_ Eu sou o diretor!
Foi assim anunciado,
mas tudo começou
sem ter sido planejado.
Coitado! Distribuiu o “script”.
Eu Sou, um pouco sem juízo,
quis rodar o filme no Eterno Paraíso.
A protagonista resolveu ter um ‘piti’.
O nome era Eva, a melhor artista,
mas queria chamar-se Lili,
o nome da antagonista.
Aquela empurrou esta direto pro abismo,
a pobre foi cair numa área de nudismo.
Expulsa do Paraíso foi pra periferia.
Aconteceu de fato o que Eva queria.
Isso não estava no “script”.
Cheia de garra! Pronta pra guerra!
Pequena tão notável. Com a sua queda
precisou sair de cena.
Salvador pra Lili não havia ali.
Virou um ti-ti-ti sobre a Lili.
Eu Sou foi visitá-la.
Ocultou sua face passando entre as valas.
Desceu lá pro inferno e deixou-se seduzir.
Dentro daquele fogo o que viu foi todo o céu.
Explorou dela o mapa secando-lhe todo o mel.
No leite das correntezas Eu Sou se arrastou.
No profano, foi humano, e a Lili, Ele amou.
Rastejou. Achou naquela menina
uma mina de amante .
Exploraram-se nas fontes sem querer achar o fim.
Alucinante, Ele então se declarou:
“Eu sou seu mundo! Eu sou! E você está toda em Mim.”
Do filme, esqueceram-se os dois.
Aproveitaram o momento
comprometendo o depois.
E o que aconteceu? Ela foi todo Ele,
mas Ele perdeu seu EU.
No afã de se achar Ele chorava, ela ria.
O herói deitou o orgulho porque nada mais via.
Acorrentou-se todo nela para perder o duelo
de pele e pelo. O guerreiro,
daquela guerra foi o primeiro.
Mergulhou de peito e alma
num leito de calma e de ternura.
Deleitou-se o Criador no divã da criatura.
Nesse elo de prazer tão envolvente
afugentou-se dentro dela
e de lá se fez tão ente.
Eu Sou fez isso.
Deu-se luz e fez-se Homem.
Envolto em mar de amor,
com medo de se afogar,
escalou a rosa dele
naquela pedra angular.
Subiu ao Paraíso amargando um pecado.
Olhou o seu elenco
e o que foi que ele viu?
Dois pares de mãos
escondendo o covil.
Pensou: “meu sexo no Paraíso refletira.”
O texto daquele filme
escondia muita mentira.
Uma simples cena fez-se obscena
aos olhos do diretor.
“Vida sem dor” Ele o julgou condenado,
porque tinha dentro dele
sentimentos misturados.
Decidiu, então, pôr fim no que tinha começado.
Na rescisão, à Eva deu Adão e um pedaço de maçã
pra com eles conviver em toda Era Cristã.
À Lili deu o diabo
que também foi bom presente.
Transformar-se em tudo sabe,
mas prefere ser serpente,
que rasteja e faz igual O deus que a procura.
Se humaniza, tem desejos, sente dor.
Rastejando-se aos pés dela,
deus-Homem implora o seu amor.
Essa é uma história de um filme não rodado,
mas pra ter vida sem dor até deus trai o diabo.
Poesia vencedora do concurso “Osmair Zanardi”, 2007.
Um comentário:
Até em poesia...mulheres! Então a Piti estava de olho na Lili da outra. Leila Lopes saiu do Paraíso e foi para periferia do filme pornô, saiu de cena , a pobre.Devo dizer que vc não esta mais sozinha na galeria dos vencedorews do prêmio Zanardi...I AM, TO. Recebi-o,ontem, na festiva da AAL, na Câmara.Devo-o tbém a vc, pelo que te sou grato...gosto muito de ti, amiga Rita Lavoyer. Quem diria? Eu que vivia dizendo : eu mato esta desgraçada que fica arrumando pelo em ovo nas minhas crônicas...aquelas do primeiro livro de contos que a Folha publicou. Deus escreve mesmo daquele jeito...
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