_ Oi! Ela é a minha esposa. O nome dela é trabalho.
_ Oi! Ele é o meu esposo. O nome dele é trabalho. Temos 4 filhos que têm os mesmos nomes: moradia, alimentação, segurança, educação, saúde, lazer.
_ Ela tem pais. O nome dos velhos? Plano de saúde, fisioterapia, farmácia, enfermeiros, vai e vem e combustível para levá-los pra cima e pra baixo....
_ Ele tem pai e mãe. O nome deles? Abandonados.
_ Os meus pais não são abandonados. Eu cuido muito bem deles. Pago plano de saúde, alimentação, moradia. Pago fisioterapia. Se precisarem de mim para levá-los em algum lugar, levo-os e não reclamo.
_ Está vendo!? E os seus irmãos, hã!? Qual é o nome deles? Eles se chamam bar nos finais de semana, pescaria com a família, reuniões com os amigos, passeios com os filhos, cinema, teatro. Aliás, qual é o nome daqueles filhos deles? Eu vou falar. O nome de cada um dos seus sobrinhos é: sedentarismo, passeio, pescaria, bar e outras diversões com os pais deles. O nome de toda a sua família deveria ser ‘inúteis’.
_ Olha, o meu nome é trabalho. Casei-me com ela porque os nossos nomes combinavam, ainda combinam. Ela também tem irmãos. Muitos irmãos. Quer saber o nome deles? Inúteis. Gostou do nome? Inúteis são pessoas como os irmãos dela, que viajam com os filhos, frequentam casas de amigos, pagam para assistirem a shows bacanas. Recebem pessoas, frequentemente, em casa, com petiscos e cerveja gelada. Aliás, faz muito tempo que não os vejo. Por onde andam os seus irmãos?
_ Talvez junto aos seus.
_ Será que eles se encontram?
_ Inúteis sempre dão um jeitinho de se unirem aos outros.
_ Não está na hora de buscar os filhos?
_ Está. Eu busco dois e você leva os dois. Depois passa no mercado e leva as compras que a mamãe me pediu, mas não estou com tempo de fazer isso agora. A lista está debaixo do telefone.
_ Aproveita que já é o seu caminho, passa na farmácia, compra os medicamentos do meu pai e leve lá na casa dele. Faça aquela tabelinha, como eu sempre faço, e põe na porta da geladeira. Peça desculpas à minha mãe e diga que não poderemos ir almoçar lá neste fim de semana porque vou trazer trabalho pra casa. Ah, diga à minha mãe que eu já agendei o dentista pra ela.
_ Ah, traga o seu laptop. Marquei com dois clientes neste fim de semana. Não marque compromisso nenhum. Alguém tem que ficar olhando as crianças.
_ À noite, se der tempo, a gente conversa.
_ Menino! Entra logo no carro que eu estou com pressa.
_ Anda moleque. Vai fazer a sua mãe perder tempo.
_ Por que vocês não contratam um motorista pra nós, assim param com essa gritaria.
_ Por que? Está achando que os seus pais são inúteis?
_ Nossa! Vocês se entendem mesmo, hein! Até as respostas são exatamente iguais em palavras e momentos. Aliás, poderiam começar a nos chamar pelos nomes que temos?
_ Vocês têm nomes compridos demais. Se acrescentarmos o motorista aí sim, não os chamaremos de coisa alguma.
E o celular toca, um de cada lado daqueles pais dos filhos.
Pra quem dizer : “Pai!Mãe! se eles não os escutarão?
E o telefone toca, a vida toca, mas não toca pessoas que ‘não e nem’ se tocam.
E o filhos, na garupa das circunstância.
Rita Lavoyer é membro da Cia dos blogueiros.
3 comentários:
Trabalho?! Para mim é sempre humilhante desde o dia em que sentei a Beleza no meu colo.
O mundo cada vez mais doido, os costumes mudam em segundos, e ninguém se toca! Rita está certa, a coisa vai errada!
"Começou a funcionar o expresso 2222...", do Gil, está em pleno andamento.
Jorge
Divertidíssimo texto, com finos toques de ironia e denúncia. Gostei muito desse "imbroglio" todo. Só você mesmo, Rita. Um beijo e parabéns.
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