Rita Lavoyer
Fiquei admirada com a campanha que o governo Geraldo Alckmin lançou nesta quarta-feira, 13. “Bullying. curta outra ideia”.
Para não cometer injustiças no que eu tenho e devo, por obrigação dissertar, fui até o facebook.com/EducaSP e baixei a cartilha, ansiosa para estudar o que ela traz no seu conteúdo quando, pasmem! Não traz nada de novo do que já foi lançado no mercado sobre o tema há anos.
Respeito a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva autora do livro “Bullying, mentes perigosas nas escolas” sobre o qual me debrucei para aprender o que ela ensina( Inclusive é o conteúdo deste livro que vem na cartilha). Foi um ótimo princípio, tanto quanto os livros da pesquisadora Cléo Fante.
Agora, confeccionar uma cartilha com conteúdo que os professores, por mais leigos que possam ser sobre o assunto bullying, já têm conhecimento é desmerecer a capacidade do profissional.
Os trabalhos de todas as pessoas merecem respeito, portanto, devo, por obrigação também, citar a psicopedagoga Vivi Tuppy que tanto me ensinou e vem ensinando na Diretoria de Ensino de Araçatuba.
Todavia, desculpem-me os provedores desta campanha, embora a intenção seja boa, não vejo nada de novo que possa acrescentar e ajudar no trabalho dos profissionais da educação da Rede Pública de Ensino. Lançar uma campanha deste porte, que deve ter tido um custo razoável, para ser simpática, não ajuda em quase nada a inibir as práticas de bullying dentro das escolas.
Essa campanha não passa de peneira querendo tampar o sol. Porque enquanto campanha, o governo não precisa contratar psicólogos, que as escolas tanto precisam; nem psicopedagogos, terapeutas. Não precisa triplicar o número de professores de Educação Física, extremamente importante e necessária para o desenvolvimento psicomotor do aluno enquanto ser humano em formação.
Há anos venho trabalhando o assunto nas escolas que me permitem entrada. Como estudante do assunto Bullying, cheguei à algumas conclusões, sendo que a maioria converge para um ponto que julgo ser um dos pilares da violência entre as crianças e os adolescentes de hoje sendo, quase sempre, carregado para a vida adulta: desrespeito consigo mesmo.
Percebo que as nossas crianças não têm noção sobre a própria pessoa enquanto SER, no sentido de Humano. Elas não se valorizam e não reconhecem em si um SER de valor, um SER que merece respeito e que se respeita para, assim, respeitar o seu próximo.
As crianças e os adolescentes não sabem dizer sobre si mesmos, não sabem nomear os seus sentimentos, sejam eles bons ou ruins, não sabem o que realmente desejam, não sabem expressar suas dores e angústias e estão envolvidos em um universo de resignação, preconceito e vergonha com a própria condição de vida física, espiritual, familiar, econômica, cultural, social entre outros conflitos que as estão aniquilando.
E elas não são culpadas por isso.
Nossas crianças, em desconexão com o mundo em que estão inseridas, inexperientes da vida, estão se tornando os algozes delas mesmas.
Impressionante como elas sentem vergonha da família, das suas origens e o que é pior, da própria condição física, agredindo-se psicologicamente com autocríticas destrutivas. Elas, quando questionadas, sentem medo de apontar alguma característica positiva que veem nelas, quando veem, porque a maioria se acha cheia de defeitos e incapaz de realizar algo para o próprio desenvolvimento e crescimento enquanto pessoa.
Elas fogem, porque elas próprias se excluem, dos padrões estabelecidos de beleza, de poder, de saber... entre outros. Esse conflito começa a surgir entre os seus 6 e quando já estão aos 14/15 anos de idade a autoestima está ‘quase’ que desmoronada. Digo ‘quase’, porque onde há amor há salvação!
Como respeitar o próximo se elas próprias não se respeitam, não se dão o devido valor, não se veem como seres capazes de encontrar a felicidade, quando a vida destes adolescentes já não está valendo a pena?
Não acredito jamais que um ser humano tenha nascido somente para prejudicar o outro, mas se ele age assim, ainda que sem saber, é porque há motivos, e a vida começa na sua concepção. Por qual processo de formação/ ou deformação passamos enquanto estamos no ventre materno?
E não me refiro apenas aos alunos de escola pública, conflitos internos não escolhem classe social.
