CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS LITERÁRIOS

PREMIAÇÕES LITERÁRIAS

2007 - 1ª colocada no Concurso de poesia "Osmair Zanardi", promovido pela Academia Araçatubense de Letras, com a poesia O FILME;

2010 - Menção Honrosa no Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto A CARTA;

2012 - 2ª classificada no Concurso Internacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto O BEIJO DA SERPENTE;

2012 - 7ª colocado no concurso de blogs promovido pela Cia dos Blogueiros - Araçatuba-SP;

2014 - tEXTO selecionado pela UBE para ser publicado no Jornal O Escritor- edição 136 - 08/2014- A FLOR DE BRONZE //; 2014 – Menção honrosa Concurso Internacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto LEITE QUENTE COM AÇÚCAR;

2015 – Menção honrosa no V Concurso Nacional de Contos cidade de Lins, com o conto MARCAS INDELÉVEIS;

2015 - PRIMEIRA CLASSIFICADA no 26º Concurso Nacional de Contos Paulo Leminski, Toledo-PR, com o conto SOB A TERRA SECA DOS TEUS OLHOS;

2015 - Recebeu voto de aplausos pela Câmara Municipal de Araçatuba;

2016 – 2ª classificada no Concurso Nacional de contos Cidade de Araçatuba com o conto A ANTAGONISTA DO SUJEITO INDETERMINADO;

2016 - classificada no X CLIPP - concurso literário de Presidente Prudente Ruth Campos, categoria poesia, com o poema AS TUAS MÃOS.

2016 - 3ª classificada na AFEMIL- Concurso Nacional de crônicas da Academia Feminina Mineira de Letras, com a crônica PLANETA MULHER;

2012 - Recebeu o troféu Odete Costa na categoria Literatura

2017 - Recebeu o troféu Odete Costa na categoria Literatura

2017 - 13ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de abril de microconto Escambau;

2017 - Classificada no 7º Concurso de microconto de humor de Piracicaba.

2017 - 24ª classificada no TOP 35, na 2ª semana de outubro de microconto Escambau;

2017 - 15ª classificada no TOP 35, na 3ª semana de outubro de microconto Escambau;

2017 - 1ª classificada no concurso de Poesia "Osmair Zanardi", promovido pela Academia Araçatubense de Letras, com a poesia PERMITA-SE;

2017 - 11ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de outubro de microconto Escambau;

2018 - 24ª classificada no TOP 35, na 3ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - Menção honrosa na 4ª edição da Revista Inversos, maio/ com o tema Crianças da África - Poesia classificada BORBOLETAS AFRICANAS ;

2018 - 31ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - 32ª classificada no TOP 35, na 4ª semana de janeiro de microconto Escambau;

2018 - 5ª classificada no TOP 7, na 1ª semana de junho de microconto Escambau;

2018 - 32ª classificada no TOP 35, na 3ª semana - VII de junho de microconto Escambau;

2019 - Classificada para antologia de suspense -segundo semestre - da Editora Jogo de Palavras, com o texto OLHO PARA O GATO ;

2019 - Menção honrosa no 32º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba-SP, com o conto REFLEXOS DO SILÊNCIO;

2020 - 29ª classificada no TOP 35, na 4ª semana - VIII de Prêmio Microconto Escambau;

2020 - Menção honrosa no 1º Concurso Internacional de Literatura Infantil da Revista Inversos, com o poema sobre bullying: SUPERE-SE;

2020 - Classificada no Concurso de Poesias Revista Tremembé, com o poema: QUANDO A SENHORA VELHICE VIER ME VISITAR;

2020 - 3ª Classificada no III Concurso de Contos de Lins-SP, com o conto DIÁLOGO ENTRE DUAS RAZÕES;

2020 - 2ª Classificada no Concurso de crônicas da Academia Mogicruzense de História Artes e Letras (AMHAL), com a crônica COZINHA DE MEMÓRIA

CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS

  • 2021 - Selecionada para a 6ª edição da revista SerEsta - A VIDA E OBRA DE MANUEL BANDEIRA , com o texto INILUDÍVEL ;
  • 2021 Selecionada para a 7ª edição da revista SerEsta - A VIDA E A OBRA DE CECÍLIA MEIRELES com o texto MEU ROSTO, MINHA CARA;
  • 2021 - Classificada no 56º FEMUP - com a poesia PREPARO A POESIA;
  • 2021 - Classificada na 7ª ed. da Revista Ecos da Palavra, com o poema CUEIROS ;
  • 2021 - Classificada na 8ª ed. da Revista Ecos da palavra, cujo tema foi "O tempo e a saudade são na verdade um relógio". Poema classificado LIBERTE O TEMPO;
  • 2022 - Classificada no 1º Concurso Nacional de Marchinhas de Carnaval de Araçatuba, com as Marchinhas EU LEIO e PÉ DE PITOMBA;
  • 2022 - Menção honrosa na 8ª edição da Revista SerEsta, a vida e obra de Carlos Drummond de Andrade , com o texto DIABO DE SETE FACES;
  • 2022 - Classificada na 10ª ed. Revista Ecos da Palavra, tema mulher e mãe, com o texto PLANETA MULHER;
  • 2022 - Classificada na 20ª ed. Revista Inversos, tema: A situação do afrodescendente no Brasil, com o texto PARA PAGAR O QUE NÃO DEVO;
  • 2022 - Classificada na 12ª ed. Revista Ecos da Palavra, tema Café, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2022 - selecionada para 1ª antologia de Prosa Poética, pela Editora Persona, com o texto A FLOR DE BRONZE;
  • 2022 - Selecionada para 13ª edição da Revista Ecos da Palavra, tema MAR, com o poema MAR EM BRAILLE;
  • 2022 - Classificada para 2ª edição da Revista Mar de Lá, com o tema Mar, com o poema MAR EM BRAILLE;
  • 2022 - Classificada para 3ª Ed. da Revista Mar de Lá com o microconto UM HOMEM BEM RESOLVIDO;
  • 2022- Classificada com menção honrosa no 34º Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba, com o conto O CORTEJO DA MARIA ROSA;
  • 2022- Classificada pela Editora Persona com o conto policial QUEM É A LETRA L;
  • 2022 - Classificada no Concurso da E-33 Editora, Série Verso e Prosa, Vol.2 Tema Vozes da Esperança, com o poema POR ONDE ANDAS, ESPERANÇA? ;
  • 2023 - Classificada na 15ª edição da Revista Literária ECOS da Palavra, com o poema VENTO;
  • 2023 - Classificada para coletânea de poetas brasileiros pela Editora Persona, com o poema CUEIROS;
  • 2023- Selecionada na 23ª ed. da revista Literária Inversos com tema "Valores Femininos e a relevância do empoderamento e do respeito da mulher na sociedade contemporânea", com o poema ISSO É MULHER;
  • 2023 - Classificada no Concurso de Contos de Humor, Editora Persona, com o conto O PÃO QUE O QUINZIM AMASSOU;
  • 2023 - Classificada no Concurso de Poesias Metafísica do Eu, Editora Persona, com o poema QUERO OLHOS ;
  • 2023 - Selecionada pra a 11ª Edição da Revista SerEsta, A vida e obra de Paulo Leminsk, com o poema EL BIGODON DE CURITIBA ;
  • 2023 - Classificada no 1º concurso de poesia do Jornal Maria Quitéria- BA, com o tema " Mãe, um verso de amor", com o poema UM MINUTO DE SILÊNCIO À ESSAS MULHERES MÃES;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol. 4, tema Vozes da Solidão, editora E-33, com a crônica A MÃE;
  • 2023 - Selecionada para a 9ª ed. da Revista Mar de Lá, como poema O POETA E A AGULHA;
  • 2023 - Classificada no concurso de Prosa Poética , Editora Persona, com o texto QUERO DANÇAR UMA MÚSICA CONTIGO;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.5, tema Vozes do Sertão, editora E-33, com o poema IMAGEM DE OUTRORA;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.6, tema FÉ, Editora E-33, com o poema OUSADIA POÉTICA;
  • 2023 - CLASSIFICADA para a Antologia Embalos Literários, Editora Persona, com o conto SEM AVISAR;
  • 2023 - Classificada na 18ª edição da Revista Literária ECOS da Palavra, com o poema FLORES, com o poema O PODER DA ROSINHA;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.7, tema AMIZADE, Editora E-33, com o poema AMIZADE SINCERA;
  • 2023 - Classificada em 8ª posição no Prêmio Castro Alves, na 33ª ed. Concurso de Poesia com temática Espírita, com o poema SOLIDARIEDADE;
  • 2023 - Selecionada para Antologia literária - Série Verso e Prosa. Vol.8, Vozes da Liberdade, tema , Editora E-33, com o poema REVOADA;
  • 2023 - Classificada para a Antologia Desejos profundos - coletânea de textos eróticos , Editora Persona, com o poema AGASALHA-ME;
  • 2023 - Classificada para antologia Roteiros Adaptados 2023 - coletânea de textos baseados em filmes, Editora Persona, com o texto BARBIE, UMA BONECA UTILITÁRIA;
  • 2023 - PRIMEIRO LUGAR no Concurso , edital 003/2023 - Literatura - seleção de projetos inéditos, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba, com o livro infantojuvenil DENGOSO, O MOSQUITINHO ANTI-HERÓI;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea Cronistas Contemporâneo, pela Editora Persona, com o texto A CONSTRUÇÃO DE UMA PERSONAGEM;
  • 2024 - Classificada para 19ª edição da Revista Literária Ecos da Palavra, com o poema A PASSARINHA;
  • 2024 - Classificada para a 13ª edição da Revista Mar de Lá, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea "Um samba no pé, uma caneta na mão", tema carnaval, pela Editora Persona, com o poema DEIXA A VIDA TE LEVAR;
  • 2024 - Selecionada para compor a coletânea "Revisitando o Passado", promovido pelo Projeto Apparere, com a crônica COZINHA DE MEMÓRIA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea de Poetas Brasileiros,2024, Editora Persona, com o poema IMAGEM DE OUTRORA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Antologia JOGOS DO AMOR, promovida pela Revista Conexão Literária, com o tema O jogo do amor, poema classificado: TENHO MEDO;
  • 2024- Selecionada para 20ª ed. da Revista Literária Ecos da Palavra, com o tema INFÂNCIA, com o poema DEBAIXO DE UMA LARANJEIRA;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea SOB OSSOS E SERPENTES, da Tribus Editorial, com o conto, com 9.999 caracteres, O BEIJO DA SERPENTE,
  • 2024 - Selecionada para a 21ª Edição da Revista Literária Ecos da Palavra, com o poema REVOADAS;
  • 2024 - Selecionada para a Coletânea de poemas Intimistas Existencialistas, com o tema A Arte do Eu, promovido pela Editor Persona, com o poema GOTAS DA CHUVA ;
  • 2024 - Selecionada para compor a antologia NÓS , textos de autoria feminina pela SELO OFF FLIP, com a crônica MULHER, FONTE DA ÁGUA;
  • 2024 - Classificada na 27ª Edição do Concurso da Revista Literária Inversos, com o tema "Culinária Típica da Festa de São João", promovido pela Academia de Letras e Artes de Feira de Santana (ALAFS) e Academia Metropolitana de Letras e Artes, com o poema SEU ZEQUINHA NO SÃO JOÃO DO NORDESTE;
  • 2024 - Classificada no concurso Literário MEMÓRIAS DE AFETO, promovido pela Lítero Editorial, com o poema O TORRADOR DE CAFÉ;
  • 2024 - Selecionada para compor a 22ª edição da Revista Ecos da Palavra , temática Animais, com o texto ORAÇÃO DOS BICHINHOS ;
  • 2024 - Selecionada para compor a Coletânea de Microconto-2024, promovido pela Editora Persona, com o microconto ROSTO;
  • 2024 - Selecionada para compor a coletânea A POESIA SUBIU O MORRO, promovido pela Editora A Arte da Palavra, com o poema PERMITA-SE;
  • 2024 - Classificada para compor a Edição 23 da Revista Ecos da Palavra, com o poema QUANDO EU SENTIR;
  • 2024 - 2º classificada no 35º Concurso Nacional de Contos cidade de Araçatuba, com o conto IN VINO VERITAS;
  • 2024 - Classificada para compor a Coletânea Contistas Contemporâneos, 2024 - Editora Persona, com o conto NÃO FOI A PRIMEIRA VEZ;

