Autoria – Rita Lavoyer
Não é carente, tem até cartão de crédito porque é muito
insistente. Grudada num celular leva tudo numa boa, quando sai de casa diz: -
“To sainu meus coroa.” . Menininha educada! Tem tamanco salto alto e minissaia
jeans que está toda assinada com o nome da garotada. Tem jeitinho cabra-cega, é
ligeira como lebre. Sabe dar beijo de língua que enlouquece os moleques. Na
escola não se enrola e faz tudo direitinho. Descola sempre uma cola debaixo do
vestidinho. “ Nóis vai, nóis foi, nóis fumo” é o jeito como fala. Faz continha
com os dedinhos e nunca fica dividida. Menininha desse jeito multiplica-se.
Moça independente
Tem diplomas nas paredes e fala muitos idiomas. Dirigi o
próprio carro e não mora mais com os pais. É jovem evoluída. É profissional bem
instruída. Ocupa cargo de chefia e comanda muitos homens. Quando ela dá as
ordens todos lhe respondem: sim! As amigas que ela tem, inteligentes e saradas,
estão no mesmo patamar. Como o reto acaba torto, muitas não acharam, ainda, um
homem para formarem par.
Madura
independente
Toma decisões sozinha por não ter ninguém por ela. Conhece,
desde a infância, o peso da labuta. Na luta, virou máquina e trabalhou feito
uma louca para conquistar o seu espaço. Quando virou bagaço o patrão mandou-a
embora. Voltou-se para o lar e virou esposa e mãe. Agora estão criados, os
filhos e o marido. Prometeu a ela mesma que o seu espaço ninguém lhe toma. Vai
toda noite à escola para conseguir o seu diploma.
Idosa independente
Agora, aposentada, sabe viver a vida. Não casou, não teve
filhos, mas tem muitos sobrinhos. Trabalhou e viajou, conhece a metade do
mundo. A outra metade diz que vai conhecer com as amigas. Vive rindo, leva tudo
numa boa, mas quando todos se recolhem fica, só, com as paredes. Jura com os
pés juntos não ter medo de fantasmas. Fala para todo mundo que joga carteado
com um antigo namorado que queria por esposo, mas, coitado, morreu tuberculoso.
Dona independente.
Ao som de Roberto Carlos, este homem, este mariiiidoooo , compôs esta canção.
O dia nem começa e eu levanto para coar o café. Preparo a
mesa e tiro a criançada da cama. Volto para o nosso quarto e visto a farda em
minha dama. Ela pega a pistola e ajeita na cintura. Eu ponho as crianças no
carro para levá-las à escola. Ela entra no camburão e eu a vejo ir embora.
Volto logo para casa, vou lavar a roupa suja. Espano a poeira, varro o chão e
vou correndo à quitanda. Eu quase posso ver os dedos dela deslizando no
volante. Fico imaginando o seu charme vistoriando um assaltante. Enquanto passo
o seu vestido vou fazendo uma oração. Peço ao Pai que a proteja nessa sua
profissão. A minha rotina é sempre esta, sou um gato borralheiro. Fico em casa,
sou doméstico, minha dona é quem traz dinheiro.
O som da sirena dela abre passagem em minha pista. Quando
ela chega do trabalho sou eu quem a revista. Ela se envolve em meus braços e eu
me prendo inteiro nela. Eu a deito no chão encerado e arranco os seus coturnos.
Massageio os pezinhos dela, eu a faço Cinderela. Controlo a minha vontade de
amá-la ali mesmo. Ela sabe que eu quero ser o seu eterno preso. Ponho as
crianças na cama e jantamos a luz de vela. Na rotina dos nossos lençóis ela me
transforma
E que Deus o abençoe com esse mulherão! Homem maravilhoso.
Amiga, a torta de sardinha que esse homem faz deve ser uma delícia!
O quê?
Está brava porque eu não a mencionei neste texto? É mulher
independente, trabalha fora, fala vários idiomas, ganha muito dinheiro, é
realizada no matrimônio, teu marido é profissional realizado. Teus filhos são
os melhores alunos da classe? Faz viagens pelo mundo? Joga baralho com as
amigas, com suas funcionárias também? É jovem e bonita e muito feliz? Nem TPM?
...
Perai!... Um colosso igual a você não cabe num espaço pequeno igual a este.
Você já está na odisseia, querida! Além do mais, esta coluna
aqui é para as ‘MULHERES’ de carne e osso, não para seres mitológicos. Psiu!
Quietinha aí! Não tenho medo de você! Falsaria. Pensa que eu acredito em mar de
rosas? Além do mais, como as suas estruturas conseguem carregar uma grandeza
como você, hã?
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