Coluna - "Mulheres" Jornal Folha da Região 29/03/2009
Este texto deveria ter sido o primeiro, porque foi como tudo começou, mas o deixei para o final, para não se cansarem de pastelão. Esta passagem é minha, tão somente minha, ma se achar necessidade, pegue carona. Sempre cabe mais um na contra mão dos meus caminhos.
“Quem eu fui para fugir assim, banindo-me? Desesperada e louca, por tão pouco saber de mim mesma? A esmo, saí peregrinando e, num vão da minha sala, sem tê-lo visto, caí em mim. O mundo era estranho e havia os espelhos mostrando-me nós. Só, eu neles me vi. Não as aceitei e dali quis fugir. Num reflexo, um sorriso me foi dado e, dentro dele quis entrar. Uma voz, severa e forte, era, então, o passaporte obrigando-me a chegar.
Desequilibrada e sem suporte, me empurrei àquela morte e mais fundo me adentrei. Encontrei-me com muitos eus, estranhos e indulgentes. Se sou assaz valente, de indulto eu não preciso. Herdeira de muito viço, dotada de desejo em foice, saí a inventariar. Lá se foi aquele ‘eu’, sozinha, com o azorrague em cada mão, rasgar-me os eus unidos e ensinar-lhes a lição. Armada com a belicosidade do meu potencial, fui mau! Camuflei-me e, diante do conflito, a própria guerra declarei. Vi-me lançada a um lado que era meu e outro lado, também meu, desolado, lá ficou. Sem mim, aquele meu pedaço teria fim. Sim! Como teria. Oh, propriedade minha! Voltarei. Mas o que é isto, impedindo-me voltar àquele território? O que é isto que eu plantei em mim? Um lado separando outro como o muro de Berlim? Mas este já está destruído, o meu seria provisório? Vi uma muralha erguida por uma canalha bloqueando a travessia. Não podia derrubá-la e, estando uma bala, só por brincadeira, pratiquei tiro ao alvo. Eu estava bem a salvo, pois bastava- me a mim mesma.
Tomei certa distância e me pus em vigilância. Sentia tantos eus em minha sombra e, na ânsia de eliminá-los, lancei a minha granada. Nada os derrotava. Eram todos em um só e eu, sozinha em luta, de nenhum quis ter dó. Não fui embora. Era hora de ficar e demarcar minha trincheira. Desconheço-os. Vou aniquilá-los e romper os elos para, enfim, ser somente eu a dona de mim. Com verbos explosivos e o estopim em minha boca, àquela tropa eu gritei para não tentarem troca.
Os meus ‘eus’ eram as Mulheres. Amigas unidas para salvar-me. Queria mandá-las pros ares. Não hesitei. Cada uma nos seus lugares eu as pus. Era o começo do meu fim.
Quis exterminar as minhas mulheres tão diferentes, mas delas fiquei carente, à solidão fazia jus. Eu, um ser absoluto, exclui os relativos e, sem razão para ponderar vivi só, no porão de ‘pobre-star’. Eu me perdi dentro de mim. O meu desprezo me encontrou presa ao meu sorriso, já nem sabia mais quem eu era. Olhava e não me via. Ora, nem me conhecia no opaco do espelho! Medi do alfa ao ômega minha megaoperação, sem perdão, eu tomei conta de mim.
Estava presa dentro de mim e não conseguia me soltar, queria ver a luz do dia, outros eus poder achar. O nada que eu era dominava o meu ser, precisava me libertar, já não vivia em meu lar porque eu era toda ‘ego’, como prego numa cruz. Quando pensava em fugir, vinha um ‘eu’ me seduzir, me pôr em grades. Vivia de joelhos, mas não queria me adorar. Queria viver de verdade. Era mulher , logo precisava me livrar do meu sorriso.
Precisei coragem para sair aos tapas comigo mesma. Machuquei, fui machucada.
Mas minha amante era mais forte e me livrou de muitas mortes. Diante da catástase a minha máscara estilhaçou. Foi quando eu chorei. Descobri que falsifiquei meu próprio ouro. Queria minhas mulheres de volta, elas são o meu tesouro.