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

REFLEXOS DO SILÊNCIO - CONTO CLASSIFICADO NO 32º CONCURSO E CONTOS DE ARAÇATUBA

Conto de minha autoria classificado com Menção Honrosa no 32º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba, 2019.



                                               REFLEXOS DO SILÊNCIO

                                                           Enquanto uns têm a sorte da dúvida, outros o azar da certeza...

          PARTE 1 – Se o estopim começou por aqui,  é por aqui que devo expor os motivos que me levaram a agir, como agia. Mea culpa? Decidam!  Como frequentadora das redes sociais, sei que textos longos são mais achincalhados do que lidos. Sem problema, conseguindo um leitor para o meu  é o suficiente. Vou dividir meu relato em partes e espalhá-lo pelos grupos. Sei, por experiência, que cair nas redes sociais pode ser a glória, ou o fim de qualquer pessoa, autorizo fazerem de mim o que quiserem, inclusive me destroçarem nos comentários. Dizia-me que a alma possui suas caixas sonoras. Quem ouve uma sinfonia sem abrir-lhe a acústica não perceberá, jamais, as notas do silêncio em comunhão com o oxigênio no ato de respirar. Ouvia isso do meu pai, enquanto, deitada em seu colo, ele acariciava meus cabelos.  Já era uma mocinha, mas queria para sempre que eu fosse sua criança, “a minha Juçara!”  Não me esforçava para interpretar sua filosofia, que ele trazia do berço. Bom leitor que era, degustava a vida de cada palavra que lia, pois acreditava, afirmando, que cada uma trazia um DNA definido. Coisas de papai, homem culto de reputação ilibada e amor imenso à família, imenso! Segundo os olhares, então.  Mamãe, coitada? ouvia os saberes de papai, mas nada dizia. Encostada nas portas e nas paredes cochichava consigo mesma que era ignorante demais para compreender o que já nasceu difícil de ser compreendido, uma porta falando com outra e outra –eu- ouvindo. Não há necessidade de se dizer que a outra era eu, mas para registrar há.  Deixava-nos a sós e voltava aos seus afazeres. Ela adorava limpar a casa. Dizia que a morada é o reflexo dos seus moradores, que impressionante,  não se descuidava daquele ambiente. Tudo estava nos devidos lugares. Tudo na nossa casa era limpo, nada debaixo dos tapetes.  continuo na segunda parte

