POEMA CLASSIFICADO NO 1º CONCURSO DE POESIA DO JORNAL MARIA QUITÉRIA - BA, 2023
Um minuto de silêncio a essas mulheres-mães.
Rita de Cássia Zuim Lavoyer
Um minuto de
silêncio! – Gritou
a parturiente, que no martírio do parto,
da mulher uma
cruz, pressentiu que à outra estava dando à luz.
No tormentoso
instante, sua história se tornou a da infante.
Santa oração proteja, no
seu silêncio, quem está para nascer
e a sua luta, pois sendo
menina-mulher pouco a deixarão falar,
porquanto o futuro
dependerá dela e de sua labuta.
Oh, oração tecida nas
rédeas do rosário, a menina-moça tem carne à mostra,
proteja-lhe a castidade. “
– Deve virar mulher! Passou da hora!
Não importa se gosta ou
quer. Tendo esposo honrará o título de senhora”.
Com filhos nos braços,
feridas na alma e estigmas na carne,
essa fortaleza aprendeu,
sem alarme, engolir muita pobreza.
Pau para toda
obra. Quanto mais ela se cala, mais a vida lhe cobra.
O senhorio com quem a
casaram partiu. Ela abraçou os filhos, foi arrimo,
resistiu e orou. Oh,
oração da saúde, ajude-a a carregar as doenças
que a acometeram. Ela
semeou o pão, sua prole e a vida o comeram.
Com salário de fome
sustenta tantos homens...
Amparou-se no suporte do
sigilo, no asilo do silencio que a clama,
veja!, ela doa suas
sobras, para ver livres aqueles que tanto ama.
Oh, oração serena, que
ela faz quando se deita para descansar.
Que seu corpo não pare
agora, seria um contrassenso,
ela sabe que a vida ainda
quer muitos anos do seu silêncio.
Oh, oração infinita, nesta
mártir infligiram-lhe uma cruz.
Acreditou estar na
privação a salvação da sua vida.
Virou empecilho. Nada lhe
restou além do amor aos seus filhos.
Encerra-se aqui a sua
história! Agora não reza mais.
Eleve-a em sua glória. Que
seja ela exemplo, luz e abertura
às vozes de suas iguais, interrompidas
numa vida de clausura!
Um minuto de silêncio à
essas mulheres-mães tão castiças
que se foram e, como elas
ainda se vão, por receberem do sistema
que as submete, como
legado, a injustiça e a solidão.
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