PERMITA-SE
Hei, cara, permita-me
ser,
assim, do jeito que
nasci.
Sou por mim tão querido!
Queremos, eu e meus
iguais,
do mundo variegar o
colorido.
Não julgamos nossas cores
melhores que a sua,
respeitamos-lhe a
identidade.
mas se juntar a sua às
nossas,
elas ficarão ainda mais
belas.
Permita que nos velhos
olhares
despontem inspirações a
uma nova aquarela.
Não busque impedir a
biodiversidade,
o conviver com suas
peculiaridades!
Somos, eu e os ativistas
da nossa causa,
parte dela! Da natureza
emanada!
Por que nos deseja
extintos?
Em que o nosso biotipo o
desagrada?
Hei, rapaz, permita-me,
com meus recursos, viver
como sou,
deixar à vista o que de
diferente há em mim,
em virtude do que a vida
me doou,
para que, com a minha
diferença,
eu possa dialogar
pacificamente
– aprender com alegria
que também
tenho talentos imanentes
– fazer-me crer que com
ela conseguirei
apoios quando sentir tristezas,
– ser uma razão para que
me respeitem
com as minhas verdades,
e, com ela – a diferença –, redescobrir,
nas minhas entranhas,
minhas fortalezas.
Temos o que somos,
e estamos da justiça
carentes.
Não tente! Não nos
afugente da sociedade.
Hei, companheiro,
permita-me
caminhar entre os seus
para que eu possa viver
seguro
em companhia dos meus.
Não arme arapucas para
nós,
rompendo-nos o passo.
Não nos apedreje, não nos
sangre
e do nosso sonho não
subtraia o espaço.
Não nos difame, não nos
agrida as emoções,
ou o nosso sonhar.
Não nos dilacere a alma,
não se permita,
por suas feridas, nos
odiar.
Sou mais uma ave colorida
com feição definida.
Por isso não me calo.
Além de querer melhorar o
que sou,
descobri que consigo
amá-lo.
Hei, colega, permita-me
dizer aos “perfeitos”,
que há tantos como eu,
excluídos.
Mesmo sofrendo,
respeitamos os que,
por conceitos não trazem
olhares coloridos.
Feridos, renovamos nossa
pluralidade.
Somos pássaros que da Paz
trazemos o manto.
Pela graça da vida,
estamos incluídos
nas diversidades para
embelezá-las.
Não trazemos munições.
Nossas nuanças não querem
matar-lhe o canto!
Nas gaiolas dissimuladas,
compostas por aversões,
experimentamos os ferrões
e as navalhas dos que se
dizem espadas,
viris, valentes, mas, em
suas valas,
por seus transtornos, se automutilam
com seus sentimentos de
rejeições.
Hei, permita-me chamá-lo
de você, de meu irmão,
de meu amigo. Converse
comigo!
Sei do meu gênero. Sabe
do seu?
Sou todo zodíaco, da raça
humana!
E você, é da “ariana”?
Por que foge, se camufla
e volta com bando
e em nós insufla sua
violência?
O que dói no seu olhar,
no seu corpo,
no seu pensamento, na sua
existência
quando vê criação como
eu?
Por que necessita
agredir, com sua frieza,
a nossa natureza?
Incomoda-o não sermos
formação
da mesma costela?
São imensas as nossas
florestas.
Por que deseja que a sua
intolerância
seja maior que elas?
Nelas cabem nossas cores,
nossos voos e nossos
cantos!
Observe-as e apararemos
nossas arestas!
Hei! Permita-me, com esse
voo que é tão meu,
ser do gênero que eu
quiser.
O meu voo, não precisa
imitá-lo!
Sem resvalo, faça o seu
como lhe apraz,
valorizando do seu voar o
matiz.
Evite em você a cólera e
não se faça juiz:
– não nos acuse, não nos
julgue, não nos condene
por não gostar da cor do
alheio arco-íris.
Sei que há diferenças
entre nós
e isso muito o perturba,
lhe é mordaz! Nota-se!
Assemelhemo-nos em alguma
causa:
como eu, permita-se à
felicidade. Seja sublime!
Que a arbitrariedade, por
você, a nós imputada,
não seja a razão do seu
crime.
Não manche de sangue suas
mãos
por um preconceito que
não nasceu com você.
Biografia de RITA DE
CÁSSIA ZUIM LAVOYER - Nasceu 02/02/1967.
Formada em Economia e Mercado (Salesiano); Letras e Gastronomia (Unitoledo);
Pós-graduada em Estudos Literários e Linguística (Unesp) e Psicopedagogia
(Unitoledo). Poetisa, contista e cronista. Possui 11 livros publicados e até a
presente data conta com 82 classificações em concursos literários nacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário