“Minorai os
derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a
vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no
futuro." - S. Luís. (Paris, 1860.) Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo
V.
Semana passada
dois assuntos me chamaram a atenção, tocaram-me profundamente: a falta de água em alguns bairros da cidade de
Araçatuba e a aprovação da eutanásia na Bélgica.
Viver em pleno
calor de 40 graus à sombra não é fácil, ainda mais faltando água dentro de
casa. Houve problemas numa adutora e a
Samar não foi capaz de sanar o problema a tempo, deixando vários cidadãos araçatubenses
com o sangue fervendo: de raiva!
Não tiro deles
a razão, sei o que é passar sem água e sem energia. Morava em Santarém–PA,
cidade quentíssima banhada pelos rios Tapajós e Amazonas, onde o encontro das
águas acontecia lavando os olhos da natureza e os meus por assistirem tamanha
beleza, todavia dos meus olhos vazavam
lágrimas, lavando também a minha ilusão de ver aquela população sendo tratada com
o respeito que ela precisava e merecia.
Via, muitas
vezes, o socorro vir pelas mãos da população que, com enxadões e outros instrumentos nas mãos, furava as ruas
até encontrar um cano que pudesse vazar a água, que estava enterrada, mas não
chegava às torneiras, sem contar que ainda sofríamos com o racionamento de
energia em toda a cidade em pleno final do século 20, a termoelétrica abastecia
hospitais, de tempo em tempo cada região da cidade recebia um pouco de luz,
então desligávamos as lanternas e economizávamos pilhas.
Vi
araçatubenses sofrendo nesta semana o que minha família passou no século
passado. Dois dias sem tomar banho, sem lavar ou cozinhar! Muito triste! Lembrei-me
das minhas dificuldades naquele século e chorei. Sim, conseguimos viver sem
energia, mas sem água não! Araçatubenses e nem outro ser humano merecem passar por esta demonstração de
resistência. Mas passam e sobrevivem!
Quantas formas
legais existem de o homem desencarnar?
Há várias e eu não vou listá-las aqui. Quando leio : - “Bélgica aprova
eutanásia em crianças, menores de 18 anos”. Quando sei que uma lei desta passou
com 86 votos a favor e 44 contra, de
repente, perco até a sede e dos meus olhos vazaram lágrimas.
Não sou a
favor de nenhum processo que permita que se abrevie a vida de alguém. Se o
direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, acredito que o de
morrer no tempo certo também seja. Ainda que a pessoa agonize num período de
sua existência, respeito perfeitamente o sofrimento dela, não concordo com a
antecipação da morte. Apressar o desencarne de alguém é impedir que a morte
exerça a sua função no seu tempo. Muito
triste!
Mas na Bélgica ela vai passar a morte matada, embora grupos de
pediatras e da igreja católica estejam resistentes a isso.
Não matemos a
morte, nosso corpo não é como uma lanterna que, se desligada, a pilha
para de funcionar. Muitas mãos farão da eutanásia instrumento a fim de socorrer os que agonizam,
mas ela não lavará o problema existente naquele que chora. Enterrar o problema
não é chegar à solução dele, ao contrário: é privar o ser humano da
oportunidade de entrar em melhores condições no plano espiritual. Enquanto houver
energia que pulse um corpo, abreviá-lo não porá fim nela.
Voltando ao
nosso problema: privar o ser humano da água é tirar-lhe oportunidades, ainda
mais aquelas que ele tem por direitos, por pagá-las. Todavia, nada justifica as
agressões que os funcionários da Samar e os policiais sofreram quando os
caminhões tentaram entrar no bairro para levar água em socorro dos
moradores. Funcionários e policiais são tão vítimas quanto aqueles que ficaram sem água. São todos empregados obedecendo às ordens de superiores.
Espero que a
Samar não permita mais que a população araçatubense passe essa raiva. Para minha família não faltou água, também não quero que falte para ninguém, porque eu
agonizo junto com os que sofrem. Ainda bem que há muita energia pulsando vidas
aqui, não permitindo que maus feitos abreviem suas raças, matando-as de raiva.
Privar o homem
de água é matá-lo em conta-gotas, bem pior do que a eutanásia, que é
instantânea e sem sofrimento.
Autoria – Rita
Lavoyer
2 comentários:
Tristes privações de vida... A água que assiste à vida... e vida desassistida... Eterno "teorema"...
Abraço.
Duas formas de morte - não sei qual a mais cruel e desumana. Penso que a segunda, pelo assassinato envolvido, embora legalmente consentido. Abraços, Rita.
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