Pai, hoje, observando-o, vejo seu semblante cansado e, nos seus cabelos brancos sei que há muito de mim.
Pai, por que não me olhou?
Quero abrir um parêntese no período em que eu me afastei da minha própria vida, azedando-me o fruto.
Olhe-me pai, a partir do momento em que eu era apenas uma criança e que o senhor nos surrava, a mim e aos meus irmãos, porque fazíamos xixi na cama. Sabia que o senhor achava que nos corrigiria. Hoje, aprendi a me limpar sozinho e entendi: “que não devemos desprezar nenhum desses pequeninos...”
Olhe-me pai, a partir do momento em que eu já comia sozinho, e o senhor nos reunia nos momentos das refeições, nos ensinava a rezar olhando os alimentos que o senhor insistia em dizer ter trazido para nos alimentar. E batia novamente quando eu dizia que não gostava daquilo que estava servido. Hoje, aprendi a orar e entendi: “que nem só de pão vive o homem”
Olhe-me pai, a partir do momento em que saíamos em família com roupas novas, o senhor sempre foi zeloso com a nossa aparência, mas não podíamos brincar, porque tínhamos que voltar para casa limpos. Sabia que o senhor queria conservar o tecido. Hoje, aprendi a agradecer e entendi: “Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”
Olhe-me, pai, a partir do momento em que o medo que eu sentia do senhor me dominava, e eu corria para os braços da minha mãe para não apanhar mais e mais quando eu, brincando com os meus irmão, bagunçava a casa que o senhor exigia que mamãe sempre mantivesse em ordem. Hoje, aprendi a caminhar e entendi o verdadeiro: “Vinde a mim...”
Olhe-me, pai, a partir do momento em que virei moço, e que o senhor nem se dava conta dos horários que eu chegava em casa. Sabia que o senhor estava cansado porque dobrava o seu turno no trabalho, e ninguém podia fazer barulho, tínhamos que conservar o silêncio. Hoje, aprendi que há momentos sagrados e entendi que: “Havia muitos que iam e vinham e não tinham tempo para comer.”
Olhe-me, pai, a partir do momento em que eu me divertia com colegas, que o senhor sequer sabia quem eram e nem a quais famílias pertenciam. Eu sei, pai, que o senhor se preocupava demais somente com o que se passava dentro da sua casa. Hoje, aprendi a me resguardar e entendi o que significa: “Guardai-vos dos cães.”
Entenda, pai, que o parêntese aberto em um período que deveria ter sido a minha vida, mas que eu deixei de viver por conta de tantos vícios, não foram fáceis. Não me viciei porque quis.
Pai, sou fruto da sua árvore. Aves de rapina consumiam-me debaixo da sua sombra, e o senhor não percebia que uma fruta sua apodrecia pendurada em seus galhos? Hoje eu o vejo e me entendo: “Por seus frutos os conhecereis”
Pai, por que não me olhou?
Na rua me formei delinquente quando já não achava razões para voltar para o hospício silencioso que o senhor chamava de casa.
Mas hoje, pai, estamos unidos novamente. Eu, nesse monólogo íntimo, o observo sentindo uma vontade imensa de abraçá-lo e de pedir-lhe perdão por tê-lo feito sofrer dentro do parêntese que eu abri num momento da minha vida. Pai, os meus irmãos são bons frutos. Creio que também sou.
Pai, tanto quanto o senhor, eu possuo dois ombros; escolha um e me ofereça um outro seu. Ambos, pai, precisamos chorar.
Porque eu entendi alguma coisa do que o meu pai me ensinava: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”
_ Pai, eu te amo. Posso abraçá-lo e, mais um pouquinho, sentir a sua sombra?
As árvores da vida são sempre boas embora, enquanto jardineiros, as maltratamos. Até que nenhuma ciência prove o contrário, os frutos delas também são.
Rita Lavoyer
4 comentários:
As vezes só sentimos a importância das regras, quando estamos perdidos. Julgamos nossos pais, entretanto, nos mostram o caminho.
A vida segue nos ciclos.
Bjs.
li este artigo ontem na folha da região e vi uma coisa que ninguem fala: quem pratica o bullying o faz impunemente e os pais não fazem nada para deter isso!
os pais tem uma parcela enorme de culpa, pois devem detectar na linguagem do filho se ele participa da ação com alguem
se o filho chega dizendo: HJ ZOARAM COM UM MENINO"
a obrigação do pai/ mãe é dizer:
-zoaram como?
-quem zoou?
-vc estava perto?
-vc participou?
-vc gostaria eu fizessem o mesmo com vc?
e aproveitar pra falar muito sobre esta pratica onde a criança mais forte/ influente acaba com a vontade da outra criança de frequentar as aulas, de se relacionar e até de viver.
as consequiencias são serias e graves e MUITAS ESCOLAS NÃO FAZEM NADA, NEM CHAMAM OS ALUNOS AGRESSORES PARA EXPLICAR A GRAVIDADE DA AÇÃO!!!
o certo é: chamar agressores e seus pais e explicar o que vem sendo feito.
em seguida uma palestra PARA A CLASSE DA PESSOA ATINGIDA COM DINAMICA DE GRUPO, TRABALHO, PESQUISAS.
não sou psicologa anem professora.
sou MAE e tia, madrinha...e tenho sobrinha sendo assediada.
isso me atinge muito.
a escola nada faz e as crianças caluniadoras continuam na pratica abusiva propagando mentiras a respeito de uma menina de 11 anos, que nem despertou para namoros.
contra ela apenas a raiva dela ser uma das primeiras da classe, de ser timida e quieta.
bullying me assusta e revolta.
continue escrevendo mais sobre isso.
abs
lilian
Ninguém é o "mocinho da fita",
Sempre temos os "pais" que
Merecemos ou
Necessitamos.
As escolhas são sempre nossas!
Temos sim, muito o que agradecer.
Começando pelos nossos pais, onde os meus
-eu os amo muito- com o melhor que eles puderam ou conseguiram me dar.
Olá Rita,
gostei muito dos seus posts sobre o Bullying, e vim aqui dizer que eu tenho um blog somente sobre isso, e que tenho projetos de campanhas contra isso, por favor, peço que leia meu blog. http://bullying-not.blogspot.com/
Obrigada pela atenção desde já.
Sarah L. D. Gonçalves
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