Diabo de sete faces
Oi, seu Drummond, ainda que mal
pergunte, senhor tá bonzinho? Vim lá de Itabira só pra ter um dedim de prosa com
senhor, não sabe? Ainda que mal respondas, vou me sentar aqui do seu ladim,
olhando esse calçadão bonito, sentindo a maresia cafungando nosso cangonte,
neste mundo, vasto mundo. Então, o furdunço começou por causa daquela
“quadrilha” que o senhor inventou. Disse que o João amava Teresa que amava
Raimundo que amava Maria. Lembra? Uai, não sabe que a Maria sou eu? Por causa
desse fuxico o Joaquim rompeu o casamento. Pensa que é só para os Josés que a
festa acaba, a luz apaga e o povo some? Para as Marias também. Fiquei só! Nos
ombros suportei o mundo injusto e repleto de sofrimento. Esqueci emoções, passei
a cantar o medo. Encontrei muitas pedras no meio do caminho, mas chegou um
tempo que entendi que a vida é uma ordem e que tenho apenas duas mãos e o
sentimento do mundo. O que qu’eu fiz, seu Carlos? Abri seu livro de Receita de
Ano Novo e vi que com o novo se come, se passeia, se compreende, se trabalha.
Num é que comecei a fazer pão-de-queijo e tô ganhando dinheiro? Vim passear e
agradecer o senhor pelo fuxico da “quadrilha”, que foi ruim, mas agora está bom.
Descobri que o Joaquim é um diabo de sete faces. Uai, não sabe? Deu de andar
com a Lili, casada com um tal de Pinto que não deu mole, quebrou uma perna dele
dentro de um bonde cheio de pernas. O diabo ficou coxo. Oia, ainda que mal me
saibas, acho bom senhor descruzar suas pernas, senão ficam atrofiadas, como vai
ser gauche na vida, se fica aí, feito estátua? Eta vida besta, meu Deus! Óia,
seu Carlos, o tempo é minha matéria, eu vou é viver com os homens, eles, pelo
menos, compram pão-de-queijo.
Autoria-
Rita de Cássia Zuim Lavoyer
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