              SEGUNDA PARTE. Decorei quase todos os discursos que papai fazia sobre o silêncio. Ele os recitava no centro da sala, fixando seu olhar nos bibelôs das estantes, dizia serem seus discípulos. E é na voz do silêncio que a tempestade se acalma e blá blá blá. Disse um dia que discurso difícil entorpece, deixa o ouvinte crescido e o faz balançar a cabeça, concordando. E era de ouvintes estúpidos que ele precisava. Às vezes, papai excedia na complicação e eu não entendia, na época,  o porquê de ele defender tanto o silêncio nos ambientes. Via-o atravessando noites elaborando seus sermões. Escrevia muito. Agora eu. Várias folhas amassadas, algumas eu as tenho guardadas. Por esses dias, eu as li várias vezes para entender sua obsessão pelo silêncio. Gostava de ouvi-lo. Enquanto acariciava meus cabelos, mergulhava no oceano dos seus olhos azuis, que se esverdeavam quando ele alcançava o ápice da sua emoção. Passávamos horas no sofá, ouvindo um do outro a respiração. Às vezes, mamãe quebrava o silêncio entre nós com o  farfalhar da vassoura pela casa.

            TERCEIRA .  Aquela Juçara nunca hesitou em investir contra a mulher a quem atribui as mazelas de sua vida: sua filha!  Sempre tentei sensibilizar quem me ouvia,  sobre o ataque que sofri de um desconhecido, aos quinze anos de idade. Era um dia claro. Ela vinha sozinha do cabeleireiro, distraidamente... balançando e sentindo o peso de suas madeixas cacheadas roçando-lhe o pescoço, quando ele a interceptou,  arrastou-a e a violentou. Tentou, inutilmente, se defender. Foi só o que eu aprendi a responder. Aprendi a responder assim. Um soco na boca cortou-lhe os lábios.  Ali, engolia o silêncio da sua angústia fitando os olhos verdes do algoz que a sangrava na sua mais infinita intimidade. Devia estar emocionado. Essa história mal contada foi o que ela aprendeu a responder, a contar, a repetir. Posso não relatá-la direito, mas é a correta. Pelo menos aquela Juçara aprendeu alguma coisa.  A violência sofrida foi motivo para que ela desenvolvesse complexos, os mais variados e, ao longo da vida, os  descarregava, exclusivamente, sobre sua primeira filha: Ofélia,  fruto do doloroso e infeliz ocorrido com aquela mocinha que foi arrumar os cabelos para apresentar-se bela no baile de debutante, onde suas amigas, e ela, ladeadas pelos seus padrinhos, valsariam, ruflando os tecidos das saias de seus vestidos, meigamente bordados para aquela ocasião. Mas aquela alegria lhe fora violentamente roubada. Só as amigas foram ao baile. Aquela Juçara não! As circunstâncias que se agravaram ensinaram aquela Juçara a amar o ódio. Assim, na época,  odiou os pais que, empestados pelas crenças da sobrevivência das almas e dos carmas que se carrega, acreditavam no pecado do aborto! Quando pecado, dizia Juçara, era carregar, eternamente no ventre da memória, as imagens com as quais aquela criança foi concebida. Descumpriram uma lei que, para a situação dela era mais do que benéfica e, diante dos olhos da sociedade, sofreu  um castigo por um crime cometido por outro e  que ela, aquela Juçara, teve que calar dentro das celas do destino nas quais não pediu para estar, em obediência ao pai e à mãe, especialmente esta,  que respeitava os dogmas do marido.   E por fim odiou “aquilo”, o bebê que não era dela, era do seu aliciador; e perdoar a existência “daquilo”, dizia, era avalizar o pecado. Ao seu pai, como mártir que aceitou criar o fruto do estupro de sua filha, e por seu devotamento às palavras que exprimia com sua fé, lucrou com o mais alto posto naquela igreja da comunidade cujos discípulos, sob sua batuta, ele sonhava, haveriam de desenvolver o dom do perdão. Talvez não tenha sido estupro, mas os pais – reservados que eram –   queriam encobrir a promiscuidade da filha. Cochichavam isso.

