O polo de atração das tuas notas me envolve e eu posso sentir os teus toques, as tuas mãos, os teus afagos que me tocam e me imantam, para que eu gire em rodopios ao compasso da tua batuta.
Quero dançar uma musica contigo. Como quero!
Se me vieres, como que cavalgando, e me tirares para a dança, nossos corpos levemente bailarão num salão iluminado pelas cores da aurora. Isto agrada-me muito.
Quero tocar-te quando, com ritmos ardentes, cingires minha cintura.
Não te alcanço nos bailados. Cada passo teu, marcado no meu piso, ecoa teu cheiro, teu gosto, teu gesto. Entre eles deliro, pois.
Quero dançar uma música contigo. Como quero!
Coloco-me sobre o espelho e bailo até que se finde a leitura das nossas cordas. Terminado o teu acorde, acordo e dou-me corda novamente, e fico a bailar, até que se feche esta caixa de desejos que sinto de dançar uma música contigo. Como quero!
Estarei na vitrine expondo a minha dança, até que alguém me compre e te presenteie comigo. Quando me abrires, penetres meus volteios. Bailemos sobre a superfície do vidro, e se da tua valsa eu estiver embriagada, como no relâmpago de um sequestro, esconda-me no compartimento das minhas jóias. Refugia-te no lago da minha aliança, para que o teu cisne regozije-se da umidade do meu palco.
Se a platéia, gritando blasfêmias, separar-nos antes que se finde a melodia, fecha a cortina do nosso espetáculo, volta aos braços dela, altera os teus passos, tua cadência, teu som. Comemora com ela a tua apoteose.
As cores se apagarão, o compartimento se escurecerá e, no crepúsculo, os flashes se acenderão sobre o desejo cicatrizado da bailarina que dançou delírios e continua exposta na vitrine, esperando que outros me comprem e te presenteie comigo, para eu dançar uma música contigo.
Rita Lavoyer
4 comentários:
"...e a orquestra tocou uma valsa , dolente, tomei-te os braços, ambos dançamos...pra despertar teu ciume, tentei flertar
alguém...mas tudo foi um sonho, acordei"
Pura música, Rita. Show de sensibilidade, neste texto e em todo o blog. Um abração.
Sonhos... Quem não os teem?
Danço mal, Rita. Mas gostaria de conduzir-te num grande salão, em Viena, numa valsa de Strauss. Elegantes, nós dois!
Sonhos...
O jorge pode dançar mal, como diz mas sabe sonhar, o danado.
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