Hoje, 10 de dezembro, comemora-se o dia do Palhaço. Essa data, pelo que sei, começou a ser festejada em 1981, em São Paulo, pela Abracadabra Eventos, para homenagear o artista que, mesmo não tendo um circo que o contrate, não perde o encanto quando pinta a cara para viver sua arte, proporcionando risos.
Para “Abracadabra ” há vários significados. Fico com uma significação, possivelmente de origem Aramaica, que mais me alcança o âmago: - "Eu crio enquanto falo".
Comemora-se hoje, também, o “ Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, adotada pela ONU em 1948, em que diversos países se comprometeram a defender os direitos humanos, isso em consequência das atrocidades cometidas durante a 2ª guerra mundial. Permita-me: Direitos Humanos nos são inerentes desde quando nascemos, independente da raça, da cor, do sexo, da religião ou da nacionalidade.
Crianças, geralmente, vão ao circo para ver o Palhaço, figura indispensável na apresentação de um espetáculo, ele representa a alegria. Mas quais sentimentos há no coração de um Palhaço, enquanto ele interpreta o script da sua arte, muitas vezes improvisada, com o intuito de fazer rir? Quanto mais riem dele, mais abrilhantado fica o espetáculo para o qual fora contratado. Serão público e Palhaço a completude um do outro no entrelace de suas ingenuidades?
Mas o que tem a ver um assunto com outro aqui expressados? Tentarei analogias:
O nosso Planeta Terra é um ser vivo que, como nós, traz no âmago seus enigmas, necessidades e alegrias. Ele é o meu, o seu lar onde todos nos avizinhamos. Não tenho autorização para transgredir-lhes os direitos.
Com tanto progresso à vista, fica fácil evidenciarmos contradições: se a humanidade evoluiu tanto, desde os seus primórdios, há razões para que muitos dos nossos semelhantes vivam sem as mínimas condições de sobrevivência, com seus direitos desrespeitados?
Há para esse enigma milhares de explicações, nenhuma entrelaçada com a ingenuidade de quem, por obrigação, deveria protegê-los. A humanidade nunca conviveu em condições de igualdade e nunca os direitos humanos fora completamente defendidos. Sonhar com isso é possível, achar que o sonho alcançará a todos é ingenuidade; sei que em muitas instâncias as necessidades básicas da população têm melhorado, conquistas efetivas de lutas populares, de povos que se entrelaçam, avizinhando-se, independentes dos espaços que ocupam.
Circo e pão jamais serão ajudas que projetarão o ser humano, os mais necessitados e excluídos de todas as sortes, ao seu tempo e espaço de direitos, mas tão somente um empurrão para colocá-lo num picadeiro fora de órbita, cuja piada explícita não tem graça nenhuma.
Se “eu crio enquanto falo”, o “eu prometo” improvisado, pronunciado nos palcos da armação, tem criado muitos incrédulos que não aguentam mais palhaços sem graça, que distorcem o sentido da arte de fazer rir, roubando a alegria de tantos, inclusive de um Palhaço que, apesar de esconder as amarguras de seu coração, não transgride, enquanto artista, os direitos do seu respeitável público.
Enquanto houver aplausos ingênuos para palhaços cujo único script é “eu prometo” e nada fazem, o Planeta e muitos vizinhos nossos continuarão negligenciados em seus direitos. Eu não aplaudo essa palhaçada. Abracadabra: você também não! Aplaudo a arte do Palhaço, um direito que me cabe: de preservar minha criança sem ver o Planeta disfarçado de circo.
Obs; Diante das ações humanitárias deste Homem curvo-me e o tomo como exemplo de amor ao próximo.
Texto publicado no Jornal Folha da Região, coluna Tantas Palavras, Caderno Vida
Autoria – Rita Lavoyer
2 comentários:
... é amiga, se cobrirmos com a lona do circo... o espetáculo já estará pronto... apenas terrível de ser observado por aqueles que "pensam... falam e, criam..."
Parabéns, por sua "conscienciosidade"!!
Abraço.
Rita, assim como a vivência altruística e humanitária de Mandela, o contexto desta belíssima e oportuna crônica leva-me a aplaudir-te de pé. Meu carinho e meus aplausos!
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