MEU ROSTO, MINHA CARA.
É, minha cara, descubro, vez e outra, que não tenho uma face só minha, mesmo porque muitas delas perderam-se nos espelhos intimistas do meu dia a dia. Meu rosto não é meu. Não somente. É de uma entidade, de um colegiado.
É uma reunião de histórias, de passados, de gente desbravando tempos, de acontecimentos, de insucessos, de choros, de conquistas poucas.
Este rosto com o qual me vejo também é daquela menina com sorriso banguelo, a Maria, que apenas sorria e dizia: “Bom dia!”.
É de bichos indomados e dóceis que viviam juntos na mesma gruta. Este meu rosto tem relva, tem terra, tem valas, tem velas, tem choro, tem morte, tem túmulo e tem saudades. Muitas! Tem depressão: irregularidade de relevo em níveis consideráveis, como o meu espelho.
Este meu rosto, algumas vezes, é uma linha de alma e de carne; outras, uma enxada sem cabo e sem corte, perdida no matagal propício a queimadas que não despertam mais nem gozo, nem tormento. Quando ele é nuvem, os músculos são paisagens. Há heranças e herdeiros no meu rosto, que creem que o encanto existe.
Farei uma encomenda! Desejo uma fotografia... em que para sempre me ria como um vestido de eterna festa. Nela, quero meu rosto vivido com humanas companhias, as minhas, em todos os seus tempos.
É, minha cara, no teu espelho estamos nós. Este meu rosto é a minha cara. É nele que encontro a minha face.
Inspirado nas obras de Cecília Meireles: Lua adversa; Motivo; Quando meu rosto contemplo; Retrato; Ou isto ou aquilo; As meninas; Encomenda.
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Autoria- Rita de Cássia Zuim Lavoyer
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