Ser Luzia
“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
Ninguém cruza o nosso caminho por acaso. Afirma isso quem realmente sentiu a presença de alguém muito importante na sua vida. Importante no sentido de registrar-se em um determinado período que o tempo não é capaz de apagar.
Há folhas que nascem, desenvolvem-se, cada qual respeitando o seu ciclo, enfeitam as árvores, fortalecendo-as para suportarem o parto dos frutos, até o tempo de um vento forte levá-las para juntarem-se ao outro grupo, o de adubação. Ali, no amontoado de tantas outras folhas levadas pelos ventos fortes, pelas tormentas, pelas tempestades... serão alimentos para a fome da terra. Todos, como as folhas, exercemos funções importantes no meio em que vivemos. Uns mais vistos que outros, mas... enfim, todos temos real importância dentro do espaço que ocupamos, negativa ou positiva.
Luzia tem real importância dentro do espaço que ocupa na minha vida, de um período que o tempo não conseguiu apagar.
Eu a conheci quando lecionamos em uma escola estadual. Eu me espelhava nela, nas aulas dela, nos trabalhos que ela desenvolvia. Eu era iniciante no magistério, ela experiente. Aprendi com a professora Luzia, que o professor precisa ser respeitado. Quando tomou a iniciativa de registrar um boletim de ocorrência por não conseguir ministrar as suas aulas nas salas de aula, não deu outra. Espelhada na atitude dela, fiz o mesmo! Depois daí, nunca mais deixei de valorizar o trabalho de um professor, jamais!
Assisti com isso, um longo e difícil período da vida desta mulher, filha, irmã e, principalmente, mãe!
Mal saíamos da escola, tínhamos que voltar sei lá pra que... nem quero me lembrar!
Igualávamos nas nossas dificuldades, bem acentuadas “dificuldades financeiras”. Acrescentando a essa passagem, ela, a Luzia, ainda tinha a filha pequena, Isabela, que, quando não ficava com a avó para ela, Luzia, poder trabalhar, ficava sozinha.
Tomo a liberdade de citar aqui uma passagem que nunca mais saiu da minha memória, trago-a como recordação do sofrimento de mãe num desabafo:
“Mãe, você vai sempre me deixar sozinha? Não aguento mais comer miojo”
Contrariando a poesia da sua poetisa preferida, Cora Coralina que aqui atrevo-me citá-la:
“Mãe
Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.
Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.
Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura. Cora Coralina
A voz da mãe, Luzia, embargou e eu senti a dor que ela expressava por ausentar-se da infância da sua filha, a única, para honrar a profissão que ela tão bem sabe exercer, com isso prover o sustento da família, pois fora pai e mãe.
Luzia engoliu os versos a seco, mas escreveu a sua própria história com muita poesia.
Luzia, a mulher culta ultrapassou o limite da sua era. Venceu obstáculos e continua enfrentando outros. Mas mulher de raça, que eu sei que ela é, vencerá outros tantos.
Honrada por fazer parte do círculo de amigos que ela convidou para repartir a sua alegria, confraternizando-nos com a sua energia.
Deus é muito bom pra mim. Há 16 anos tenho a amizade da Luzia Machado, a mulher que cruzou o meu caminho, deixando marcas significativas e de muito valor.
Na minha, da sua família e na dos seus amigos você não será apenas folha passada, levada pelo tempo. Você é história.
Espero continuar fazendo parte dela e honrar essa benção.
Parabéns Luzia Machado pelos seus aniversários e obrigada por tudo.
Rita de Cássia Zuim Lavoyer
7 comentários:
GRATIDÃO - isso, Rita, são poucos que reconhecem os momentos preciosos com que a vida nos brinda! Linda a sua atitude de prtilhar conosco uma pessoa tão íntegra!
Beijo.
Amiga, Rita Lavoyer, quisera encontrar na literatura uma palavra que traduzisse a dimensão da felicidade que você me proporcionou com esta homenagem.Amigo é isso, é alguém que como um raio X penetra desta feita no nosso caminho, detectando nele todas as pedras, todas as flores, todos os percalços,todos os espinhos, todas as esperanças, suores,lágrimas,bullying*( e quantos enfrentamos - ou seriam assédios morais-)uma conquista aqui, outra ali e o principal, alguém que nessas horas nos estende a mão,e oferece os ombros,persistência e perseverança .Você,minha grande amiga (olha aí, no nosso caso o "grande" é pleonasmo) é isso tudo! Humilde é aquele que sempre se coloca na condição de aluno, quando na verdade ele é o mestre de inigualável valor:Rita Lavoyer! Obrigada, Deus a abençoe!
Oi, Célia! Essa minha amiga Luzia foi e continua sendo luz na minha vida. O tempo passou, eu fui..., voltei e a encontrei de braços abertos pra mim. Só tenho a agradecer a Deus por isso.
Luzis - Luzia!
Você é um exemplo de profissionalismo. Chegou onde chegou: vencendo, porque tem garra, capacidade, visão de futuro, autoestima e personalidade de mulher admirável!
Obrigada eu por sua amizade.
A Luzia que você retrata é certamente uma mulher forte e você brindou-a com o que há de melhor: sua lealdade. Parabéns às duas.
Hélcio, uma mulher que tornou-se forte através das lutas do dia a dia. É a Luz: Luzia!
Caríssima Rita, a homenagem está irretocável e é merecidíssima, pois a senhora Luzia é mesmo uma pessoa de singular candura e abnegada nos sentimentos altruísticos que a caracteriza. Meus efusivos parabéns a ambas.
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