Fui literalmente assaltada hoje
Hoje saí toda exibidinha, caminhando sob um sol
pipocante de Araçatuba, com os óculos
escuros que me custaram os olhos da cara e ainda não terminei de pagá-los, planejados
exatamente para os meus olhinhos mancos, calcei meu par de sandálias
confeccionadas sob medidas para proteger os meus pés parafusados e enxertados e fui ao médico, carregando
alguns quilos de exames.
Não tomo
atitudes sem antes me proteger com orações. O que deu errado hoje? Cheguei na
clínica, espaço bonito, ambiente climatizado, secretárias super simpáticas e o
negócio tomou o rumo dos acontecimentos. Primeiro senti o coração acelerar. “Tire a bolsa”, aí o sangue já foi à cabeça,
depois os óculos, que nem acabei de pagar. “As sandálias” . Quando coloquei os
pés no chão gelado o coração ferveu de vez. Pensei “se essa criatura MANDAR eu tira
as roupas eu tô lascada”.
Amarrada à minha humildade ainda pedi: - me devolve
pelo menos um, por favor!
Nunca peguei nada de alguém, faz parte da minha
educação. Transmiti esse legado aos meus filhos. Consigo ver a imagem da minha
avó ralhando com os netos, educando-nos sobre o perigo de bulir com o que não é
nosso. E ela me veio nitidamente à
memória naquele instante. Minha avó era austera, porém honesta. “O que é dos
outros não é nosso.”
- Só um, moça! –
eu tentei seduzi-la.
- Não!
- Olha, moça, os ponteirinhos estão se mexendo (eu dava uns
pulinhos na balança) o peso é uma conquista dos meus últimos anos, por favor, anote mais um quilo aí na sua
ficha. Essa balança é mais velha que eu, precisa ser trocada. Eu não perdi esse
peso, não!
Ela mandou eu pegar minhas coisas e aguardar na
recepção que logo o doutor me chamaria. Nem olhou mais para a minha cara. Também,
eu nem queria mais conversar
Voltei rindo para casa. Estou rindo até agora.
Rita Lavoyer
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