Então era uma vez que naquela vez era uma sexta-feira de 2004, 02 de abril. Queria nascer de qualquer jeito a menina cuja história de era uma vez eu conto agora e pra mais de muitas vezes. Eita, menina porreta, essa minha filha de sempre e para sempre que serão mais de muitas vezes.
_ Hoje não! Tenho prova amanhã e amanhã era pra nunca mais de uma vez, porque eu precisava mesmo acabar aquela pós-graduação em Linguística na Unesp, em Araraquara. Então sábado chegou e era 03 de abril de 2004, e Fita Verde no Cabelo, de João Guimarães Rosa nas mãos e as contrações... as contrações...
Pode esperar, menina! Será que a professora não tinha um texto menos pra minha ocasião do que esse? Que eu preciso terminar a análise porque...
“Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam...”
Então já era Fita Verde nos cabelos da Chapeuzinho Vermelho querendo entregar bolinhos no bico da cegonha pra mim.
“Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo”
Dei na cegonha e continuei malhando a caneta no papel e não teve jeito, nascimento não escolhe hora nem lugar. Também já tinha resistido ao dia anterior e a mãe da minha filha protelando as contrações por causa de uma prova, não teve como:
“Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.”
Ali mesmo uma criança quase nascia e no que e no que... tiraram-me a avaliação, aqueles lenhadores que lenhavam seus grafites na verde fita de papel de prova... e eu nem cor tinha mais.
“Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo.”
Aqui veio o meu lobo bom que tinha comido a mãe da menininha em auxilio da nascente, voando, mas antes passaria no bosque floricultura, porque tinha encomendado um ipê mirim para plantar na ocasião do nascimento. Vovó planta a árvore enquanto o doutor já está avisado.
“Então, ela, mesma, era quem se dizia: – Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou. A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.”
O hospital não é esse, ele está na Casa que de Santa não tinha nadica na ocasião, nem a agulha, porque a Casa estava interditada pelo caçador da Polícia Federal onde a parturiente entrei.
“E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vinha-lhe correndo, em pós.”
_ Muito prazer! Foi o que eu lhe disse, muito educadamente.
_ Não sinto prazer nenhum! Pode voltar pra trás. Não é bem vinda aqui!
Hum... desconfiei naquele momento que não ser amiga de São Pedro é bom negócio pros viventes. Vou pedir favor nada! Não quer abrir a porta do céu vou pra outra que estiver aberta. Também não achei outras. Heureca! Descobrir que só existe uma porta do outro lado.
“Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa.”
Fiquei meio perdida no meio do caminho e tinha uma dor crônica que me consumia a cabeça. E agora? No meio do caminho é que não posso ficar - pensei.
“Vinha sobejadamente. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu: – Quem é? – Sou eu… – e Fita-Verde descansou a voz. – Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou.” (... João Guimarães Rosa)
Ela nasceu! Juliana, parabéns pra você, minha linda, pelo seu aniversário de 9 anos. Quase fui por causa do atraso, mas voltei por não ser a hora do processo final.
Juliana ficou em primeiro lugar no concurso de leitura que a escola onde ela estudava, o CNSA promoveu em 2011.Ela, então, com 7 anos. Leu 61 livros infantis num período de 80 dias de volta ao mundo dos livros.
Talvez influência dos ares do campus da Unesp, dentro do qual ela foi nascendo...
Nascemos, filha! Beijinhos da mamãe!
*Rita Lavoyer
3 comentários:
Se buscarmos no DNA, com certeza, encontraremos a razão disso tudo! Um amor assim quando acontece é eterno - mãe & filha - uma exemplo para a outra! Total cumplicidade! Beijos de muitas alegrias em muitos aniversários e com muitas "Fitas Verdes"...
Célia.
Que beleza de texto,nossa qta emoção.
E da fita verde nos cabelos, esses olhos lindos, misterosos e encantadores de Juliana.
Parabéns a filha e mãe que nasce a cada dia com tanta beleza e encanto.
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