Texto com o qual me classifiquei na 6ª edição da Revista SerEsta, sobre “A vida e a obra de Manuel Bandeira”, 2021
Baseado nas obras : Tragédia Brasileira; Vou-me embora pra Pasárgada; Pneumotórax e Consoada, de Manuel Bandeira.
Iniludível
Cansado do confinamento a
que as circunstâncias o submetera, Manuel foi-se embora pra Pasárgada. Lá sim,
sendo amigo do rei, poderia andar nas
ruas, como quisesse. - Ah, estarei no
auge da liberdade adquirida – gritava. Mas, encontrou-se com Misael,
funcionário da Fazenda, 63 anos, fugitivo da Rua da Constituição. Estava irreconhecível, disfarçado em um vestido
de organdi azul, o último usado por Maria Elvira – aquela que ele tirou da prostituição
e consertou-lhe os dentes. Manuel o reconheceu, afinal fora ele o figurinista daquele
vestuário.
- Oh! Nem aqui respirarei ar puro?! Que
faz em Pasárgada, Misael?
- Sabes bem que não matei Maria
Elvira! Foste tu que me privaste de sentidos e em minha mão colocaste aquela
arma carregada! Desejavas minha desgraça! Mataste a mulher que eu salvei,
usando-me como instrumento. Diga-me, Manuel, aquelas balas eram falsas, de
encenação, pois não? Abriste um prostíbulo para Maria Elvira aqui, em
Pasárgada, confessa! O rei te isentas dos impostos das libertinagens, não é, Manuel?
- Misael, você está delirando,
rouco, sem ar, com dificuldade de pronunciar sua fala, suando em bicas. Deve
estar com febre. Diga trinta e três, Misael,
e respire!
- Tu e tua lírica! Não achas melhor
terminarmos juntos com um tango argentino?
- Não posso, Misael! Ando farto de
lirismo comedido, iniludível! Maria
Elvira me espera. Jantaremos, hoje, com o rei, antes que a indesejada da gente
nos alcance.
A passos largos caminhou, levando consigo
Misael na lembrança.
Rita de Cássia Zuim Lavoyer
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