            Quarta- E era assim que acontecia. Dava voz aos meus sentimentos, vociferava contra Ofélia. Acusava-a ser a culpada por ter perdido minha juventude e desqualificado minha silhueta de menina em formação! Não conseguia ver beleza alguma “naquilo”, avaliava-a como mal-amada. Quem, por ventura, sentiria atração por algo tão feio? Tão desapresentável aos olhos do desejo? “Aquilo” certamente serviria como objeto de uso. Era assim que eu sempre pensava, e pensava em voz alta.  Observações dessa natureza eram espalhadas com amargura por mim, que as queria registradas, como nódoas, nas paredes existenciais de Ofélia, fazendo seu coração, maternalmente desamparado, bater-lhe entre o estômago e o fígado, amargurando-a.  Como lenitivo, à Juçara a vida deu um marido  arranjado pelo pai, que a aceitou sabendo da existência da filha e, com ele, teve seu amado e dedicado filho Pedro Paulo, o Pepe. Juçara não levou Ofélia consigo. Ela ficou sob os cuidados dos avós que, sem condições de proporcionar-lhe bons estudos e, já adulta, como consolo, tentaram arrumar-lhe um esposo que a amparasse. Doentes e idosos, os avós faleceram em curto espaço de tempo um do outro, quando Ofélia, casada, já tinha um filho nos braços. Pepe, experiente no rumo da vida, partiu, deixou-me chorando a ausência da sua beleza. Ficaram ela e Ofélia na mesma cidade. Ofélia, para ela massacrar, quando precisava desopilar o fígado. Ofélia conseguiu, além do esposo indicado pelo avô,  um emprego de faxineira, uma casa que ela insistia em  chamar de sua  e sua deusa: uma moto de segunda mão. Ela adorava cuidar do que tinha, só não do gato do marido e do hamster do filho. A mãe desmerecia-lhe a casa ironizando-a como uma casinha popular! Objeto de programas políticos! Num conjunto habitacional que tinha o perfil de miseráveis como Ofélia e seu esposo. Pensado para quem a existência é um peso social. Para mim Ofélia era um peso.

            Quinta- Aborrecida com nossas discussões, Ofélia aliviava-se pegando estradas onde pouca, ou nenhuma fiscalização a flagrasse sem o capacete. Mulher de olhar desambicioso não traz, em seus 32 anos, nada que lhe ornamente a vida. Somente ela e o seu modo simples de ser. Poder sentir o vento em seu rosto magro e calcificado de histórias de um passado que não era dela, não tinha preço. Voava uma liberdade sequer sonhada, sem temer não ver o sol do amanhã.  Imaginava. Mesmo não querendo-a, tinha imensa necessidade de marcar presença naquela casa em que Ofélia insistia em chamar de sua propriedade. Ser reconhecida pelo genro era uma urgência necessária. Rui, homem de corpo definido e de aparência rústica, surpreende pela delicadeza com que trata a todos. Esposo e pai atencioso, é mais um que aumenta a classe operária da construção civil durante o dia e, algumas noites, quando consegue, é vigia.  Foi o jovem discípulo escolhido e seduzido pelo avô, então missionário, a ser o esposo de Ofélia, com quem elaborava projetos e  sonhos: aumentar a casa e economizar para estudarem o filho, hoje com seis anos. A solidão na boa casa que o filho alugara, no bairro de classe alta, que trazia sempre desorganizada, perturbava-a. O tempo, há anos, tornou-se lento. Os contatos nas redes sociais não bastavam, mas eram necessários. Na vida ociosa que levava revivia os traumas da violência que sofria. Sofria! Eles me consumiam e me perturbavam. Por que teve que ser comigo? Precisava participar da vida de Ofélia, nem que fosse para infernizar! Sobrava tempo para imaginar as possíveis “falhas” que a filha cometia na limpeza da casa dela, que eu  julgava ser  imunda.   Um dia, Ofélia agradeceu por ter lavado as botinas do Rui. Nem ela faria melhor! – Jura? Ser gratificada pelos seus feitos era o seu desejo, pelo genro uma necessidade.

            QUINTA - Sempre contrariada, mas não derrotada, liguei para Pepe. Pedi dinheiro para comprar um celular para o Maicon, meu neto. Queria presenteá-lo. Por nada, acusou-me de desmerecer a coitada da filha. Elimine essa raiva que traz da Ofélia. Volte a se tratar. Sei que recusava os remédios, mas o ajudam... Se sentirá melhor. Você vai matá-la um dia com esse seu modo estúpido de lidar com ela!  Nem meu pai conseguiu conviver com você, por isso sumiu. Ocupe sua mente com algo saudável, que lhe dê prazer! Saia de rodas de fofocas da internet que sua vida melhora! Estou em viagem, mando o celular pelo correio, no seu endereço. Mas nunca diga que fui eu quem lhe deu. Não vamos constrangê-los. E pare de reclamar da Ofélia, ela é sua filha, entenda isso de uma vez, mulher! Não a culpe pelos fatos. Mas culpava a mim? Culpava-me por um fardo que eu não conseguia carregar.  Desligou, deixando-me, como sempre, no vácuo. Pepe cuidou para que o celular chegasse programado e funcionando.   Aquela Juçara sonhava conhecer a cidade e a casa onde o filho residia. Conhecer sua rotina, suas alegrias, seus amigos, suas namoradas, seus carros, suas viagens, ver de perto as postagens que o filho faz nas redes sociais.  Mas ele esquiva-se estar sempre viajando a trabalhos. Quando não se comunica por telefone, a virtualidade  a mantém informada sobre a rotina dele.  Queria fazer parte da família de Ofélia, que ainda não lhe pertence.

