Hoje ela é sogra, mas é de uma época mais antiga. Quando se casou, levou junto um diploma, pois fora ele a razão de seu matrimônio tardio. Numa época em que à mulher eram dadas poucas oportunidades profissionais, ela não se abateu. Foi à luta e conquistou o seu espaço. Era moderna ao seu tempo. O filho demorou a vir, o marido, já envelhecido não o viu formado, não houve tempo; ela, sozinha, fez as vezes de pai e mãe. Eram os dois, filho e mãe em um só, ambos se completavam na ausência daquele que se foi deixando-os na saudade.
E ele veio. O amor veio ao encontro do filho que ela tanto amava. Ela ficava feliz por ver o amadurecimento dele e a vaidade à tona sempre que tinha um encontro marcado com a namorada. Ela, a namorada, veio conhecê-la. O olhar da mãe procurou o daquela moça, mas não o encontrou. O frio daquelas veias penetrou o corpo daquela mãe presente.
Cabia-lhe opinar a respeito da moça para o filho tão apaixonado? Como soariam suas palavras aos olhos daquele coração tão cheio de amor? Calou-se e deixou que o tempo produzisse o seu efeito. O filho marcou a data com aquela moça, formariam família agora. Ela ficaria. A mãe ficaria em sua casa, pois ao filho cabe bater as asas.
Ele se foi deixando numa sala uma mulher completamente sem fala. Demorou visitá-la. Era costume dela deixar a porta destrancada para o filho sempre entrar sem precisar bater. Encontrou-a mais envelhecida num silêncio que destoava com o ranger de sua cadeira de balanço que lhe possibilitava dormir com a cabeça pendida sobre um dos ombros.
_ Mãe? Acorda mãe. Sou eu.
Ele a beijou na testa e o calor do contato fez com que ela acordasse daquele sono de saudade.
Veio sozinho, a esposa não o acompanhou à visita, mas mandou lembranças àquela senhora. A visita foi rápida e, mais uma vez, deixou, naquela sala, uma mulher completamente sem fala. A distância entre os dois foi aumentando e a mãe já não podia falar dela para o filho e nem o filho, sobre ele, à mãe.
Ele voltou um dia para visitá-la, mas bem antes dele vieram as doenças da solidão. Doenças e filho não se entenderam, elas ficaram com a mãe; o filho, foi embora.
O tempo passou muito rápido e um neto ela poderia ver. Mas não iria vê-lo, a visão também resolveu deixá-la. O filho levou aquela mãe para algum lugar onde alguém cuidaria dela. O tempo passou mais rápido ainda. Quando foram buscá-la o neto já andava e falava muito bem.
_ Ela não está mais entre nós. Tentamos avisá-los, mas não os encontramos.
_ Fomos viajar, minha mãe queria aproveitar os últimos dias da vida dela antes que a minha avó viesse morar com a gente. Pai! Avisa a mamãe que ela pode começar a viver de novo, porque a vovó morreu.
Àquele filho, agora pai, não restou mais nenhuma oportunidade de beijar a testa daquela que fora a sua mãe.
Um comentário:
não achei aopção pra seguir seu blog!
Postar um comentário