho”.
A todas as mães que como a minha criou sozinha os filho: O MEU MAIS SINCERO PARABÉNS AO DIA DOS PAIS.
Rita de Cássia Zuim Lavoyer
6 comentários:
olá rita
sou blogueira de araçatuba tambem
vc acha que rola este encontro de blogueiros dia 20?
meus blogs:
coisadelilly.wordpress.com
blogdareforma.wordpress.com
O Rita, fala pra lilly que vai rolar sim, o encontro de blogueiros; de qualquer forma será uma primeira experiência e que pode dar certo se a tchurma prestigiar...ah sim, é pra levar a cerveaja...
oi Rita, sua crônica trouxe , tenho certeza, a imagem da sua mãe tão dedicada fazendo o papel de mãe e pai.Nos trouxe o perfil do seu pai, q ainda q não muito presente , deixou antes de sua partida a virtude mais abençoada que um ser humano pode ter: a humildade .a honradez de pedir perdão.Um filme desliza aos nossos olhos através de suas palavras.Adorei.Parabéns.
Po, adoro esta poesia...um dia ainda a recito em algum lugar e vou fazer gente chorar.Juro.
Existem marcas que nossos pais deixam
E nos surpreende a saudade que temos destes momentos,
Ora com carinho, outra como aprendizado.
Grande texto, grande mãe. Parabéns à escritora e à genitora.
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