            Parte 7. Pouco a pouco, fui intensificando as visitas, sem avisar, aquela casa: casa que Ofélia insistia em chamar de “minha propriedade”, isso me irritava, procurando marcar limites à mãe que faz por ignorá-los. Intrometia-se na vida daqueles e descuida da própria higiene, fato que incomoda o sensível olfato do neto que não titubeia em expulsá-la de perto de si. Para conquistar o afeto do menino presenteou-o com um livro infantil e o celular, e aproveitou para desmerecer Ofélia.  Sua mãe é muito pobre, vai ser faxineira a vida inteira. Nunca lhe dará uma vida melhor. Seu pai é um ignorante. Vai lhe proporcionar qual futuro? Comece a ler livros. Leituras o ajudarão a pensar para fora... pensar grande... Este celular fui eu que comprei. Não ganho muito, somente o aluguel de uma casinha simples que herdei de papai. Meu filho Pepe me ajuda, tem bom emprego...  Minha mãe não é pobre, vó! Ela e meu pai trabalham. Sai de perto de mim! Você tem cheiro ruim! Você não gosta da minha mãe! Meu pai falou que não quer que você dê sobras de comida para o Melro. Gato come ração e a comida faz mal para ele. Meu pai gosta muito do gato, se ele ficar doente meu pai vai ficar triste. Não tire a gaiola do hamster do meu quarto. Ninguém aqui gosta que você mexa e tire nossas coisas do lugar, só para bagunçar! Isso foi ruim e não hesitei.  Seu pai é um estúpido e não entende de gatos.  Ouvi que os antigos reis adoravam gatos. Cortavam-lhes as pontas dos rabos e tomavam o sangue daquele ferimento para ter vida longa. O menino ouvia assustado. Você sabe mexer neste aparelho? Lembre-se: mantenha-o escondido por enquanto. Fique no seu quarto com ele. Se um dia alguém perguntar quem lhe deu, diga que foi sua mãe que o comprou. Mas não agora. Adicione todos os seus amiguinhos. Vou lhe passar a lista dos meus contatos só para você ir se adaptando ao universo virtual e encontrando pessoas e grupos que lhe interessem. Vai se divertir muito. Quero que aprenda a filmar. Quando sua mãe sair do banho esconda-o dentro deste livrinho, é infantil. Ela é tão alheia que nem vida virtual tem, portanto não saberá que você frequenta esse universo. Finja que o está lendo. Se sentirá segura vendo-o com um livro nas mãos. Fiz isso.  Pepe comprou outro carro e postou na sua página. Homem de negócios. Carros entram e saem da sua vida. Perguntou se  havia entregado o celular ao sobrinho e desligou. Aquela Juçara foi tomando para si, como obrigatórios, os atos e fatos que aconteciam rotineiramente na família que era da Ofélia.  Incomodada com aquela insistência, solicitou-me que não aparecesse com tanta frequência. Algumas discussões atravessavam os muros rentes às suas paredes, chegando aos ouvidos dos vizinhos. Travaram, ambas, várias lutas na tentativa de demarcarem seus postos na casa em que Ofélia insistia ser “minha propriedade!”.  O relato é longo. Mas essa noite foi terrível. Isso precisa ter um fim.  

            7- O menino gravava parte de algumas discussões, com o celular escondido dentro do livro, eu sei.  Rui foi perdendo a delicadeza e, já desolado de tanto discutir com a esposa diante do filho voltava tarde para casa. Maicon tranca-se no quarto e distrai-se com seu celular, enquanto Ofélia  esquece-se em seus afazeres.  O garoto gosta de filmagens. Registra os movimentos do Melro observando o hamster. Ele entende que os animais se comunicam civilizadamente, porque um fica dentro e outro fora da gaiola.   Ofélia, numa tarde de fúria, após grave discussão, pegou o filho e, juntos, na moto, saíram sem rumo, para enganar o tempo necessário até me retirar da casa.

            Já era tarde quando voltaram. As portas estavam destrancadas.  Ofélia precaveu-se, trancou todas.  Previa-se que mãe e filho, novamente, dividiriam a mesma cama naquela noite.  Agora sou eu. Prenha, a madrugada cega que eu tracei pariria absurdos e suspeitas com resultados insolúveis para sempre. Ofélia tentava dormir o sono que lhe recuperasse a vida perdida em contendas com a mãe. Um barulho acordou a moradora. Assustada, ela se levantou. Encontrou-me com a vassoura nas mãos.  Dei ordens para que voltasse a dormir, evitando que Rui a procurasse – se chegasse.  Com raiva redobrada, por perceber que fiz cópias das chaves de sua casa,  avançou sobre mim.  A força da história dolorosa que eu carregava, o peso das palavras que eu proferia, somados aos violentos golpes que lhe dei, atordoaram “aquilo” que um dia me foi um feto. Juçara não perderia, naquele momento, a oportunidade de fazer o que não fez quando deu à luz àquele fruto da violência que sofrera.  Acreditam que uma mocinha de 15 anos engravida de primeira? Juçara seria violenta, firme e corajosa. Era a oportunidade para se livrar de Ofélia.