Convivemos com uma geração que veio preparada para conviver com as tecnologias, desbravar o limite do desconhecido, mas que, infelizmente, não tem a mínima noção do quanto pode para se explorar e oferecer o que tem de melhor a si mesma e ao seu semelhante. Logo, isola-se dentro do próprio universo onde o individualismo impera.
Os gigabytes que elas, as crianças, têm na memória não estão sendo utilizados a contento da própria natureza que as criou. São crianças potência que não estão usufruindo da “potência” que têm.
Somos, nós, seres humanos, um quebra-cabeça cujas peças precisam se encaixar perfeitamente para que o todo trabalhe em harmonia. Como harmonizá-lo?
Envoltas em conflitos internos, sem conseguirem, por falta de aprendizado, externá-los, nossas crianças acabam vendo no outro, razões, as mais fúteis, para descarregarem as suas energias acumuladas. Assim o desentendimento se instala entre elas, e as guerras íntimas que cada um traz dentro de si, acabam por estourar dentro da escola, agredindo-se repetidas vezes. Elas se expressam da forma como sabem.
O esporte é de extrema importância para descarregar as energias que as nossas crianças acumulam e assim, desenvolverem uma postura condizente com a sua idade, proporcionando um olhar satisfatório do sujeito com ele mesmo para, daí, olhar o outro como ele gostaria de ser visto.
Desenvolver, através da Educação Física, atividades que proporcionem à essas crianças a elevação da autoestima, diminuindo um pouco o desânimo que elas estão apresentando pela vida, se faz urgente.
Urgi firmar, através das aulas de Educação Física, a postura dessas crianças, fortalecendo-as enquanto pessoas de potencial para que consigam olhar com segurança o horizonte a sua frente.
Desenvolver, através das aulas de Educação Física, confiança e respeito próprio, para que ela mesma consiga argumentar em sua defesa, não precisando, pois, partir para a violência para resolver questões, na maioria das vezes irrelevantes, mas que são pivôs para o início de uma briga.
Com confiança, autoestima e respeito próprio, dificilmente uma criança se deixará vitimar- o que é pior: ser vítima de bullying, sofrer agressões por várias vezes e sentir vergonha ou medo de pedir ajuda por acreditar que o seu agressor e sua gangue tem razão para agredi-la. A vítima chega ao ponto de se sentir merecedora das agressões que ela recebe.
Infelizmente, hoje, nossas crianças estão sedentárias, e devemos levar em consideração que os alimentos já vêm processados com grande quantidade de energéticos, proteínas, vitaminas, ferro entre outros, e se o corpo não funcionar para processar esses nutrientes a contento, isso vai ficar acumulado e o que deveria ser bom passa a ser prejudicial. O corpo acumula calorias que precisam ser expelidas. De alguma forma, acredito, esse acúmulo de lixo orgânico passa a ser deletério ao desenvolvimento da criança.
Em qual tempo do dia o exercício físico da criança se encaixa se ela passa grande parte do tempo em suas atividades intelectuais,computador, TV, games, enquanto que o corpo pede a comunicação com a mente?
Pode-se desenvolver estresse entre outros problemas se apenas uma parte do maquinário humano for explorada. Se o corpo não estiver bom, a cabeça não se encaixará nele, prejudicando a aprendizagem e vice versa.
Para amenizar um pouco esse tipo de violência dentro das escolas, penso que aumentar o número de aulas de Educação Física é uma forma inteligente e humana de os governantes, que estão se preocupando com a violência dentro das escolas, encontrarem uma solução para, quando diminuir um pouco o quadro de violências, começarem também a se preocuparem com a educação. Se possível, aulas de Educação Física todos os dias com diminuição de conteúdo. Isso não acarretará prejuízo algum para os alunos no processo aprendizagem.
As nossas crianças estão saindo das escolas com conhecimento sobre o mundo, infelizmente, cada vez mais desconhecedoras de si mesmas.
Quando é que o governo vai lançar campanha para elevar a autoestima dos professores, esses que têm que dar conta do todos os problemas que a criança leva para dentro da escola?
Professor não é empregado do mundo. Curta essa ideia você também!
Rita Lavoyer
Um comentário:
Rita,
Esse é um problema antigo, quase tanto como o ser humano e tem se intensificado com o aumento da velocidade da vida moderna. Dificil de ser combatido porque suas causas são complexas. Gostaria muito de ver ao menos uma proposta de enfrentamento do problema pois até agora não vi nada.
Helcio
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