QUERO DANÇAR UMA MÚSICA CONTIGO
Autoria- Rita de
Cássia Zuim Lavoyer
A música toca suavemente os meus sentidos e
sinto-me conduzida pelo teu ímã.
O polo de atração das tuas notas me envolve e eu
posso sentir os teus toques, as tuas mãos, os teus afagos que me tocam e me
imantam, para que eu gire em rodopios ao compasso da tua batuta.
Se me vieres, como que cavalgando, e me tirares
para a dança, nossos corpos levemente bailarão num salão iluminado pelas cores
da aurora. Isto agrada-me muito. Quero tocar-te quando, com passos
ardentes, cingires minha cintura.
Porém não te alcanço os bailados. Cada passo teu,
marcado no meu piso, ecoa teu cheiro, teu gosto, tua cor. Entre eles deliro.
Coloco-me sobre um espelho e nossas cordas
tornam-se simpáticas pelo fenômeno da acústica programada para este fim. Sobre
o mecanismo dessa linguagem bailo até que se finde a leitura das nossas notas.
Terminado o teu acorde, acordo, dou-me corda novamente e fico a bailar, até
que, não havendo acordo, fecha-se esta caixa de desejos que sinto de dançar uma
música contigo.
Estarei na vitrine da joalheria expondo a minha
dança, até que alguém me compre e te presenteie comigo. Quando me
abrires, penetra meus volteios. Bailemos sobre a superfície do vidro, e se da
tua valorosa valsa eu estiver embriagada, como o súbito de um sequestro,
esconda-me no compartimento das minhas joias. Refugia-te no lago da minha
aliança, para que o teu cisne se regozije da umidade do meu palco. Depois,
repousa teu cansaço nas pedrarias dos meus adornos.
Se uma nobre plateia, gritando blasfêmias,
separar-nos antes que termine a melodia, fecha a cortina do nosso espetáculo,
volta aos braços dela, alteres os teus passos, a tua cadência, o teu som.
Comemora com ela a tua apoteose e que, da tua trombeta, soe o meu toque de
recolher.
As cores se apagarão, o compartimento se escurecerá
e, no ocaso, os flashes se acenderão sobre o desejo cicatrizado da pobre
bailarina que dançou delírios e continua exposta na vitrine,
esperando que alguém me veja com os olhos d’alma e me queira levar,
aproximando nossas épocas e nossas utilidades.
Que no ritmo do meu pulsar que pede, o timbre
do meu espaço revele a nobreza de quem me valorizou, fazendo-me presente.
E que comigo dance o presenteado. Que ele aumente minha ressonância e modernize
minhas estruturas, acentuando o som das minhas melodias. Se fores tu, dancemos. Quero dançar uma música
contigo. Como quero!
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