            Continuando. A vítima esqueceu-se do medo que sempre engoliu. O olhar apático e desambicioso daquela mulher triste cegou-se naquele momento. Quis sair em sua defesa, lançou-se contra Juçara, tentando imobilizá-la. Que fera a invadiu para torná-la assim, humana, tão rapidamente, revelando seu DNA? As gritarias acordaram Maicon. Ele levantou-se com o celular nas mãos. Enquanto estava em desvantagem, Juçara sangrou no rosto e o menino, escondido -  eu o via -  filmou o período daquela cena; somente daquela cena em que Juçara se machucara e que seria o começo de todo o terror para família de Ofélia. Inesperadamente, o celular tocou. Uma voz de homem ordena para Maicon pedir ajuda! O garoto, trêmulo, emudeceu. Sentiu o seu corpinho gelar e a urina escorrer-lhe nas pernas. Atônito, mexendo no celular, acidentalmente, compartilhou no facebook  aquela cena fatal que filmou até ali. Surtada, calei Ofélia com um golpe na cabeça, levando-a a escorregar, esbarrando na moto que guardava na minúscula área de serviço que ainda estava em construção. Com o choque, o veículo caiu sobre seu corpo, imobilizando-a. Arrumei-me. Sem olhar para trás, sai, tranquei a porta, guardei as chaves na bolsa,  entrei no meu carro e acelerei  sem que os vizinhos me vissem. Foi assim, dominado pelo medo, Maicon escondeu-se no quarto sem saber de quem era aquela voz que sabia o que acontecia naquele momento. Estavam sendo ouvidos, espionados pelo celular? Que tipo de programa seria esse? Como? Por quem?  A filmagem de uma mulher, batendo em outra, idosa, com as palavras de ofensas que eram ditas, viralizou nas redes sociais. Nem se eu tivesse programado assim teria dado tão certo.  Sem medo de revelar que tinha um celular, ligou para o pai, que estava de vigia, e contou o ocorrido. Os amigos virtuais reconheceram-me, dava-lhes as versões que eu bem entendia.  Queriam justiça. Pepe  identificou as personagens daquela postagem e me ligou. Os compartilhamentos, os comentários e os tons de vinganças o atordoaram. Ouvia o que se falava naquela casa através do programa espião que instalou no celular que enviou ao sobrinho. Como pode? Que astuto! Acionou seus contatos na cidade. Sabia: precisava salvar Ofélia das mãos dos internautas indignados que queriam justiça. Desliguei na cara dele.  Por que  Pepe não chamou a polícia?  Quase amanhecendo, Ofélia, ferida, auxiliada por Rui, experimentou os ataques promovidos pelos internautas justiceiros, em sua casa.  Pelas mãos do neto, pude, de dentro do carro,  assistir à população pondo fim aquela casa, o que, aos seus 15 anos, não fizeram com o homem que violou a morada da minh’alma, sujando-me o ventre. Sentia-me leve a cada pedra que lançavam contra a casa de Ofélia. Ali, naquele baile de tiranias, valsei a música que aquela violência, sofrida  aos quinze anos, impediu-me de valsar no baile de debutantes. Voltei para casa e banhei-me  como há décadas não me limpava. Ali, senti a vida invadir-me novamente as entranhas.

            Seguindo: Enquanto Rui tentava conter a multidão, o filho gritava. A polícia foi acionada e encontraram Ofélia – a agressora –  no local do crime.  O celular do menino foi recolhido para averiguação das cenas.  Questionado – como o instruíra – disse que o celular foi presente comprado por sua mãe. A polícia conseguiu evitar o linchamento que a população desejava àquela filha que, na filmagem,  surrava a mãe idosa, mas que não teve tempo de expor, ali, sua versão. Vizinhos confirmavam os destemperos daquela mulher contra sua mãe. Senti-me realizada.  Pedro Paulo e sua turma não chegaram. Levaram Ofélia à delegacia. Traumatizada por ver sua casa apedrejada, pichada e detonada por estranhos, Ofélia emudeceu. Mas sua mudez não era para fazer imperar o silêncio que a protegeria, como o avô lhe ensinara. Calara-se por medo.  Juçara também foi chamada para depor e para piorar a situação da filha confirmou a veracidade das cenas publicadas nas redes sociais e de outras violências que sofria por ela. Menti, aumentei os fatos sobre as violências que ela me proporcionava.  Recolhida em cela comum, até que lhe pagassem a fiança ou um advogado lhe fosse arrumado, Ofélia sentiu no seu corpo a força da justiça promovida pelas detentas com as quais dividiu a cela. As fotos “daquela filha” deformada pelos hematomas também viralizaram nas redes sociais. Fato que, questionados, dirigentes da cadeia não souberam responder como aquela violência e aqueles vídeos aconteceram e vazaram, se nenhuma detenta, afirmaram,  possuía  celulares nas celas.  Duvido.

