Acreditamos que cada época histórica tende, em seus registros, a despertar o sentido de novas descobertas e problemáticas. O grafite vem respondendo a essas necessidades, dando sentidos novos à história do ser humano e aos modos como vive. Assim se deu na década de 70, quando se vivia um período de turbulência e opressão do regime militar. Nesse percurso histórico, surge em meio ao “cinza” e “pálido” futuro, uma nova consciência das coisas manifestadas pelos textos do grafite.
Essa consciência da impermanência das coisas, da passagem do tempo e dos problemas sociais caracteriza os textos do grafite, tentando penetrar nessas realidades através de suas enunciações e de seus enunciados.
O texto grafite narra a história pelas inscrições nas paredes e muros das urbes. Sua trajetória procura constituir, pelos e nos textos, o mutável, porém, mais fundamental que qualquer coisa para os processos de sentidos e significações do grafite, ele se define em si mesmo, com uma condição de partilha, de condicionamento e de realizações, divide com a população das cidades contemporâneas as condições de vida, os acontecimentos, o lúdico, as emoções vividas.
Entendemos que ler e escrever são atos comunicacionais, mas pintar, gesticular, dançar, grafitar, pichar, também. Essas e outras manifestações humanas são fundamentais e essenciais na comunicação, e devemos considerá-las para assumirmos convictamente nossa condição de bons receptores e produtores de textos, conscientizando-nos das possibilidades de participação social por meio da comunicação.
Os destinadores do grafite são adolescentes, meninos e meninas, homens e mulheres que desejam ter sua voz e vez expostas aos olhares dos outros sujeitos. As escolhas do local e a do suporte são importantíssimas, uma vez que ter escolhido estar ali, nos muros e paredes, para se contrapor à manifestação dos meios de comunicação social do grupo dominante é fazer ser visto como é possível, já que se manifestar pelos meios dominantes não é sempre possível.
Ao provocar uma mudança nos estados de alma dos que passam e veem , os textos do grafite e seus destinadores não serão mais tratados como marginais ou transgressores, mas sim, como sujeitos articulados e integrados à sociedade, inseridos e não excluídos, como aconteceu na maioria das vezes.
Rita Lavoyer desenvolveu trabalho sobre grafite para conclusão do Curso de pós-gradução em Linguística –Unesp- na área de semiótica.
8 comentários:
...e pelo visto tirou nota máxima. Falou com propriedade sobre esta manifestação de arte. Por sinal, vi uns trabalhos em Curitiba que me deixaram impressionado...coisa de gênio.
O grafite é o espírito das ruas.
Tanto é verdade que o mais conhecido é o fictício Roy, de origem norte-americana. "Roy was here" e "Roy, the spirit of walls", ou seja Roy esteve aqui; Roy, o espírito das ruas.
É uma pichação tradicional, tudo levando a crer que o homem quer se libertar da cadeia de edifícios que o cerca.
Carinho,
Jorge
Querida Rita,
Como sempre seus textos dão prazer de ler e refletir.
O tema em questão é rico e atual. Se me permitir, gostaria de trabalhar com meus alunos seu texto, considerando, claro, os devidos créditos de sua autoria.
Grande abraço,
Genny
Tese, ficção ou reflexão, sua escrita é sempre rica e inspiradora. Um beijo e parabéns.
Esta linguagem não nada mais que uma vertente da arte, temos que considerar que cada um dos que querem expressar-se tem um diferente tom, cores e temas. E os painéis tem que alegrar e embelezar os muros e paredes das nossas cidades.
Os temas que as vezes não agradam a todos, mas, o que se ha de fazer, se tem arte para todos os gostos e poder aquisitivo?
Como pichação só vejo como uma agressão ao nosso visual.
Realmente suas considerações são dignas de uma tese em sua pós graduação.
Parabéns
Hoje foi o tema lá no Conselho. Providências estão sendo tomadas para se aferir exatamento o fato, suas consequências e responsabilidades. A Secretaria da cultura do município e a do Estado serão procuradas´para dar à sociedade e ao Conselho a explicação necessária.
Parabens pelos posts sobre grafite admiro muito essa forma de manifestação artistica!
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