Helbergarda morria de medo do além túmulo. Desesperada por saber que iria conhecê-lo em qualquer época, matou-se.
Sempre trouxe a dúvida do por que um pulso cortado levava à morte e um braço amputado não.
Enlouquecia ao ver o seu corpo, sem as mãos, sendo maquiado para repousar eterno na urna.
Seus olhos arregalados não eram vistos, nem ouvidos. Agonizava-se para dizer, silenciosamente, o seu medo naquela morava para sempre.
Coroas chegavam. O vigário recusou-se a benzer o corpo.
Helbergarda foi... vendo... Viu-se enterrada. O medo por estar ali a consumia inteira.
Tamanho desespero fez mover os seus braços sem mãos. Com os ‘toquinhos’ que lhe sobraram batia na tampa do caixão, trancado pelo lado de fora, fazendo-se ouvir na câmara ao lado.
_ Hei! Quem está ai? Aquiete o seu espírito. Pare de fazer barulho que eu preciso descansar em paz.
O medo por ouvir a reclamação do vizinho morto, ao lado, fez o líquido paralisado daquele corpo de Helbergarda correr freneticamente.
Esquecendo-se das boas maneiras, dentro da urna Helbergarda urinou.
_ Hei! Vizinho novato, morreu do quê?
Sua condição piorou quando percebeu-se tratada no masculino. Esquecida, correu com suas mãos até o seu sexo, não o alcançou, não as tinha. Os seus braços mutilados chegavam até a altura do umbigo. Gemeu não saber mais sua identidade.
Aterrorizada, depois da pergunta do vizinho, não houve como controlar os agitos do seu corpo. Helbergarda tremia debaixo da terra.
_ Quer parar de chacoalhar aí, seu engraçadinho! Pare agora! Senão vou até ai e te mato!
O medo de Helbergarda tornou-se atômico, ao ponto de ela explodir.
Seu corpo, num súbito, esparramou-se no espaço, levando consigo todo o material que a envolvia, enquanto a sua alma moribunda encolhia-se na cova, tentando agarrar-se aos vermes.
7 comentários:
Minha amada, idolatrada e perfumada amiga....que dizer? Vc agora descambou pro sobrenatural. Ao olho ,masculino ou verbo , que até hoje me esquenta a cabeça junta-se aa alemazonha ai....com esse nome só pode seralemã. Olha, a diferença entre corte e amputação é que nessa, há a suturação dos vasos sanguímeos. Naquele, a hemorragia mata.
Mas aqui entre nós: a fulana morreu foi tarde. Vai se especializar nesse tipo de literatura? Vai? Cruuuuzzzesss!!!!
Rita, minha querida Rita!
Quem é esta mulher, perdão, quem era? Eu também conheci, quase ficamos noivos.
Mas quando ela deu para falar em morte o dia inteiro, fugi pro Rio de Janeiro e ainda estou inteiro.
Carinho,
Jorge
Caros amigos, é muito divertido lê-los, acreditem. Os comentários de vocês complementam o texto, tornando-o interessante.
Antigamente, as crianças me pediam bolinhos, convidavam-me para brincar com elas quando entravam de férias. Agora pedem textos malucos. Que virada!
Atendo-os, com o maior prazer.
Obrigada pelo carinho. Adoro vocês.
Professora Rita, adorei seu texto. Primeiro pela qualidade literária de sempre. Segundo que, como espírita, sei que este é o retrato do sofrimento das pobres almas que que enveredam pela triste opção de tirar a própria vida. Parabéns mesmo. Dani.
que horror
Demais, Rita. Mórbido, irônico e engraçado ao mesmo tempo. Parabéns por mais esta lavra impagável!
Eita, com seu talento, pra que vamos deixar os mortos em paz...
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