Rita Lavoyer
Há algum tempo, sabendo
que competia a mim a graça da aposentadoria, confusa e até perturbada por não
saber o que faria com tanto dinheiro, imaginando o que não poderia vir pela
frente, tratei de me internar, novamente, em outra faculdade. Consumida por necessidade de conhecer um
universo diferente de tudo que me rodeou há anos, com algo que me proporcionasse um consumo
imediato, dentro do qual pudesse me embrenhar até me lambuzar, fui.
Encarei o vestibular e lá estava eu,
de corpo e alma – mais alma do que corpo -, achando-me o máximo! Vou arrasar –
pensava! Hum! Vai vendo!
Para minha surpresa, um futuro colega
de classe, novinho, me reconheceu. “Oi, professora!” Respondi – Não sou professora, sou aluna! “ Eu sei. A senhora foi minha professora!”
Sorri! Ele se apresentou, lembrei-me dele, da escola... Sinceramente, não sei como ficou minha cara
ouvindo na sala de aula, cheia de jovenzinhos barbudos e robustos, alguém me chamar de “senhora”. A situação piorou quando outro, no fundão,
disse em voz alta. “Foi minha professora também. É cricri pra caramba!” Eu, com
esse meu jeitinho, tratei de ficar na minha, porque cada um era como armário de
quatro portas abertas, músculos e tatuagens nos braços, sem contar que todos desenvolveram
destreza com faca, cutelo, labaredas, óleo quente e outros utensílios capazes
de cozinhar alguém vivo. Nada de querer ser a professor ali.
Os semestres foram passando, eu
errando os preparos, cortando os dedos, queimando panelas, encharcando avental,
as relações se estreitando e rindo de tudo isso. O que eu imaginei ser algo bom para mim, está
sendo excelente, superando as minhas expectativas. Excelente no sentido de que havia
alguém dentro de mim que precisava ser feliz, de forma que proporcionasse alegria
aos outros também. O alimento preparado com carinho e bem servido, por mais
simples que seja, proporciona essa graça. Estou aprendendo.
Pensou que não precisaria mais fazer
pesquisas, montar TCC, elaborar artigos, dissertar sobre isso ou aquilo? Ledo
engano. Porém, realizo-me nas pesquisas sobre as tendências gastronômicas, a
cultura alimentar de cada local do planeta, a importância de cada alimento no
preparo do cardápio, entender sobre uvas, vinhos, cachaça, coquetéis e harmonizações, desenvolver
pratos, criar os meus, elaborar
cardápios, conhecer fornecedores, entender gestão de negócios, marketing,
concorrência no mercado, alimentação hospitalar, a microbiologia dos alimentos, montar uma bela mesa, entender sobre eventos gastronômicos, os lugares e as épocas, e escrever sobre tudo isso e muito mais que o
curso de Gastronomia exige. Essas grandezas me trazem realizada na minha escolha,
como estou me sentindo atualmente. Engordei com isso? Não! Engordaram em casa? Sim!
Afinal eu preciso aprender, chegar em casa e reproduzir o que me ensinaram, para
que o aprendizado se fortaleça. Quem pode reclamar de um estudo desse? Tenho
muito respeito pelo meu uniforme, dolmã,
avental e o toke na cabeça. Um grande motivo de orgulho e responsabilidade para
mim. Sei da importância dos alimentos para a vida do homem.
Podem dizer “nossa, precisou entrar
na faculdade para aprende a cozinhar?” Claro que sim, não nasci completa!
Respondo. Trabalho desde os 10 anos, não tive tempo de estudar sobre cozinha em
casa. Na pobreza comia-se o que tinha e quem queimava as panelas com as sobras
das sobras era minha mãe, pobre mulher, que fez de suas mãos calejadas pratos e
talheres aos filhos. Ademais, chegava à
noite, da escola, da faculdade, dos trabalhos e a janta já estava fria no
fogão. Comia o que tinha e ia dormir morta de cansada. Agora minha família se
alimenta melhor. Não significa que sou expert no assunto, mas meus queridos já
podem se considerar excelentes gourmet. Estou acertando. Viva a gastronomia e
eu. Adorando escrever sobre .
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