POEMA CLASSIFICANO PARA A 13ª EDIÇÃO DA REVISTA MAR DE LÁ.
O torrador de café
Em homenagem à minha avó ALZIRA ESMÉRIA BARALDI (In memóriam)
Os
alimentos que me eram servidos na infância
registram
minha história, meu tempo, meu lugar,
minha
família, meus grupos, meu credo: minha procedência,
enredo
da minha existência.
Estimularam
meus sentidos e,
por
eles saciada, embora de pouca idade,
já
conhecia meus sentimentos,
reconhecia
minhas necessidades.
Os pratos, por minhas percepções reverenciados,
trouxeram-me
viva até aqui, prenhe de saudade
dos
temperos da minha mãe: Mulher que fez
da
concha das mãos, algumas vezes, meu prato e meu talher.
Mas
as misturas de sensações, as sinestésicas,
essas
que me fazem parir delícias manhãs após manhãs,
quem
produz são as lembranças do torrador de café
que
minha avó ajustava sobre um fogão de barro
feito
por ela no fundo do nosso terreiro.
Ela
chamuscava um galho e outro
e,
com o encanto dos seus assopros,
sua
engenharia transformava-se em fogareiro.
Ela
me permitia girar aquele aparelho!
Verdadeiro
instrumento de apreender sentidos.
Eu
o girava e, o contínuo movimento de rotação
somava-se ao meu presente, colocando no eixo
o
meu futuro e o meu passado.
Extasiava-me
ouvindo o bailado dos grãos do café
sapateando
nas paredes daquele salão quentinho.
Todas
as manhãs aquele mormaço me beija a face,
aquela
fumaça me aquece a alma,
aquele
cheiro me revolve o útero
e
eu gozo, nutrindo meus olhos,
vendo
aquele fluido de prazer atravessar o coador.
Um
voyeurismo que me enche a boca d’agua.
E
eu o tomo. Passado na hora.
Presente
dos deuses para o tempo que se segue.
Página da Revista Mar de Lá na qual se encontra este poema classificado
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