            Já me perdi nas partes, estou confusa quanto a elas.  Desesperada com a brutalidade que Ofélia experimentou, vendo-a desfigurada nos vídeos, de tal modo que ninguém a identificaria,  pela primeira vez, eu  chorei por Ofélia, tão frágil,  à beira da morte. Por conta dos dias difíceis que passou, Rui não conseguiu evitar o sumiço do gato e a morte do hamster. Daquela casa popular, que Ofélia insistia em chamar de sua propriedade, quase nada se aproveita. Como a sociedade é cruel!  Com ajuda de amigos do trabalho, Rui arrumou outra casa. Sofro por Ofélia e preocupo-me  com a falta de notícias do  Pedro Paulo. Seu celular, há dias, não atende. Alegando preocupação com o neto visitei  a nova casa do Rui. Abracei-o, enquanto Maicon chorava a ausência da mãe.  Rui, grudado ao celular, aguarda notícias sobre sua esposa, internada em estado grave pelos ferimentos e hemorragias internas que apresentava. Quanto a Maicon, ele sabia o que lhe aconteceria se revelasse quem o presenteou com o celular.

             Pelas redes sociais, soube que Pedro Paulo e o pai foram descobertos e presos a partir da perícia que a polícia fazia no celular do Maicon, identificado como objeto de furto. Pelas redes sociais, aquela Juçara conheceu a verdadeira morada e o trabalho do seu filho, o mais novo traficante descoberto pela polícia, o paradeiro do seu marido e os gatos que ele criava, quase todos com os rabos cortados. Pelas redes sociais, aquela Juçara ouviu o depoimento do filho e sua versão sobre a filmagem que o sobrinho, acidentalmente, postou na internet, e sobre o celular equipado para mapear os acontecimentos na casa de Ofélia, as preocupações que ele tinha com aquela família. Pelas redes sociais, Juçara assistiu o que seu filho escondia do outro lado das redes.     Enquanto uns têm a sorte da dúvida, eu o azar da certeza de que não fui vingada, mas me vinguei da forma como não deveria. A dor do vazio preenche meus dias.

            Se retornar o que Ofélia terá para chamar de “minha propriedade”? Aos que tiveram o azar da certeza e promoveram a justiça com as próprias mãos, terão, nas redes sociais, a sorte da reparação do estrago que promoveram à Ofélia?  Atormento-me  com as próprias perguntas e sinto que preciso ficar com minha filha, dizer-lhe coisas boas que as mães dizem aos seus queridos, e que compreendeu que ela também é vítima daquela violência que sofreu quando ainda era uma adolescente, uma mocinha de apenas quinze anos, que saiu do cabeleireiro com os cabelos preparados para o baile das debutantes, que aprendeu a contar uma história errada, a que seu pai queria, seu pai... E que não foram duas ou três vezes apenas. Uma dor diferente que sinto,   um misto de tristeza e alegria, deu-me a sensação de ter  me humanizado novamente. Pela primeira vez sinto-me mãe da Ofélia.

            Já nem sei em qual parte deste relato estou.   Vou me adiantar para chegar ao hospital porque o desespero domina esta mãe ávida para abraçar a filha tão carente de amor materno. Tudo o que eu promovia à Ofélia, minha filha, era para vê-la sofrendo o que eu sofria. Era a única pessoa ao meu lado capaz de suportar um pouco dos meus sofrimentos. Fui eu que articulei para que tudo acontecesse como acabou, mas foi pior que o planejado.  Eu sabia, mas mantinha o silêncio sobre os serviços ilegais do meu filho e do pai dele, o estúpido que meu pai me arranjou e que me batia quase todos os dias, mas que eu não reclamava, por vergonha.   Sei que o texto é longo, mal escrito, mas de imensa verdade sobre o silêncio que o meu pai exigia que eu cumprisse sobre a violência que eu sofria nas garras dele e do marido que ele me arrumou. Publico-o para que conheçam a minha história. Sentir amor por minha filha fez nascer vida em mim e se minha filha não sobreviver, eu também não viverei mais. Acabou para mim.

              No trabalho, o celular do Rui tocou. Ele atendeu. O hospital dava-lhe notícias sobre Ofélia. 

Autoria- Rita de Cássia Zuim Lavoyer

Um comentário:

Rita Lavoyer disse...

Comentário enviado por e-mail, pela CÉLIA RANGEL.
Oi, Rita! PARABÉNS! Já é um ritual consagrado em seus textos! Há muita verdade nesse que reflete relacionamentos familiares, desagregados, pela tecnologia da parafernália excessiva que corrói todo e qualquer emocional. Há uma tecnologia tão menos complicada, a do amor, que, se bem conectada, dá frutos extremamente saudáveis. E, muitas vezes, só no silêncio é que se medita na importância do conviver entre humanos e não atracados com as máquinas! Quantas "Ofélias e Juçaras" dominadas e dominantes há no mundo atual... Famílias submissas e subjugadas... Triste.