Rita Lavoyer - Texto publicado neste blog em 02/03/2011
Imagem da internet
Helicopter parents ou "pais helicópteros”, é o nome que os pais superprotetores ganharam nos Estados Unidos. Ficam sobre a cria tal qual fêmea chocadeira. Com uma diferença: os animais libertam os seus para ganharem a vida, sobreviverem por si mesmos.
Pais que apresentam esse perfil não sabem os danos que causam aos filhos. Tiram-lhes o direito de conquistar o seu lugar, primeiramente dentro da própria casa, depois fora dela. É notório que o mundo apresenta-nos perigos, como drogas, sequestros, assaltos e outros, mas tolher a criança de andar com as próprias pernas é impedir que adquira autoconfiança, autoestima. Criança superprotegida não apresenta autonomia, não sabe fazer escolhas, não sabe o que deseja, não sabe ir e vir sem que os pais lhe indiquem o que fazer e como fazer.
Os superprotetores “alegam” querer o melhor para o seu filho. O melhor para o filho: é não vê-lo caindo, porque pode fazer um corte; não vê-lo molhado, porque pode se resfriar; não vê-lo subindo, porque não saberá descer se não estiverem por perto.
O melhor para um filho cujos pais são ‘helicópteros’ é que fique quietinho, que não saia da casca, porque os pais são ansiosos, inseguros, e se descobrirem as aptidões do filho poderão não aceitá-las, ficarão estressados por não saberem lidar com o potencial que o próprio filho apresenta.
Logo, pais superprotetores são os que subestimam a capacidade psicomotora e social do próprio filho, e excedem os cuidados sobre ele por não acreditarem na própria capacidade que têm de educar.
Assisti, recentemente, pais dando entrevistas, tentando explicar as razões de seus filhos estudarem em casa e não nas escolas (já têm pais brigando na justiça por isso). Um deles me surpreendeu dizendo que na escola seus filhos estariam envolvidos com crianças diferentes com as quais eles não pediram para conviver.
Tal qual Chronos (mitologia) há pais engolindo os filhos para que vivenciem uma falsa “Idade de Ouro” ou para não perderem o ‘posto’ de pais. Colocar os filhos numa redoma não os protege das investidas da vida. Uma criança demasiadamente protegida é insegura e não há como negar essa verdade. Em um grupo correrá o risco da exclusão, não porque o grupo deseja excluí-la, mas porque ela não apresentará condições de relacionamento da forma que precisa.
Quantos pais, por não acreditarem no potencial de seus filhos, fabricam vítimas e depois culpam os meios que eles frequentam por não os respeitarem. Na condição de rejeitada, a criança se volta, primeiramente, contra os próprios pais, sem saber as razões. Igual aos filhos que Chronos vomitou.
Há pais que sugam as energias de seus filhos; outros impedem que elas sejam gastas.
Embotada, a criança acumula energias, torna-se uma bomba secreta, um pararraio propício a se “conectar” com outra cuja energia lhe é roubada. Uma versão para agressor e agredido.
Quando explode, nem a criança entende o motivo, pois não aprendeu saber por si e nem sobre si. Os pais assumiram o lugar do seu saber, do seu querer, do seu agir, do seu pensar. No futuro, não havendo recursos, dominam-na, novamente, com antidepressivos.
Filhos são como passarinhos, mas colocá-los para cantar em gaiolas de ouro não os farão melhores. Essa espécie não conhece o valor desse metal, somos nós que os induzimos a isso, corroendo-lhes canto.
Filhos não querem ser troféus, mas muitos de nós os caçamos, na condição de seus algozes.
Façamo-nos ninhos para que eles possam sair e voltar com prazer, sem nos eximir do nosso dever de educá-los, convivendo-nos em harmonia. Do contrário, não conseguirão, sequer, suportar a nossa presença. Que eles sintam em nossos braços um elo, não uma corrente.
Estou tentando!
Rita Lavoyer
Texto publicado no Jornal Folha da Região em 02/03/2011.
6 comentários:
Pais educam e dão o exemplo, senão nada feito. Proteção excessiva torna o filho medroso diante uma situação de perigo ou necessidade. De resto, um bocado de fé ajuda bastante!
Certíssima, Rita.
Carinho,
Jorge
Esse tema é de doer. O comportamento de pai possessivo acumula uma série interminável de imperfeições psíquicas: manipulador, vaidoso, egoísta, autoritário, dominador, vingativo etc. Brinquei muito repreendendo minha mãe com uma frase que pendurei na sala de casa: “Filho não é propriedade dos pais, e vice versa”, acrescida de outra que dizia: “Mãe é um mal necessário”. Ela ficava furiosa e eu, sadicamente, me divertia (era velhinha que não levava desaforo). Por fim, num congresso no RS, aprendi que quem tem filhos não deveria de tê-los, e quem não os tem, deveria tê-los.
Rita,
Seu texto reflexivo toca o "calcanhar de Aquiles" dos pais e mães de todos os filhos que estão no mundo...mas é luta necessária que se deve travar: aquela que nos faz compreender que os filhos são para ansia da vida no mundo que escolhemos lhes apresentar...
Beijos, moça
Genny
Seu texto me leva a pensar de uma forma delicada, visto que como mãe, já iniciei várias vezes esta reflexão mas temendo enfrentar esta realidade divaguei ou simplesmente adiei esta cruel realidade!Ótimo texto!Sinto-me orgulhosa por ser sua amiga e leitora!
Eu sou muito superprotegida..não há diálogo que resolva..eles logo se estressam. Eu amo muito os meus pais, sei que eles me amam tambem. Mas eu só queria que eles fossem mais seguros. É horrivel toda vez que algum amigo faz aniversario e faz festa, porque sem meus pais nao posso comparecer à mesma e acaba que eu nunca vou. É horrivel combinar de marcar um cinema, pois meus pais tem que estar no mesmo shopping (pelo menos, nao junto comigo, mas dentro do shopping) e acabo ficando exposta a uma situação ridicula. Sao coisas pequenas que marcam. Eu já cansei de brigar e reclamar, nao adianta.O resto da familia só comenta a situaçao quando eles não estao presentes, como se eu pudesse fazer alguma coisa pra mudar. Os primos cresceram todos juntos, com minha exceção. Eles afirmam que o mundo é perigoso, que não é que eles não confiem em mim, mas é que tem muita gente ruim, prostituição de menores, escravização sexual, assaltos, assassinatos, sequestros e etc. Eu sei que eles tem razão, mas é que chega a ser uma coisa anormal. É dificil ver que mesmo com um mundo desses, todos, mas eu digo todos mesmo, todos os meus amigos têm a liberdade de sair, de ir pra casa um do outro (até mesmo para trabalhos escolares, sou proibida de ir) e etc. Eles sempre reconheceram meus talentos, que aprendo com facilidade enfim, nunca me subestimaram mas parece que pra essas coisas na cabeça deles eu raciocino como uma pessoa de 5 anos. E eu só queria ser normal.
você não é a unica, vc acabou de descrever meu pai.. tenho 22 anos e mesmo assim ele continuar agindo dessa forma.. até de castigo ele ainda me poem e nem posso falar nada pq é briga na certa..
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