“Rogamos-te piedade, oh! peregrina sem fronteira. Nos aceite companheiras pra atravessar o seu deserto!”
Oh, sina! Tantas mulheres em sentinela querendo me ajudar e eu, vencendo os preconceitos, já as queria bem mais perto. Elas importam-se comigo e eu, ser tão projétil, queria me detonar. Foi quando dei finalidade à minha marreta. Que batalha ordinária! Larguei minha arrogância, ressuscitei minha criança e devolvi- me o que eu espoliei. Colei minhas frações, outrora divididas, e achei um novo rumo entre o sorriso e a saída. Eu me fui tão carcereira, separando os meus lados e as mulheres que eu sou.
Nas prisões que eu vivi e que me foram tão lição, você amiga, assistiu, um pouco, neste Jornal.
Reuni minhas mulheres e, hoje, somos uma Nação. Eu voltei pra minha morada e me fiz toda Universo . Voltei bem mais segura porque derrubei algumas paredes que eu mesma erguia. Doravante, eu “ mulheres” , haveremos ser mutantes e por onde nós andarmos seremos sala de estar. Resido em mim mesma ponderando divergências, meu sorriso não tem grades e, de espelhos não preciso. O velho paredão, eu o lancei ao chão, e poder me transitar na verdade do que sou é o que me faz tão diferença. Na presença das minhas mulheres, descobri que batalha bem perdida jamais fica em vão.”
Você, cara leitora, entenda como puder, mas foi nesta viagem em minha vida, que descobri que sou MULHERES exalando perfumes de flores, as mais diversas.
Agora, preciso terminar este texto porque minhas flores estão chorando. Elas precisam de lágrimas para fortalecer suas raízes e amadurecer os meus versos para continuarmos, eu e as minhas mulheres, sendo o Templo da nossa própria poesia.
Na terça-feira, dia 31, me despeço de você, mas já trago comigo a saudade dos brilhos dos seus olhos sobre as minhas letras.
Que a Boa Luz Divina ilumine a tua caminhada e a cubra de bênçãos. Obrigada pela oportunidade da companhia. Beijos. Rita Lavoyer.
Este texto deveria ter sido o primeiro, porque foi como tudo começou, mas o deixei para o final, para não se cansarem de pastelão. Esta passagem é minha, tão somente minha, ma se achar necessidade, pegue carona. Sempre cabe mais um na contra mão dos meus caminhos.
“Quem eu fui para fugir assim, banindo-me? Desesperada e louca, por tão pouco saber de mim mesma? A esmo, saí peregrinando e, num vão da minha sala, sem tê-lo visto, caí em mim. O mundo era estranho e havia os espelhos mostrando-me nós. Só, eu neles me vi. Não as aceitei e dali quis fugir. Num reflexo, um sorriso me foi dado e, dentro dele quis entrar. Uma voz, severa e forte, era, então, o passaporte obrigando-me a chegar.
Desequilibrada e sem suporte, me empurrei àquela morte e mais fundo me adentrei. Encontrei-me com muitos eus, estranhos e indulgentes. Se sou assaz valente, de indulto eu não preciso. Herdeira de muito viço, dotada de desejo em foice, saí a inventariar. Lá se foi aquele ‘eu’, sozinha, com o azorrague em cada mão, rasgar-me os eus unidos e ensinar-lhes a lição. Armada com a belicosidade do meu potencial, fui mau! Camuflei-me e, diante do conflito, a própria guerra declarei. Vi-me lançada a um lado que era meu e outro lado, também meu, desolado, lá ficou. Sem mim, aquele meu pedaço teria fim. Sim! Como teria. Oh, propriedade minha! Voltarei. Mas o que é isto, impedindo-me voltar àquele território? O que é isto que eu plantei em mim? Um lado separando outro como o muro de Berlim? Mas este já está destruído, o meu seria provisório? Vi uma muralha erguida por uma canalha bloqueando a travessia. Não podia derrubá-la e, estando uma bala, só por brincadeira, pratiquei tiro ao alvo. Eu estava bem a salvo, pois bastava- me a mim mesma.
