Uma
entrevista com Carolina Maria de Jesus – autora Rita de Cássia Zuim Lavoyer
–
Dona Carolina, a senhora pode me conceder uma entrevista? Ah, se sim, não
perguntarei por que a senhora escreve. Li seus livros e as matérias que saíram
sobre a sua trajetória. Sei quase toda sua biografia. A senhora vem de uma
família muito humilde, é filha de negros e nasceu em Sacramento-MG, em 14 de
março de 1914, teve pouco estudo, porém a senhora Maria Leite Monteiro de
Barros, para quem sua mãe trabalhava, a manteve por alguns anos na escola Alan
Kardec. A senhora mudou-se para São Paulo em 1937 e tem três filhos: João José de Jesus, José Carlos de Jesus e
Vera Eunice de Jesus Lima. Sei das injustiças que experimentou por ter nascido
negra, pobre, ter que catar reciclados para criar e alimentar seus filhos
sozinha e ser obrigada a morar em um barraco na favela Canindé. Sei que lia
tudo que lhe caía nas mãos e escrevia em cadernos que achava nos lixos. Considero
a senhora um fenômeno, uma mulher muito politizada e que foi descoberta pelo
jornalista Audálio Dantas. Na obra “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”,
um best-seller, escancarou sua vida e chamou a atenção sobre várias questões
sociais enfrentadas pelos moradores da favela.
Antes que a senhora pergunte, sou José Carlos de Jesus, homônimo de um
dos seus filhos, nasci e cresci em favela, formei-me jornalista e faleci há um
mês, na favela, vítima de bala perdida, cumprindo o meu trabalho, fazendo
matéria sobre a desigualdade social e a falta de oportunidades da nossa gente.
Isso!
Acho que está bom. Quando chegar no outro lado, farei o possível para
encontrá-la e, quiçá, entrevistá-la. Acho melhor me preparar e chegar lá munido
de perguntas.
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