UMA CAMINHADA PELA MINHA
RUA
Sempre que ando pela
minha rua começo na contramão. O engraçado é que eu moro no primeiro número da
Euclides da Cunha , nº 11 e ela corre ao
contrário. Ela já foi do bairro rumo ao centro, agora o contrário, foi dupla,
não foi mais. Outra parte dela continua sendo. Ainda bem que pedestre ainda não paga multa
por infração de trânsito. Se essa moda pegar os transeuntes da Euclides da
Cunha vão perder alguns pontos em cada perna. Porém continua um sossego transitar por ela. Hoje, andei
desassossegadamente, atravessando de uma calçada a outra, em ziguezague.
Estava fresquinho de manhã,
confiei no mocinho do tempo e sai agasalhada. O vento batia gelado nas minhas
orelhas, estava gostoso! Sem demora as duas começaram a queimar e o suor
escorrer pelas costas. Eita! pensei, por
que não botei o meu shortinho para queimar um pouco minhas pernas? A resposta veio logo: Não pôs porque você não
tem! Mentira, eu tenho sim, só não gosto de
usar. Pronto, encerrei o assunto com
minha interlocutora intrometida.
Bem, já que não coloquei
o short, vou queimar os braços. Pensei em tirar a blusa. Estava com um cropped comportado,
quase uma blusa mesmo, e tirei.
Fui costurando a rua, uma
sombra aqui, outra acolá e a contradição dos fatos acontecendo. Arranquei a blusa para pegar sol e fui
procurando sombra, até que precisei
rogar para Nosso Senhor Jesus
Misericordioso ter piedade de mim naquela minha hora derradeira. Foi
uma pancada tão pesada, um soco eu diria, tão brutal, maculando minha barriga e
minhas pernas ao mesmo tempo que me agradeci por não estar de short, e me
repreendi por ter tirado a blusa quando olhei para meu ombro direito.
Como adivinhar que em
plena manhã de clima bipolar, ora fresca, ora quente, seria ferozmente atacada por desavergonhadas maritacas de intestinos desarranjados,
em cima de mim ?
Já não dava mais para
seguir na contramão dos fatos, a realidade me obrigou a vir em direção a um chuveiro
do nº 11. Ah, Euclides da Cunha, se eu já
não soubesse desse perigo, poderia reclamar muito. Na próxima vez, levarei um guarda-chuva.
Essa é uma crônica de
ficção, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Autoria – Rita Lavoyer.
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