Tomei certa distância e me pus em vigilância. Sentia tantos eus em minha sombra e, na ânsia de eliminá-los, lancei a minha granada. Nada os derrotava. Eram todos em um só e eu, sozinha em luta, de nenhum quis ter dó. Não fui embora. Era hora de ficar e demarcar minha trincheira. Desconheço-os. Vou aniquilá-los e romper os elos para, enfim, ser somente eu a dona de mim. Com verbos explosivos e o estopim em minha boca, àquela tropa eu gritei para não tentarem troca.
Os meus ‘eus’ eram as Mulheres. Amigas unidas para salvar-me. Queria mandá-las pros ares. Não hesitei. Cada uma nos seus lugares eu as pus. Era o começo do meu fim.
Quis exterminar as minhas mulheres tão diferentes, mas delas fiquei carente, à solidão fazia jus. Eu, um ser absoluto, exclui os relativos e, sem razão para ponderar vivi só, no porão de ‘pobre-star’. Eu me perdi dentro de mim. O meu desprezo me encontrou presa ao meu sorriso, já nem sabia mais quem eu era. Olhava e não me via. Ora, nem me conhecia no opaco do espelho! Medi do alfa ao ômega minha megaoperação, sem perdão, eu tomei conta de mim.
Estava presa dentro de mim e não conseguia me soltar, queria ver a luz do dia, outros eus poder achar. O nada que eu era dominava o meu ser, precisava me libertar, já não vivia em meu lar porque eu era toda ‘ego’, como prego numa cruz. Quando pensava em fugir, vinha um ‘eu’ me seduzir, me pôr em grades. Vivia de joelhos, mas não queria me adorar. Queria viver de verdade. Era mulher , logo precisava me livrar do meu sorriso.
Precisei coragem para sair aos tapas comigo mesma. Machuquei, fui machucada.
Mas minha amante era mais forte e me livrou de muitas mortes. Diante da catástase a minha máscara estilhaçou. Foi quando eu chorei. Descobri que falsifiquei meu próprio ouro. Queria minhas mulheres de volta, elas são o meu tesouro.
“Rogamos-te piedade, oh! peregrina sem fronteira. Nos aceite companheiras pra atravessar o seu deserto!”
Oh, sina! Tantas mulheres em sentinela querendo me ajudar e eu, vencendo os preconceitos, já as queria bem mais perto. Elas importam-se comigo e eu, ser tão projétil, queria me detonar. Foi quando dei finalidade à minha marreta. Que batalha ordinária! Larguei minha arrogância, ressuscitei minha criança e devolvi- me o que eu espoliei. Colei minhas frações, outrora divididas, e achei um novo rumo entre o sorriso e a saída. Eu me fui tão carcereira, separando os meus lados e as mulheres que eu sou.
Nas prisões que eu vivi e que me foram tão lição, você amiga, assistiu, um pouco, neste Jornal.
Reuni minhas mulheres e, hoje, somos uma Nação. Eu voltei pra minha morada e me fiz toda Universo . Voltei bem mais segura porque derrubei algumas paredes que eu mesma erguia. Doravante, eu “ mulheres” , haveremos ser mutantes e por onde nós andarmos seremos sala de estar. Resido em mim mesma ponderando divergências, meu sorriso não tem grades e, de espelhos não preciso. O velho paredão, eu o lancei ao chão, e poder me transitar na verdade do que sou é o que me faz tão diferença. Na presença das minhas mulheres, descobri que batalha bem perdida jamais fica em vão.”
Você, cara leitora, entenda como puder, mas foi nesta viagem em minha vida, que descobri que sou MULHERES exalando perfumes de flores, as mais diversas.
Agora, preciso terminar este texto porque minhas flores estão chorando. Elas precisam de lágrimas para fortalecer suas raízes e amadurecer os meus versos para continuarmos, eu e as minhas mulheres, sendo o Templo da nossa própria poesia.
Na terça-feira, dia 31, me despeço de você, mas já trago comigo a saudade dos brilhos dos seus olhos sobre as minhas letras.
Que a Boa Luz Divina ilumine a tua caminhada e a cubra de bênçãos. Obrigada pela oportunidade da companhia. Beijos.
Imagem: Taisluso.bloggspot.com / Mulheres - Marilia Chartune