A HISTÓRIA DE UM GRANDE HOMEM
Por Rita de Cássia Zuim Lavoyer
O
meu avô Vitório Segundo Baraldi soube “o que”, “como”, “para que” e “para quem”
viveu. Viveu intensamente sua humildade e dela brotou sabedoria que transbordou
pelos ambientes por onde se registrou como “ser humano”. Ele foi um humano que realmente soube ‘SER’.
POR ISSO CONTINUA SENDO NOSSO AVÔ, NOSSO PAI, NOSSO AMIGO e DE TANTOS AMIGOS.
Ele é inesgotável. Escrever sobre ele não basta. Sempre haverá histórias sobre
ele e dele, porque era exímio contador de fatos e relatos dos seus antepassados . Era um baú de conhecimento
da cultura dos seus queridos. Um agrônomo nato. Sabia perfeitamente o tempo do
plantio, da colheita, quando ia chover ou estiar. “O homem do tempo da sua época”, expert
em meteorologia.
A ele não eram necessários “os
porquês”; os “para quê” com os quais nos presenteava em seus
ensinamentos remetiam-nos para o futuro, um futuro que ele sonhava maravilhoso
para seus netos e bisnetos. Era respeitoso, apaixonado por nós e nosso torcedor
de carteirinha. Se defeitos tinha suas virtudes souberam aplacá-los. Aos
domingos comprava sua cartela de bingo para concorrer a um frango assado. Como
ele não vivia de sorte, mas de fé, a cartela dele era sempre iluminada. E o
franguinho assado de máquina, o seu preferido, estava sempre garantido. Houve
uma ocasião em que o proibiram de comprar a cartela, porque os participantes das
jogadas estavam reclamando que somente ele ganhava. Chegou tão chateado em
casa, quase chorando. Lembro-me desse episódio, contado por meus primos.
Para quem ama não é fácil
suportar a morte do SER amado. Porém
quando o SER amado é imensamente grande, por ele o luto vai se dissolvendo e
entendemos que não há partida, um “adeus”
e nunca mais. Há uma separação física e a essência do amor não se
dissolve, logo não há despedida. Sofremos saudades, que se transformaram em
lembranças, em pilares fortalecidos, não
em tristeza, porque ela já passou. Ele continua sendo o pai, o avô, o bisavô, o
tio, o amigo de muitos. Ele e o nosso
amor por ele continuam vivos porque tudo o que ele nos disse, nos ensinou e o
que vivemos juntos continuará latente no seio da nossa família. Por todas as
experiências que vivemos juntos, ainda sei encontrá-lo dentro de mim, respiro
aliviada, me reconstruo com seus ensinamentos, o liberto e a nossa conexão
permanece. É o meu avô, carinhosamente DINHO.
Seguem aqui uns versos simples,
como ele era: simples, que compus para o meu avô Vitório Segundo Baraldi.
*-*
A história de um
grande homem
A história que eu vou contar faz
calar na garganta as palavras. Busco no coração
palavras cheias de amor para
falar de um homem que nasceu para viver
nesta Terra. Um italiano, velho de guerra,
fugiu puxando pelo braço a mulher
que trazia no ventre aquele que é o meu
avô. Eu conto esta história do jeito
que a vida contou:
Oh, Terra mãe! Que faz brotar verde esperança, alimenta qualquer
criança que à luz ainda não veio. Se faz inteira, esteio. É
fogo, é água, é ar. É para o homem o seio. E ele veio! E ele veio!
Na primavera de flores,
mulher-terra dava à luz nos
bastidores do céu. Carro de boi tocou, foi doutor na enxada e muito verde ele salvou. Foi lavrador. Do
que plantou colheu. Colheu frutos do amor.
E nesta Terra de gente tão auriflamense, muitas foram paridas
entre os verdes que de suas mãos
brotaram. Foi lavrador. Do que plantou
colheu e os seus frutos o amaram.
De seu canto, em qualquer canto,
ele é o menestrel. Soube receber da Terra todo seu leite e mel. Quando me chamava eu ia. Se o ouço ainda vou. Se faço canção pra ele, regozijo-me
com a voz do meu avô. No meu medo de criança ele acendia a luz e a luz do
brilho dele no meu mundo eu sempre pus.
Os seus dentes que não tinha
iluminavam o meu sorriso, a alegria que me deu é meu mundo, meu paraíso. Os cabelos de brilhante caindo-lhe sobre a
testa são as joias de um homem que
aparou tantas arestas.
Hoje a Terra abraça feliz, dentro do seu ventre, o meu querido avô. Um
velho homem que só levou o que colheu: Tudo o que a Terra precisa para lhe matar a fome. Ela brotou uma criança e recebeu um Grande Homem.
Você, meu grande avô, que nos foi
tão grande pai, aos meus irmãos e a mim, essas linhas que lhe escrevo são apenas um agrado, pois bem
sabemos nós, que o amamos, que a sua história não tem fim.
Não duvidem desta, minha gente. Minha gente,
esta história eu vivi.
Meu querido avô, o senhor nunca
sumiu das vidas que o senhor marcou. Vivo está!
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