Onde as recordações se
aninharam.
Lembro-me sempre dos
causos contados pelo meu avô Vitório Segundo Baraldi, o DINHO, sobre quem já
foi publicado nesta página.
Ele nos contava histórias
de quando seus pais vieram da Itália.
Contava e recontava que no navio, para acolherem uns aos outros, distraíam-se
ouvindo causos que ouviam naquelas terras banhadas pelo Mediterrâneo. Se para cada
conto, ou causo contado, eles aumentaram um ponto, já não sei dizer.
O que sei dizer, digo porque
ouvi. Contam, minha mãe dona Dirce, minhas tias Antônia e Adélia, com grande
orgulho de guardarem em suas memórias - os lugares onde as recordações de suas
infâncias se aninharam -, que os seus avós italianos ANTONIO BARALDI e DIRCE
MAÇONI BARALDI, depois que aportaram no Brasil, foram apear em Vila Elisiário, que
hoje pertence à microrregião de Catanduva. Dali rumaram para um matagal que logo recebeu
o nome de Vila Áurea. E com eles se achegaram mais pessoas, demarcando terras,
formando famílias. Desenvolveram a agricultura, formaram uma comunidade
Minha mãe repete sempre a
mesma história, que quando ela era
criança, com suas irmãs, e seus pais
ALZIRA ESMERIA DA CONCEIÇÃO e VITÓRIO BARALDI, moravam numa casinha de barro no sítio dos
avós Baraldi que, segundo ela, se chamava Fazenda Limoeiro. Os avós maternos da minha mãe, dona ANTONIA ESMÉRIA
DA CONCEIÇÃO e Senhor J0EL MARTINS DE ANDRADE, tinham um sítio que se chamava
Sítio Andrade. Elas contam e recontam sobre os vizinhos daquela época. Moravam,
no fundo da Fazenda Limoeiro, as famílias Felisbino, Primo Polo, Luciano Polo e Marqueti. Do outro lado ficavam
as famílias Rincão, Mário Hermogenes e Hermínio Marqueti. Do lado esquerdo José
Barbosa, Moacir Camargo. Finalmente Olivio Mereti. Em frente estavam Senhor Servino de Abreu, Pedro Dias Barbosa e
César Lulio, mais a frente, descendo,
encontrava-se o sítio do avô Joel
Martins de Andrade. Próximo ao sítio do José Barboza estava a família de Benedito
Cândido Ferreira.
Voltando às contações de histórias,
minha mãe sempre conta que logo ao cair do sol, nas tardes de sábados, a casa dos avós BARALDI
fervia com essa vizinhança que vinha montada em cavalos, só para ouvir as
contações de histórias do avô dela, o ANTôNIO BARALDI, o Nono, meu biso. Ela
adora se lembrar e contar que sua avó Dirce, a Nona, cheia de alegria corria
preparar o café e servir para os homens que pitavam, bicavam o café e ouviam as
histórias. Servia-lhes tijolo baiano com requeijão. Sovava a massa, fritava e oferecia
bolinho àquele povo todo. Por ali havia uma fartura de alegria que não tinha
fim. Seu tio (da minha mãe) Hermínio Baraldi moía cana para servir garapa.
Ela também conta dos outros tios Faustino, Erasmo Jácomo, Ozírides, Argemiro,
Ergídio, Ecizira Ursulina Baraldi. Enquanto as contações de histórias varavam
madrugadas dentro de casa, à luz de lamparina, as crianças, contavam mais de 50
(ela que contou), brincavam no terreiro de café.
Penso se esse povo não
tinha medo de retornar para suas casas de madrugada, atravessar um matagal depois
de ter ouvido histórias a noite toda porque saíam de lá benzidos, porque eram abençoados
pelo aconchego da chegada e protegidos pelas bênçãos da Nona, em suas partidas. Até chegar
o próximo sábado e todos se reunirem novamente.
Meu avô tinha um vasto
repertório, era bom no ofício da narrativa, humano demais para contar histórias
assustadoras para os netos. Disse-lhe, um dia, que compraria um gravador para
gravar as histórias que ele contava, depois as transcreveria e publicaria um
livro. Nem comprei o gravador, tampouco gravei suas histórias. E o tempo passou
tão rápido. Lamento tanto. Mas ele está bem
pertinho de mim, ajudando-me a compor as
minhas, e com ele aprendi que contador de histórias não põe
limites em suas “inventices”. Mas o que
consta nesta narrativa eu não inventei, só conto de ouvir falar.
Gostaria de postar fotos
dos meus bisavôs, os que constam nesta história, mas naquela época não faziam
selfies. Para homenageá-los, posto aqui, como gratidão aos meus antepassados,
minha família, metade sangue Conceição Andrade, outra Maçoni Baraldi. Somos
eles e mais as recordações deles que se aninharam em nós.
Deus os abençoe e muito
obrigada à essas famílias mencionadas que passaram pela vida da minha família e
deixaram um pouco do que eram para nós.
Autora- Rita de Cássia
Zuim Lavoyer
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