selecionada para compor a antologia A força dos versos
OUSADIA POÉTICA - Rita de Cássia Zuim Lavoyer
Aos pés de uma
Figueira seca e condenada,
alguém lhe
declamou palavras benditas.
Renasceu. Em
florada frutos saudáveis ela prometeu,
desfazendo-se,
assim, de sua sorte maldita.
Adiante passou o
Cuidador das plantações,
trazendo consigo
alguns semeadores.
À vista da
Figueira florida bradaram:
“Blasfêmia
promovida ao Senhor dos plantadores!”
— Adianta-te quem
esta Figueira salvou.
Pronuncia-te quem
reverteu o processo qu’EU fiz!
Não serás por Nós
acusado. Quero saber quem ousou
contrariar-Me e o
que usou, mudando-lhe o cariz.
— Ensinaste-me,
Cuidador, o Teu dom. Feria-me ver esta
Figueira sozinha.
Intuí que pudesse salvá-la.
Aprendi que nas
palavras há beleza que acalma, que cura...
Lapidei as
embrutecidas qu’eu tinha. Economizei minha fala.
Quando as vi em
minha lavra, brilhando, qual joia rara,
confiei que as
luzes delas pudessem ser, para a vida, abertura.
Semeei nesta
árvore, com minha voz, as melhores palavras
que tinha,
arrebatando-a de sua morte, de sua amargura.
Se a vês vistosa,
com flores caindo em cachos
e seus frutos a
forrarem o chão, confesso-Te: Isto eu queria!
Salvemos outras
igualmente secas com as palavras que
soubermos usar.
Valorizei as minhas! Brotou em mim poesia.
Sabe, Cuidador das
Plantações, a Poesia revive, sem alarme,
corpos em
letargia. Abranda desassossegos das senzalas...
Qual recurso usei
aqui? Extraí das palavras as essências.
Se há as que
ressuscitam, Senhor, as minhas vou semeá-las.
Aprendi: posso ser
poeta! Não vou, nesta feita, calar-me.
O que fora retrato
de morte hoje é vida, é sonho e é sombreira!
Queres
apresentação melhor? Esta imagem não é uma?
Vê! Inflama alegria
o que seria matéria para fogueira.
Para esta
Figueira, outrora seca, há tantas comparações...
Palavras me habitam
e cogitam, sem castigos, outras formas de amar.
Há milagres nelas,
se as lapidarmos com fé melhorarão feições!
Descobri, Senhor,
que as que matam, o Poeta usa-as para salvar!
Se compreenderes
que há salvação na Poesia,
chamar-me-ás, por
antonomásia, Poeta:
aquele que na
desordem do tempo põe harmonia,
evitando com
beleza a eutanásia do Planeta.
Contrariei-Te?
Usei da Palavra a alma, não quis à Figueira o mal.
Ousei! Mas, na
qualidade de Teu discípulo, Mestre,
se argumentos
tiveres contra o meu excesso de fé,
submeter-me-ei a
Ti, condenado pela Tua palavra final!
— Não penses,
Poeta, que a Mim contrariaste, semeando esperança.
Com tuas palavras
torna-te, pois, do Poema do mundo um verso.
Provas, nesta
feita, que és do Criador Imagem e Semelhança.
Foi Ele que, com Palavras,
construiu a Maior Poesia: o Universo.
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